sábado, 5 de fevereiro de 2022

Tô fazendo a minha parte, Portuguesa

- Titio, posso te fazer uma pergunta? 

Foi assim que Maria Rita, 7 anos, tocou em um dos assuntos mais importantes da humanidade. Ela queria saber para qual time torcer, qual distintivo iria levar no seu coração. Este é o momento mais esperado por todo pai que se preze, mesmo ela sendo minha enteada. Enteada ou filha, tanto fazia. O momento mágico na vida de um torcedor havia finalmente chegado.

Por causa da pandemia, o contato da Maria Rita com o futebol tem sido longe do estádio, pela TV, isso quando ela quer. Até outro dia, ela pouco ou nada se interessava pelo esporte bretão, a não ser quando o padrinho dela, o craque do futsal Danilo Baron (que começou na Portuguesa), está em quadra, ou quando quer saber para quem estou torcendo só para torcer contra porque é divertido.

E é.

Mas depois de uma conversa com os coleguinhas no prédio, foi despertada a necessidade de pertencer a algo. De vestir uma camisa igual. De ser como aquele que tem como espelho. E, no caso, o espelho sou eu.

Grande responsabilidade essa, que me colocou imediatamente num dilema moral. Afinal, devo incentivá-la a dividir as arquibancadas comigo e cumprir meu papel de educador ou zelar pela sua felicidade? Convenhamos, torcer pela Portuguesa e ser feliz pelos seus feitos desportivos não costumam ser condições que andam juntas.

Mas e daí?

E daí que dei toda liberdade para ela escolher. Até que, num belo dia, estávamos jantando fora e ela viu uma TV ligada:

- Tá tendo jogo, titio. Você não vai ver?
- Não quero não. Você quer?
- É da Portuguesa?
- Não, é São Paulo e Palmeiras.
- Ah, então não quero.

Ontem, ela me perguntou quando o NOSSO time joga. Ontem, pela primeira vez, viu o time que ela escolheu para torcer em campo, mesmo pela TV. Nem sabia direito do que se tratava, mas já sabe bem o significado de se sentir fazendo parte de algo.

- Qual é a Portuguesa, titio?
- A de vermelho, Maria.
- Ah… posso torcer para empatar? É que assim ninguém fica triste.

Ela ainda não entendeu como funciona, mas, aos sete anos, não se trata de vencer ou não, e sim de desfrutar. O resultado do jogo com o São Bento – um até que divertido 0 a 0 – não fez a menor diferença. O que valeu para ela foi se sentar ao meu lado e se divertir. E rir. E falar “Vai! Vai! Vai! Olé! Sai daí”, mesmo que para o lado errado.

Se tudo der certo, vai se apaixonar pela primeira vez na vida, assim como aconteceu comigo também aos 7 anos, quando meu Tio Albano me levou para ver a Lusa ganhar do Marília no Canindé, em 1985.

Fiz a minha parte, Portuguesa. Falta você fazer a sua. E nem precisa vencer. Basta me ajudar a fazer dela uma criança feliz.

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