sexta-feira, 5 de junho de 2020

Benfica 0 x 0 Tondela - Ó, tempo, volta pra trás

PERSEGUIÇÃO Gabriel corre atrás de Richard, simbolismo de um
Benfica que precisa correr para a frente em busca do passado
 que teima em não voltar (Foto: Gualter Fatia)
Ó, tempo, volta pra trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi
Ó, tempo, volta pra trás
Mata as minhas esperanças vãs
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs
A antiga canção de Antonio Mourão pede para o tempo voltar para trás e devolver as alegrias de quem as viveu, mas já não as tem. Certamente os adeptos benfiquistas cantariam os versos que abrem a velha marchinha no Estádio da Luz se lá estivessem.
Quem viu o jogo nem terá notado diferença entre o time que fez a última partida antes da parada de quase 90 dias da Liga (1-1 com o Vitória de Setúbal) e o que esteve em campo na retomada, apesar das alterações no 11 inicial. Segue a previsibilidade, a dificuldade em explorar os corredores e para achar espaços em defesas fechadas, como têm sido as encontradas pelos de Bruno Lage.
Não significa, porém, que chances tenham faltado. Com menos talento à disposição, é normal que os do Norte tenham sofrido mais os efeitos dos quase três meses com trabalhos condicionados. Ainda assim, o grande responsável pelo empate que travou o ataque à liderança da Liga após a derrota do Porto pode atender pelo mesmo nome de sempre: Bruno Lage.
Os três minutos que bastaram para que Rafa Silva colocasse Cláudio Ramos para trabalhar deram a impressão de que a sorte sorriria para os mais de 20 mil cachecóis nas bancadas da Luz, mas foi só impressão. O time segue travado, lento, com a presença de Weigl obrigando praticamente todo o setor criativo a mudar o comportamento, nem sempre favorecendo as características de cada um.
O retorno de Gabriel poderia significar que os passes rompedores de linha apareceriam com frequência. Com o alemão, porém, ele teve que compor mais atrás a marcação. Assim, Pizzi seguiu isolado à beira do campo, impedindo o 21 de andar à espreita de um passe ou ele mesmo a fazê-lo ao pé da área. Do outro lado, Rafa Silva até é opção constante, mas a bola mal chega porque quem poderia acioná-lo estava mais preocupado em não deixar Weigl sobrecarregado. Desta forma, os dois melhores jogadores do time, Pizzi e Rafa, não rendem o que poderiam.
Mesmo quando Weigl saiu, o time seguiu mal. Sem a frescura inicial nas pernas, o time passou a contar com dois centroavantes, quando o problema não era não ter a referência na área, já que Vinicius estava lá. Com Dyego Sousa a compor a dupla de torres na área, o problema passou a ser abrir uma defesa postada toda atrás, e que mal arriscava um contragolpe.
No fim, coube a Jota tentar dar amplitude ao ataque, mas a bola seguiu rondando mais pelo meio. E, apesar das duas bolas atiradas à trave e o sem número de hipóteses que, quando não eram travadas pelo goleiro, havia uma anca ou um pé salvador, poucas vez houve um placar tão fácil de adivinhar quanto o 0 a 0, resultado previsível para um time cuja previsibilidade impediu que deixasse o relvado na liderança, ainda mais quando Vinicius e Pizzi, que juntos somam 29 golos, já estavam no banco, com máscaras à fuça e o coração à garganta, como estariam os donos dos 21.116 cachecóis que, sem lá muito sucesso anímico e visual, fizeram as vezes na Catedral da Luz.

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