sexta-feira, 5 de julho de 2024

PORTUGUESA - O desafio de sobreviver às saídas dos destaques

DE VOLTA AO RADAR O despertar do interesse dos rivais mostra a evolução do 
trabalho, mas demanda acerto na substituição (Divulgação/Portuguesa)

A Portuguesa emprestou alguns dos seus prováveis titulares na disputa da Copa Paulista. Obviamente, teve gente que reclamou: onde já se viu deixar os melhores saírem? Quero ver a reposição! É sempre assim, que nunca mais ponha os pés no Canindé!

Houve quem compreendesse. A Copa Paulista não é vitrine, não é atrativa e só está no horizonte de quem busca um lugar ao sol ou não conseguirá algo melhor mesmo.

Quem está errado? O torcedor, que quer que os destaques fiquem e cumpram o destino de recolocar a Lusa no lugar dela e quem fizer pela vida em outros cantos que vá para o caralho? Os jogadores, que têm mais é que buscar quem lhe ofereça, dentro do seu plano de carreira, as melhores condições? A diretoria, que não amarra ninguém com multas milionárias, nem arranja um investidor?

Ninguém está errado.

Mas há outro grupo: o dos resignados, que sabem que é assim mesmo e que não há o que fazer, a não ser esperar pela redenção em forma de surgimento de um novo Dener, um Zé Roberto 30 anos depois, ou mesmo um xeque disposto a lavar seus petrodólares ou euros nos lados do Pari.

Achamos o erro. Se ele for cometido por quem toma as decisões, então, é todo o caminho andado para seguirmos no limbo. Mesmo deixando escapar um Talles, um Denis, um Maceió, é nítido que o patamar de quem veste a camisa da Lusa subiu. E subiu a ponto de despertar o interesse de clubes das séries A e B.

“Beleza, Marcos, então é isso?”. É e não é. É porque, no ecossistema da bola, não é difícil perceber que a Portuguesa está na base da cadeia alimentar e que todo bicho que se move pode ser o predador. Entender essa situação é fundamental para o que vem a seguir: a previsibilidade e a antecipação.

Uma vez admitida a fragilidade no mercado da bola, é preciso detectar os potenciais alvos do mercado – os jogadores que apresentarem o equilíbrio entre talento e margem de crescimento -, que ao cabo são os melhores do elenco. Depois, buscar substitutos. É a tal antecipação que eu falei lá em cima.

Esse trabalho de prospecção, de preferência, deve detectar o atleta a ser abordado antes da saída do destaque já sinalizado. Obviamente, deve ter características que sejam adequadas ao tipo de futebol que o time quer praticar.

O livro Soccernomics, que o jornalista Simon Kuper, do jornal Financial Times, e o professor de economia Stefan Szymanski, da Universidade de Michigan, lançaram em 2009, destaca como o Lyon, da França, foi da condição de um time qualquer da segunda divisão para heptacampeão nacional quando foi adquirido pelo empresário do ramo de softwares Jean-Michel Aulas.

Sim, um empresário bem sucedido comprou um time endividado e o transformou na potência que só foi desbancada pela negociata que envolveu o Catar, o PSG, o presidente da França Nicolas Sarkozy, Michel Platini e a compra de votos da Europa para a escolha da sede da Copa do Mundo de 2022.

O Málaga, por exemplo, foi comprado por um desses aventureiros que volta e meia surgem, chegou a fases altas da Liga dos Campeões, não ganhou nada, gastou de qualquer jeito e hoje sua torcida festeja o retorno à segunda divisão espanhola. Vejam, portanto, que não se trata somente do dinheiro, mas do que fazer com ele. O Lyon, por sua vez, detectava seus maiores ativos e os vendia, e bem. Benzema, Diarra, Malouda, Essien e Abidal valeram muito dinheiro para o clube.

Antes que me chamem de louco, não estou comparando porque não se trata de chegar onde o Lyon chegou, e sim de arrumar um chão firme onde se possa colocar os pés rubro-verdes. Sem metodologia, know-how (não há termo melhor em português, lamento) e competência para trabalhar, o pneu seguirá girando em falso, atolado no limbo da Copa Paulista e da busca por uma vaga na Série D.

Profissionalismo não basta. A Lusa teve gente vivida no futebol – e festejada por mim aqui – que não esteve à altura da missão. É lugar comum, mas é necessário ter gente capaz de fazer esse trabalho de detecção e prospecção dentro do alcance de nossos ainda curtos braços. Acreditem: ter um profissional assim é um investimento que pode ser mais caro a curto prazo, mas valerá mais ser feito do que contratar dois ou três medalhões distantes de seus melhores dias para se manter na elite do Paulistão e garantir a vaga na Série D do ano seguinte. A estrutura não é só física, é pessoal também.

Não que represente uma garantia, porque nada garante resultados, mas um trabalho bem feito aumenta as possibilidades de acerto.

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