quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pra depois da festa

O Brasil está em festa. O Rio de Janeiro foi escolhido pra sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Pela primeira vez a América Latina receberá os jogos idealizados pelo Barão Pierre de Coubertin. Para tanto, a Cidade Maravilhosa desbancou a americana Chicago, a japonesa Tóquio e, enfim, Madri, a capital espanhola.

Motivos para comemorar são muitos: visibilidade, orgulho, prosperidade, a festa no nosso quintal. No entanto, razões para, desde já, botar as barbas de molho também existem. E não são poucas.

Assim, de partida, podemos citar os problemas estruturais da capital do Rio: trânsito caótico, transporte público ineficiente, poluição da Baía de Guanabara. Sem contar o maior dos abacaxis a serem descascados, que é a questão da segurança pública.

É evidente que serão feitos investimentos monstruosos nessas áreas. Ganha um bolinho de bacalhau quem adivinhar de onde sairá boa parte dos recursos. Quem, por acaso, disser "cofres publicos" tem, digamos, 171% de chances de acerto. E é aí onde mora o perigo.   

Os jogos estão orçados, inicialmente, em R$ 29 bilhões. Digo "inicialmente" porque, sem medo de errar, a conta ficará mais cara. Resta saber quanto. O Pan de 2007 foi orçado em cerca de quinhentos milhões de reais, mas saiu por quase R$ 5 bilhões. Quer dizer, fizeram festa com o chapéu alheio. O nosso, pra variar.
     
Não bastasse isso, outra questão que me deixa com um circo de pulgas atrás da orelha é o que será feito com o legado da Olimpíada. Durante a competição tudo funcionará que é uma beleza, pois o Brasil não passará recibo de incompetência. E depois? O que garante que os investimentos necessários para manter a cidade funcionando serão feitos?

Minha desconfiança não é gratuita. Quando a mesma Rio de Janeiro pleiteou a realização dos Jogos de 2004, prometeram despoluir a Baía de Guanabara. Como Atenas levou, não fizeram. Num português bem claro, a preocupação era com a Olimpíada, não com a cidade. É por atitudes assim que não consigo ver com olhos otimistas a feitura de eventos deste porte em países como o nosso. Deve-se primeiro arrumar a casa. Depois que estiver tudo em ordem é que se convida os visitantes. Ora, a casa deve estar arrumada, independentemente de termos visita. Se arrumarmos só por causa dos convidados, quando estes se forem a bagunça voltará a imperar.

De antemão, o que podemos ter de certeza é que haverá um salto de qualidade "nunca-visto-antes-na-história-do-esporte-deste-país". No mais, agora que a festa inicial já passou, olho vivo! Afinal, como já alertou o grande Mauro Beting, "será uma festa para muitos, mas uma farra para poucos."

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