sexta-feira, 1 de julho de 2011

A dona da bola e a pasteurização

Há algum tempo fui assistir a uma palestra do apresentador do Globo Esporte, Tiago Leifert, na sede da ACEESP. Na ocasião, o animador do programa esportivo da hora do almoço afirmou que a Globo tem o direito de determinar horários dos jogos e de dar palpites até no regulamento, pois paga, e bem, por isso. Leifert representa a renovação na forma de falar de esporte, mas o comportamento dele é ultra reacionário. Ele reza na cartilha global e defende, com unhas e dentes, aquele que paga seu salário.

Mas não é do apresentador que eu quero falar, e sim da sua emissora. Desde o monstrengo da Copa União em 1987, quando o Clube dos 13 proclamou-se a nata do futebol nacional, a Rede Globo de Televisão tornou-se posseira deste mesmo futebol. Ela, Globo, que é detentora dos direitos de transmissão de quase todas as grandes competições no país, mantém os clubes sob seu jugo com a prática de pagar pouco e adiantar cotas de outros anos.

Assim os clubes, que têm no DNA a má-administração e o clientelismo, vivem com o pires na mão e nas mãos do canal da família Marinho. Ainda sobre mãos, é o conceito do uma-mão-lava-a-outra que deixa os clubes com as suas atadas, clientes da benevolência global.

Como se não bastasse ser a dona dos corpos, agora a TV do plim-plim quer também a alma do futebol. Até a comemoração do gol eles tentam usurpar, com aquele João-Bobo grotesco que vem pululando nos gramados nacionais, e que, desgraçadamente, caiu no gosto de outros bobos, os de chuteira e os de controle remoto nas mãos.

Palmeirenses comemoram gol com a odiável
coreografia (Djalma Vassao/Gazeta Press)
E é exatamente o que a Globo quer: um futebol parecido com a sociedade: pasteurizado, quadrado, adestrado, incapaz de subverter a ordem que ela ajuda a estabelecer desde o golpe de 1964.

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