domingo, 20 de abril de 2014

A história ficou mais calada

NE: seria injusto ter  apenas um texto neste blog para a grandeza de Luciano do Valle.

por Vinicius Carrilho

O esporte brasileiro perdeu grande parte de sua voz. Mais que isso, partiu bom pedaço da emoção. Neste sábado, Luciano do Valle se foi. Faleceu enquanto se encaminhava para Uberlândia, onde escreveria, através de suas cordas vocais, mais um capítulo da história do esporte ao narrar Atlético Mineiro e Corinthians, na abertura do cada vez mais repugnante Campeonato Brasileiro.

Ele não era mais o mesmo, é verdade. Não era incomum aos domingos trocar jogadores de times ou até inventar um nome para o atleta. Seus 66 anos já pesavam, porém, mesmo assim, a emoção em sua voz era a mesma.

Voz. Seu instrumento de trabalho e que causava emoção em tantos outros milhões de brasileiros. Brasil. Principal fonte alimentadora de toda essa emoção passada pelo Luciano através do esporte. Esporte. Meio pelo qual aquele visionário encontrou para trazer um pouco mais de cidadania e entretenimento para este povo que via ali uma forma de extravasar o que sentia.

Seria imbecilidade reduzir a contribuição de Luciano do Valle ao país unicamente por sua voz. Após Eder Jofre, se nos anos 80 e 90 o Brasil vibrou com o boxe pelas luvas de Adílson Maguila Rodrigues, foi graças a ele. Segundo esporte do país atualmente, o vôlei é outra modalidade que deve muito ao narrador. Quem gosta de esporte em algum momento certamente se encantou com os genais lances de Marta. Pois bem, muito antes dela, na época de Formiga,, Kátia Cilene, Maravilha, Michael Jackson, Pretinha e Sissi, quem apoiou o futebol feminino foi ele.

Igual a todos, Luciano tinha seus defeitos. Em alguns momentos passou dos limites, se exaltou, não foi feliz no que disse. Mas, não se pode medir uma vida inteira dedicada as palavras por meia dúzia que não foram bem colocadas.

Assim como outro mestre do relato, o inesquecível Fiori Giliotti, Luciano do Valle se foi às vésperas de uma Copa do Mundo. Talvez a mais marcante para ele. A temerária Copa no Brasil se empobreceu, estará menos emocionante.

A partir deste 19 de abril de 2014, a história do esporte brasileiro estará significativamente mais silenciosa. Sem dúvidas, os relatos daqueles que viverão os fatos chegarão com um pouco menos de emoção. Hoje não é dia de falar. Pelo contrário, hoje é dia do esporte brasileiro ficar em silêncio – muito mais de um minuto – em homenagem a quem tanto fez por ele. A história está mais quieta, mas na mente, boa parte das recordações terão a narração do monstro Luciano do Valle.

* Vinicius Carrilho tem 23 anos, é jornalista, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

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