Sábado, após 11 intermináveis dias de intervalo entre os jogos da Portuguesa, tive um compromisso inadiável e inevitável. Fui tirar as medidas da roupa que usarei no casamento do meu irmão, do qual serei padrinho. Justamente no mesmo dia e hora em que a Lusa jogava contra o Sport, na Ilha do Retiro. E lá estávamos nós, meu pai, meu irmão e eu, em São Bernardo do Campo, para provar os fatos da cerimônia.
Apesar de todos sermos lusos, eu era o mais incomodado por não poder assistir à partida. Nada que não pudesse disfarçar, mas depois de 11 dias sem um jogo de futebol sequer que prestasse, não ver a Barcelusa em ação era um castigo, ainda mais em um jogo tão complicado. O jeito, então, foi ouvir no bom e velho rádio, companheiro inseparável de jornadas épicas e, naquele momento, meu único aliado.
Entre uma passada de fita em volta do pescoço e uma piada descabida do meu pai, grão-mestre em contar piadas de gosto duvidoso e a quem puxei neste aspecto, eu ficava de ouvidos no que se passava na Ilha do Retiro, lugar de boas lembranças para nós lusos. O jogo, como era de se esperar, estava difícil, ainda mais porque o trinco Guilherme não estava em campo. Assim, o chute de longe, tão usado durante o certame, deixou de ser uma das armas mais postas em campo.
No fim do primeiro tempo, após alguns sustos, devidamente registrados por todos os que estavam no local, e todas as medidas apanhadas, finalmente fomos embora, sem antes parar num restaurante para marcarmos o almoço do Dia dos Pais, que caiu no mesmo dia do aniversário da Lusa. Para minha alegria, havia uma televisão ligada no jogo. Tratei, então, de aboletar-me ao pé do balcão e ver o jogo. Para minha surpresa, tinha lá outro patrício com a camisola rubro-verde.
Enquanto algum engraçadinho insinuava que iria tirar uma foto para registrar o alto número de lusitanos (estávamos em quatro) no local, o ótimo Marco Antonio batia falta como quem coloca com a mão para abrir o placar e começar a encaminhar a quinta vitória seguida no campo do adversário, a décima primeira em 16 jogos. Depois, só para dar um pouco de graça, o jogo pegou fogo e vencemos por três golos a dois, com Henrique e Edno anotando os outros tentos lusos. Os do Sport eu nem me lembro de quem fez, pra ser bem sincero.
Apesar da alegria pela vitória, descobrimos que o restaurante não abriria no domingo. Assim resolvemos comprar umas sardinhas, uns tremoços, algumas cervejas e uma garrafa de um bom vinho verde de Castelo de Paiva e fomos comemorar o Dia dos Pais na casa do nosso, à margem de todo e qualquer jogo ruim que estivesse passando. Só depois me lembrei que na Espanha se enfrentariam Real Madrid e Barcelona, que jogam um futebol quase tão bonito quanto o nosso. Sabem como é, né? Depois de ver a Lusa em ação é normal o padrão de exigência se elevar.
No fim das contas, comemoramos as datas e ficamos com a certeza de que estaremos todos impecáveis no dia do casório, tanto quanto o irretocável futebol da Portuguesa.