domingo, 28 de outubro de 2012

Lenços brancos para Jesus


Há um costume em Portugal de que quando os adeptos de uma equipa querem a saída do treinador, acenam lenços brancos nas bancadas. É uma maneira sutil, ensurdecedoramente silenciosa, mas bastante eficaz de demonstrar a insatisfação com o trabalho do mister.

No Benfica já passa da hora de os adeptos encarnados sacarem seus lenços das respectivas algibeiras e acenarem para o treinador Jorge Jesus. Ele levantou a Liga na temporada 2009/2010, a primeira de um treinador português pelo clube desde 93/94, quando o ex-internacional Toni era o comandante. Este é o único título relevante conquistado pelo treinador à frente dos Encarnados.

Tudo bem que, desde o início dos anos 1990, existe uma supremacia do Porto no futebol português. Não entrarei no mérito da interferência que o presidente tripeiro Pinto da Costa tem com os homens do apito. Isso é para outra conversa. O que incomoda é que Jorge Jesus tem nas mãos um elenco de inquestionável qualidade e tem, invariavelmente, pecado nas suas escolhas.

Jorge Jesus é pragmático. Muito. Gosta de sistemas de jogo que tenham um avançado de referência a atuar dentro da área. O problema é que ele tem material humano bom o suficiente para prescindir do tradicional camisola nove. Ao todo, só de ganchos que seriam titulares em boa parte dos grandes distintivos europeus, Jorge Jesus conta com os argentinos Aimar, Gaitán e Sálvio, o brasileiro Bruno Cesar e o português Carlos Martins, todos com passagens por suas seleções. Destes, o único camisola 10 clássico, capaz de ditar o ritmo de jogo, de dar um passe diferenciado para criar hipóteses de golo praticamente do nada é Aimar, mas ele não goza de plena confiança do treinador, embora seja adorado pela claque encarnada e os demais adeptos do clube da Luz.

Talvez aí esteja o problema. Outros ídolos benfiquistas também foram levados às portas de saída do clube por conta da intransigência do treinador. Nuno Gomes é o maior exemplo disso. Mais de 150 golos anotados com a camisola vermelha e o sonho de terminar a carreira sob o manto benfiquista. Queria mais um ano de contrato. Apenas um, e juntar-se-ia a Rui Costa na direção do clube. Mas o desejo lhe foi sonegado, apesar de ter anotado cinco golos nos quase 90 minutos em que esteve a jogar na sua derradeira temporada no clube. Depois foi para o Braga, retornou à Seleção das Quinas com a camisa dos Arsenalistas e hoje atua na Football League Championship, a Segunda Divisão inglesa. E tem jogado bem.


Jesus até tem seus méritos. E também a salvaguarda de ter que remontar o onze sem a alma no meio campo, perdida com a saída dos trincos Javi Garcia, para o nanico milionário Manchester City, e Witsel, que foi para o não menos rico e pequeno Zenit. No entanto, não há nenhuma garantia, sobretudo após as três exibições mal  conseguidas na Champions, de que conseguirá. Aí será hora de acenar e acatar o pedido feito pelos lanços brancos.

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