domingo, 5 de janeiro de 2014

O Pantera Negra



De repente o dia ficou mais triste. Morreu Eusébio, o Pantera Negra. Não o "Pelé europeu", como ele mesmo abominava ser chamado. Primeiro por ser africano, de Moçambique, onde deu os primeiros chutes numa bola pelas ruas de Lourenço Marques, atual Maputo, onde nasceu. Depois, porque queria evitar comparações com o Rei. Curiosamente vestia a camisa de um time que lembrava o então maior rival do Benfica, o Sporting de Lourenço Marques.

Mas foi o Benfica que o levou, pelas mãos de Béla Guttmann. Os míopes dirigentes são paulinos da época não acreditaram, mas a gente encarnada comprou a ideia e levou, escondida na caçamba de uma picape, a joia que mais brilhou vestindo seu manto.

Com ele, o Benfica, que já era campeão europeu, virou uma esquadra mítica. Do mesmo quilate do Real Madrid de Gento, Puskas e Di Stéfano; ou o Santos de Pelé e cia; era o Benfica de Eusébio um timaço, mas assim como apenas Pelé bastava para tornar o Santos lendário, as camisolas encarnadas da equipa da Pantera Negra eram temidas por ter, dentro de uma delas, o maior.

Eusébio era o tipo de pessoa que a gente tem a impressão de que nunca morrerá. "Existem pessoas que não deveriam morrer" é a frase que está escrita no site do Benfica neste triste domingo. Na estátua em tamanho natural que o imortalizou, à entrada da Catedral da Luz, o palco onde o rei do futebol de Portugal mais brilhou, é possível ver que o carinho dos adeptos transcendeu, excedeu, virou devoção. 

Devoção: a estátua de Eusébio é coberta por homenagens. Na cabeça, 
a coroa que mostra quem é o rei do futebol português. (EFE/EPA/Pedro Nunes)
O mundo hoje chora, atônito, surpreso, o passamento de um dos grandes gênios da humanidade. Despediu-se hoje um Chopin, um Mozart, um Sabin, um Galileu. O futebol, cada vez mais midiático, quadrado, insosso, pasteurizado e cheio de craques de 15 minutos e de jogos fáceis, perdeu um pouco da essência que restava. Ficou sem graça. Morreu Eusébio.  

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