*por Humberto Pereira da Silva
O jornalismo, a ética em jornalismo, exibe momentos bem sensíveis, delicados. É o caso no texto de Milly Lacombe sobre Robinho Jr, em início de carreira no Santos. Em primeiro lugar, antes de tudo, "defendo até a morte o direito de ela expressar liberdade de opinião", para aludir a sentença atribuída a Voltaire.
Justamente por isso, seu texto, sua opinião, se põem no campo de discussão sobre limites éticos na prática jornalística. É enxergar na estrada uma via de mão dupla. De modo bem direto, caso ela - não suponho que escreva movida por impulso desonesto - tenha de fato boas intenções em que acredita, e faça - muito bem - uso do poder da escrita para defender causas justas. Como princípio, não coloco sob suspensão suas razões para escrever o que escreveu. Tampouco que seja falso como ela se sente sobre Robinho, o pai, e o quanto possa estender às mulheres o horror do estupro e, como decorrência, a condenação do ex-jogador.
Mas, justamente por isso, ao não colocar sob suspensão sua honestidade, para um texto tão duro direcionado a Robinho Jr, da parte dela, deveria haver uma ponderação: fazer um exame de consciência, tendo como ponto de partida o duplo movimento da estrada. Um texto como o que escreveu não faria Robinho Jr sofrer por um crime cometido pelo pai? Quer dizer: Robinho Jr também paga pelo crime da pai?
Esse, para mim, é um ponto extremamente complicado porque não parto do princípio de desonestidade nela. Então, entendo, ela poderia examinar a consciência e ponderar se é justo que além do evidente sofrimento, "vergonha" pelo que o pai fez, o jovem Robinho seja marcado definitivamente e lembrado eternamente de que é filho de um estuprador.
Outro ponto a respeito propriamente da ética jornalística. O poder e, em decorrência, os efeitos daquilo que se escreve. Mais: como aquilo que se escreve é recebido por quem lê. Eu recebi da seguinte forma: para ela, é um erro o filho adotar o nome profissional de Robinho, o que, de algum modo, seria uma defesa do pai. Ela pode, sim, ter razão numa eventual inconveniência. Só que ela, com o poder que tem, joga nas costas do rapaz todo tipo de indisposição que para a malta faz dele um criminoso como o pai.
Do ponto de vista ético, para mim, Milly Lacombe subestima os efeitos que uma imputação assim possa ter na carreira e na vida pessoal de Robinho Jr. Seu eventual fracasso como jogador não estaria descolado de coisas como as que Milly escreveu.
Seria só o caso de não adotar o nome Robinho? Nesse ponto, não sendo desonesto nem ingênuo, não há como desvincular a imagem de filho e pai. Daí, para mim, a responsabilidade ética jornalística: o cuidado para separar o joio do trigo (a conveniência, para o jornalista, deve ser vista também como via de mão dupla; mas isso está longe do texto da Milly Lacombe). Como jornalista competente, aconselharia Milly a passar os olhos pela Bíblia em sua prática jornalística.
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