sexta-feira, 5 de junho de 2020

Famalicão 2 x 1 Porto - sobrou disposição, faltou inteligência

NEM QUERO VER A lamentação pela derrota que
 pode custar o título (José Coelho/Reuters)
A Liga Portuguesa voltou ontem depois de 87 dias da última rodada antes da parada por conta da pandemia e o líder da prova esteve em campo com a mesma disposição demonstrada até a interrupção, quando o coronavírus entrou em campo. Contra o Famalicão, que liderou a competição nas oito primeiras rodadas, até perder a liderança para o próprio time de Sérgio Conceição, a estratégia foi a mesma usada naqueles 3 a 0: sufocar a saída de bola da turma do João Pedro Sousa, um time que gosta de construir desde trás. 

Teria funcionado se Marega não fosse Marega ou o pé de Sérgio Oliveira estivesse em um dia normal. Ou então se as soluções para render os ausentes Alex Telles (suspenso) e Marcano (lesionado) não fossem, respectivamente, Manafá e Pepe, destros que tiveram que atuar pela esquerda. No caso do primeiro, nem à direita resolve. 

O Porto é um time objetivo, mas que sofre de falta de imaginação. Para completar, quase três meses sem jogar, com treinos condicionados às limitações impostas pelo distanciamento social deixaram o time sem pernas e pulmões para reagir depois que o quase sempre seguro Marquesín saiu jogando errado e deu o primeiro gol aos donos da casa, pelos pés do ótimo Fábio Martins. A partir daí, o 4-4-2 com as linhas altas para tomar o campo de defesa adversário se transformou num negócio sem números que possam descrever e algo só aconteceria na marra, ou na falta de gás dos contrários, que fatalmente aconteceria. E aconteceu faltando pouco mais de 20 minutos para o fim, quando o cruzamento preciso de Sérgio Oliveira achou um Corona (sem piadas aqui) que já se arrastava em campo, tanto que precisou ser atendido por causa das inevitáveis câimbras logo após ter empatado o jogo. 

Só que a noite não era dos líderes. Três minutos depois, o que faltou de fôlego aos portistas sobrou de espaço para Pedro Gonçalves avançar por duas dezenas de metros sem ser incomodado e soltar a tamanca da entrada da área. 

Faltavam 12 minutos ainda para o 90, e Conceição já contava com fôlego novo no relvado cercado pelo vazio das bancadas, embora houvessem membros da Super Dragões reunidos do lado de fora. Só que, se o fôlego esteve renovado com as entradas de Aboubakar e Zé Luiz, faltava oxigenar também as ideias, coisa que nenhum dos dois pode proporcionar. 

Como rescaldo do retorno, Sérgio Conceição, que reclamou da arbitragem ao fim do jogo, mas não levou em consideração que houve um pênalti claro a ser marcado para cada lado, terá que explicar por que, numa partida em que, além das ideias para abrir uma defesa nem tão fechada assim, fez apenas duas das cinco substituições possíveis. Afinal, apontar o dedo sem levar em consideração os próprios erros é tão claro quanto, em um país em que morrem 15 pessoas por dia por causa do Covid-19, a volta do futebol ser absolutamente questionável. 

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