Desde sexta-feira da semana retrasada, dia 19 de junho, todos os treinadores dos clubes da primeira divisão do Brasil estão com as barbas de molho. O motivo é a demissão do comandante sãopaulino Muricy Ramalho. Mas ele não está sozinho na fila do Seguro Desemprego. Uma semana depois, do outro lado do muro, foi a vez do palmeirense Vanderlei Luxemburgo esvaziar o armário.
Em ambos os casos a imprensa foi, de um modo geral, pega de surpresa. Mas quem acompanhou o dia-a-dia dos clubes, certamente, não ficou surpreso. No fidalgo São Paulo, a situação do técnico ficou muito difícil após a eliminação na Libertadores, para o Cruzeiro, em pleno Morumbi. E como é notório, a menina-dos-olhos não só dos pomposos cardeias do clube da Vila Sônia (sim, senhor!) como de toda a torcida é a competição sulamericana. O resto é o resto, como diria o fanfarrão e boquirroto presidente Juvenal Juvêncio. E daí que o Muricy venceu três brasileiros seguidos? E daí que apenas Rubens Minelli alcançara tal feito? Sem Libertadores, não apetece.
Pulando o muro, na (será?) Academia de futebol o mesmo furação também passou por lá. Após classificações quase que espíritas nas fases anteriores da Libertadores, bastava ao Palmeiras vencer o Nacional, em Montevidéu. Pra quem havia eliminado o Colo-Colo, nos acréscimos, em Santiago e o Sport, em noite de milagres de São Marcos, não parecia tarefa das mais inglórias. Enfim, como se sabe, a classificação não veio e o maior responsável, apesar dos erros da arbitragem e dos golos desfeitos pelo roliço Obina, foi o Luxa.
A direção do alviverde precisava apenas de um motivo, e o experiente treinador, inexplicavelmente, entregou a própria cabeça numa bandeja verde ao reclamar, publicamente, da parceira Traffic e do atacante Keirrison, que afastou-se por conta própria para tratar da ida ao Barcelona. Oficialmente, de acordo com o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, houve quebra de hierarquia. A minha impressão, desde que voltou ao clube, é que Luxemburgo ainda colhe o que plantou ao desmontar o time do Palmeiras e se mandar de mala, cuia e comissão técnica para o Cruzeiro, em 2002. Como o Palmeiras caiu, naquele ano, já viu. A coletividade italiana não aceita traição, capiche?
São Paulo e Palmeiras são rivais históricos. Durante a Segunda Guerra, em 1942, os sãopaulinos tentaram até tomar o Parque Antártica do Palestra Itália, que teve que virar Palmeiras porque ficou proibido qualquer nome que ligasse a entidade aos países do Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Recentemente houve o caso do gás no vestiário tricolor, na semifinal do Paulista de 2008. Os sãopaulinos são notórios por sua suposta superioridade, julgando-se maiores por serem seis vezes campeões nacionais e três vezes campeões mundiais, além de ser o clube da elite paulistana. Já os palestrinos, como bons italianos que são, têm o sangue quente, apesar de serem tidos como bonachões.
Agora, como bons co-irmãos, unem-se na mesma precipitação: descartar os comandantes, a despeito das conquistas e dos projetos em andamento.