quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Inesquecível

Eu freqüento estádios de futebol desde os 7 anos, idos em 1985. Ainda lembro-me da primeira vez em que eu fui a um. Foi contra o Marília, numa belíssima tarde de sábado. Meu tio Albano chegou ao bar do meu pai (como todo bom português meu pai é comerciante) e anunciou:

-Ó, Tino, eu vou levar o Marquinhos ao jogo da Lusa!
-Ué! Vais lá fazer o quê, ó pá?- respondeu perguntando meu querido pai, estranhando a novidade.
-O miúdo já tem 7 anos. Já está na hora de ir ver a Lusa, antes que vire corintiano.

Já imaginaram isso? Eu, corintiano?! Ainda bem que meu tio intercedeu antes de qualquer risco.

Ora muito bem! Fomos e a Lusa ganhou por duas bolas a zero, como se diz em Portugal, golos de Toquinho e Toninho, este o meu primeiro ídolo luso. E o primeiro herói é inesquecível, assim como o primeiro amor - seu nome era Fátima, uma menina com quem eu estudava, que - é lógico! - nunca soube disso. 

Dali a uma semana, voltamos ao Canindé, para a partida contra o São Bento, de Sorocaba. E ganhamos. 5 a 1! Fora o baile! Toninho (2), Jones, já falecido (também 2) e Edu fizeram nossos golos. O do São Bento, eu não faço idéia, nunca fiz (e quem faria?). Foi a minha primeira goleada. Desta vez, tivemos o “reforço” do meu irmão mais velho, Mário, o maior “pé-frio” que já tive a oportunidade de conhecer, pois aquela foi a primeira e única vitória da Lusa que ele acompanhou no estádio em mais de 20 anos e o tio Albano bateu o carro na volta.

Até os 14 anos, eu somente ia acompanhado por algum parente mais velho, seja ele o meu pai, ou algum dos meus tios (somos todos lusos, graças a Deus). Um dia, eu disse à minha mãe que iria sozinho ao Canindé assistir à Portuguesa contra a Ferroviária. Minha mãe, é claro, duvidou:

-Você? Ah, tá bom! Você nunca vai sozinho ao estádio!

Pois é, eu fui. E vencemos por 2 a 1. E de virada! Golos de Marquinhos e Caio, batendo pênalti e “comemorando” falando barbaridades para a até então insatisfeita torcida, inclusive eu.

Tudo na vida tem a primeira vez, e é inesquecível, como o primeiro ídolo, a primeira vitória, a primeira goleada. E a primeira final, que foi contra o São Paulo, no Paulistão de 1985. Perdemos por 3 a 1, e tínhamos mais time.

Marcaram o grande Careca, por duas vezes, e Dom Daryo Pereira. Jorginho fez o gol de honra da Lusa, quando já perdíamos por 3 a 0, e só eu levantei para comemorar.

A primeira derrota também é inesquecível, e como dói.

Passou-se, então, 22 lentos e longos anos para que eu novamente pudesse assistir, no estádio, a uma decisão, até porque em 1996 caiu o mundo em forma de água e eu fiquei ilhado, a caminho do Morumbi. E pela primeira vez, decidiríamos em nosso próprio campo! Evidentemente eu não poderia deixar de ir. E fui, ou melhor, fomos: Três primos, dois amigos, eu e... meu irmão! Imaginem: meu irmão, o “pé-frio”.

Não é implicância minha, não. Outro dia, fomos ver Lusa x Náutico, pela fase final da série B de 2005, com o pé na Primeirona, e perdemos! No ano seguinte, jogo de vida ou quase morte contra o Ceará, valendo a sobrevivência (quem diria?) na Segundona. Lá fomos nós, e nova derrota. Pois é, o pé do Mário é de lascar.

Mas voltemos ao jogo: Um domingo impecável, 10 horas da manhã (isso lá é hora de ter jogo?). Chegamos em cima da hora, e não havia mais ingressos (olha o pé-de-gelo em ação). Fomos, então, ver o jogo no bar da sueca – quem conhece o Canindé sabe onde fica. Quando faltava pouco para o fim da 1ª etapa, ainda um 0 a 0 arrastadíssimo, fomos dar uma espiada num jogo de malha da equipe da Lusa, que é imbatível. Foi só a gente encostar pra ver o jogo e... Pronto! 4 a 0 pra equipe do Santa Amália - acho que era esse o adversário, mas quem se importa? 

Pra evitar maiores tragédias, tiramos o Mário de lá e fomos tentar a sorte grande e entrar no jogo. E não é que conseguimos? E nas numeradas, na faixa, e graças ao Mário! Foi ele quem conversou com um conselheiro que estava no portão. E ainda vimos os 4 golos da final, golos estes que me deram o meu primeiro título de campeão. E que delícia é ser campeão. Melhor que uma boa posta de bacalhau com batatas no azeite, acompanhadas por um caneco de vinho maduro ao som das desgarradas do Alto Minho, ou um fado da Amália Rodrigues.

Tudo na vida tem a primeira vez, e é inesquecível, como o primeiro ídolo, a primeira vitória, a primeira goleada, ou a primeira derrota, o primeiro amor (por onde andará a Fátima?), o primeiro álbum de figurinhas completo, e o incompleto também, e é claro, o derretimento da camada de gelo do pé do meu irmão.

Coisas do aquecimento global.

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