*Por Humberto Pereira da Silva
Dia desses, deparei-me com uma notícia em um dos maiores sites dedicados ao esporte, sobretudo ao futebol. Era sobre o formato do novo Mundial de Clubes, que deverá ser realizado em meados de 2025. Sintetizando, com 32 equipes, o modelo de disputa será semelhante ao que vemos nas Copas do Mundo de Seleções desde 1998: 32 participantes divididos em 8 grupos com quatro integrantes, dos quais avançarão os dois melhore classificados para as oitavas de final, em jogo único e eliminatório.
O que me causou estranheza foram os termos usamos na matéria. "Quantidade de gols"? Na verdade, gols pró ou maior número de gols marcados. Esse o termo usual para quando equipes ficam empatadas em pontos, confronto direto e saldo de gols.
Play-off? Bem, se entendi direito, é o "mata-mata". De qualquer forma, não se esclarece. O play-off pode ser um "mata-mata", um jogo só eliminatório. Mas também uma melhor de três - ou de cinco. Ou mesmo de sete, como acontece no basquete norte-americano. Só a palavra play-off, e a informação fica incompleta. Suponho, no contexto que se apresentou, que seja nosso usual em bom português "mata-mata". Mas veja, mesmo nosso usual "mata-mata" pode ser em duas partidas. Ou seja, como escrito, parece um hieróglifo egípcio a ser decifrado por quem tem pouca ou nenhuma familiaridade com o tema.
O que se extrai? Primeiro: ninguém assina o texto. É da redação e o portal fica com a responsabilidade. Uma hipótese provável: um ou dois estagiários receberam material de divulgação e ficaram encarregados de rabiscar uma redação pra ontem. A pressa como variável para descuidos numa matéria a ser redigida com mais cuidado. O link sendo aberto o algoritmo é disparado e isso faz felicidade aos anunciantes. Num mundo tão rápido e alucinado, milhares de leitores abrirão o link e passarão os olhos pela "notícia". Isso basta para os interessados. Mais sobre os hipotéticos estagiários. No caso do futebol, provável desconhecimento de palavras usuais utilizadas pela imprensa: gols pró e mata-mata.
Meu aluno Marcos Teixeira, editor deste blog, acha pouco provável e sua suspeita será abordada aqui logo abaixo.
Segundo ponto a se extrair - e nisso novamente a pressa como variável. O uso de ferramentas de Inteligência Artificial para a produção de textos. Recebido o material de divulgação em inglês, e o (s) estagiário (s) apenas apertariam algumas teclas do computador e teriam o texto pronto.
Insinuações levianas? Todo texto, toda redação, se expõe a interrogações sobre como foram concebidos. No caso, há pontos que geram desconfianças quando a leitura vai além de um olhar de relance. Não tenho, nem terei resposta definitiva, mas uma vez que a leitura me causa estranhamento pelo uso de termos incomuns, ponderar sobre o porquê desse uso me parece uma posição justificável no quesito ética em jornalismo.
Quer dizer: abstraindo-se claro, o caso, o risco de cada vez mais não termos certeza de que o que lemos é uma espécie de Frankenstein feito às pressas para uma massa que lê como composta por sonâmbulos.
*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo
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