quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Pílulas amadoras -24

*Por Humberto Pereira da Silva 

PÍLULAS AMADORAS 

Sobre Brasil versus Uruguai, o empate com a Celeste praticamente garantiu a vaga brasileira para a Copa 2026. Os resultados dessa Data FIFA, aliás, praticamente definiram os representantes de forma direta da América do Sul: Argentina, Uruguai, Equador, Colômbia, Brasil e Paraguai. 

Comemorar a quase classificação? Sim, óbvio, mesmo com o aumento de vagas, apurando diretamente seis dos 10 postulantes, e logo iremos a isso. Por diversos motivos, há um equilíbrio nessas Eliminatórias. Ao término da rodada dupla - à qual nos habituamos a chamar de Data FIFA -, a Argentina lidera. E tudo indica, manterá a cimeira na próxima. 

Mas, vejamos, por momentos, ela sentiu a sombra da Colômbia. Ao término, fazendo as contas, perdeu do Paraguai e em Buenos Aires não goleou o frágil Peru, de quem ganhou, aos olhos mais atentos, com esperada dificuldade. A Colômbia, por sua vez, fecha a Data FIFA, em que poderia liderar, na quarta posição. 

Então, o Brasil decepcionou nesses dois jogos? Ora, a decepção está obrigatoriamente ligada à expectativa e o Brasil jogou o que é a realidade atual do futebol brasileiro frente ao equilíbrio entre as seleções do continente. 

É impressionante ver a quantidade de jogadores das seleções da América do Sul que atuam no Brasil, cujos times dominam as competições continentais. Salta aos olhos a quantidade de jogadores da América do Sul que atuam nas principais ligas da Europa. 

TODOS os comentários que li sobre Brasil e Uruguai parecem ignorar essa realidade. Assim, simultaneamente, alguém lembra que Valverde é estrela no Real Madrid, e não menciona as ausências de Arrascaeta e De la Cruz, estrelas aqui no Flamengo. Isso sem contar as retiradas recentes de Cavani e Suárez, titulares dos cisplatinos nas últimas três Copas do Mundo. 

No afã de torcedor, jogar contra o Uruguai, e ganhar, seria como 40, 50 anos atrás ter pela frente Venezuela ou Bolívia. E comentários de torcedor sem essa constatação funcionam como um bom tempero para que, sob pressão de emular escretes do passado, a seleção "novamente" decepcione.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Pílulas amadoras - 23

*Por Humberto Pereira da Silva


Dia desses, deparei-me com uma notícia em um dos maiores sites dedicados ao esporte, sobretudo ao futebol. Era sobre o formato do novo Mundial de Clubes, que deverá ser realizado em meados de 2025. Sintetizando, com 32 equipes, o modelo de disputa será semelhante ao que vemos nas Copas do Mundo de Seleções desde 1998: 32 participantes divididos em 8 grupos com quatro integrantes, dos quais avançarão os dois melhore classificados para as oitavas de final, em jogo único e eliminatório. 

O que me causou estranheza foram os termos usamos na matéria. "Quantidade de gols"? Na verdade, gols pró ou maior número de gols marcados. Esse o termo usual para quando equipes ficam empatadas em pontos, confronto direto e saldo de gols. 

Play-off? Bem, se entendi direito, é o "mata-mata". De qualquer forma, não se esclarece. O play-off pode ser um "mata-mata", um jogo só eliminatório. Mas também uma melhor de três - ou de cinco. Ou mesmo de sete, como acontece no basquete norte-americano. Só a palavra play-off, e a informação fica incompleta. Suponho, no contexto que se apresentou, que seja nosso usual em bom português "mata-mata". Mas veja, mesmo nosso usual "mata-mata" pode ser em duas partidas. Ou seja, como escrito, parece um hieróglifo egípcio a ser decifrado por quem tem pouca ou nenhuma familiaridade com o tema.

O que se extrai? Primeiro: ninguém assina o texto. É da redação e o portal fica com a responsabilidade. Uma hipótese provável: um ou dois estagiários receberam material de divulgação e ficaram encarregados de rabiscar uma redação pra ontem. A pressa como variável para descuidos numa matéria a ser redigida com mais cuidado. O link sendo aberto o algoritmo é disparado e isso faz felicidade aos anunciantes. Num mundo tão rápido e alucinado, milhares de leitores abrirão o link e passarão os olhos pela "notícia". Isso basta para os interessados. Mais sobre os hipotéticos estagiários. No caso do futebol, provável desconhecimento de palavras usuais utilizadas pela imprensa: gols pró e mata-mata. 

Meu aluno Marcos Teixeira, editor deste blog, acha pouco provável e sua suspeita será abordada aqui logo abaixo.

Segundo ponto a se extrair  - e nisso novamente a pressa como variável. O uso de ferramentas de Inteligência Artificial para a produção de textos. Recebido o material de divulgação em inglês, e o (s) estagiário (s) apenas apertariam algumas teclas do computador e teriam o texto pronto. 

Insinuações levianas? Todo texto, toda redação, se expõe a interrogações sobre como foram concebidos. No caso, há pontos que geram desconfianças quando a leitura vai além de um olhar de relance. Não tenho, nem terei resposta definitiva, mas uma vez que a leitura me causa estranhamento pelo uso de termos incomuns, ponderar sobre o porquê desse uso me parece uma posição justificável no quesito ética em jornalismo. 

Quer dizer: abstraindo-se claro, o caso, o risco de cada vez mais não termos certeza de que o que lemos é uma espécie de Frankenstein feito às pressas para uma massa que lê como composta por sonâmbulos.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo