quarta-feira, 15 de julho de 2020

Benfica 2 x 0 Vitória de Guimarães - o sonho e a estupidez

QUEM É ESTE? Oito meses depois, Florentino reapareceu no
 Benfica (Foto: Patrícia Melo Moreira)

Tive um sonho estranho. Sonhei que os jogadores eram escalados somente pelas suas qualidades e o quanto elas poderiam ajudar a equipe como um todo, não importando quem era o seu agente ou escritório gerenciador de carreiras.

Para se ter uma ideia do quanto o sonho foi maluco, o treinador até usava um volante daqueles ladrões de bola para que o time tivesse posse, campo e criação de jogadas. Era uma equipa equilibrada em campo, tanto que contava com dois dos três artilheiros da competição e um deles, ainda, era o que tinha mais passes para gol. Funcionava bem.

No time tem até um gajo novo, campeão europeu nas categorias de base, que é cobiçado por times como Real Madrid e Milan. Se os tubarões o querem, é claro que tem lugar também em casa, não é? Que sonho mais esquisito!

Já imaginaram que difícil seria se o clube com maior orçamento, que mais gastou em reforços na história do país, que tem a maior torcida dentro e fora de Portugal, precisasse ganhar e tivesse o time melhor somente quando teve que mexer para evitar uma expulsão que deitasse tudo ao solo? Quem acreditaria?

Imagina se é possível pensar que este time, se não vencesse, veria seu maior concorrente vencer o campeonato ainda com três jogos por fazer? Jamais o clube que garante chegar em breve às decisões europeias com a maioria dos jogadores vindos da base passaria por isso.

Nem em sonho um clube que conta com profissionais preparados e experientes deixaria seus melhores valores no banco, ou sem jogar por meio ano, e gastaria 20 milhões em reforços que não precisa. Nem gastaria outros 37 em dois avançados, tendo o artilheiro da Liga no elenco. Fazendo isso, teria que ter um rodízio estúpido entre eles no 11 inicial.

Seria, pois, uma estupidez, estarmos a fazer contas e comemorando uma vaga para as eliminatórias da Liga dos Campeões, em vez de chegar à fase de grupos com o estatuto de campeão nacional, arrancada à fórceps, quando o Chiquinho marcou após meia hora de total domínio do adversário, e com o Seferovic, já perto do fim e depois de a desgraça rondar a área de Vlachodimos e só não ter se concretizado por falta de sorte dos vimaranenses.

Era só o que faltava à malta encarnada: além de vencer todos os seus jogos, ter que torcer para que Porto perca para o Sporting no Dragão, sem contar nas outras derrotas necessárias, contra Moreirense e Braga. Seria quase um pesadelo.

Caraças! O despertador tocou.

Vlachodimos: ao fim do jogo, sua expressão era estranha, algo parecia fora do lugar, como um jogo na Luz sem sofrer golos;

André Almeida: da próxima vez, pergunte ao Gabriel se ele vai deixar o Weigl sozinho para dar o combate. Não que isso ajude muito, mas ao menos saberás o que te espera;

Rúben Dias: ao fim do jogo em que foi escolhido o melhor em campo, falou que o segredo da vitória foi o desejo da equipe. Então a sequência de 13 jogos com só duas vitórias era a falta de querer vencê-los?;

Jardel: na condição de capitão, Jardel Nivaldo, pergunte à malta se querem ganhar ou não. Não que isso ajude muito, mas ao menos saberás o que te espera;

Nuno Tavares: é mais ou menos assim: quando estiveres perto da área, levantes a cabeça e olhes quem vem com uma camisola igual à tua. É para ele que tens que jogar a bola. Percebes? Se não for complicado, de preferência, o gajo com a camisola igual à tua que receberá o esférico é o que estiver numa posição melhor para rematar à baliza. Em caso de dúvida, pergunte ao mister, mas convém esperar para saber quem será o mister. Até lá, olha o que o Alex Telles faz e tenta copiar;

Weigl: caro Julian, tento gostar mais de ti, pois não será por falta de vontade que voltarás à Bundesliga com alguma raiva de tudo o que se mover vestindo vermelho. Em todo caso, gostei da ideia de distribuir pancadas sem desfazer a cara de bom moço para não suscitar ao árbitro um impulso qualquer de mostrar-lhe o cartão vermelho. Porém, faz bem combinar com o mister para que saias tão logo receberes o primeiro aviso de rua - ou então, aprendas a seguinte frase em Português: "põe um trinco, ó, pá" (Florentino: passes verticais, posicionamento correto, recuperação de bolas e equilíbrio a um time quase impossível de assistir sem recorrer completamente ao dicionário português do baixo calão. Mais uma destas, Tino, e corres o risco de ficares mais meio ano sem jogar);

Gabriel: se a sua falta de vontade for para deixar o alemão sozinho a ponto de ter que ser trocado por um trinco, maravilha, mas podias ter feito isso em outros cinco ou seis jogos. Se não foi por isso, caraças, que raio estavas a fazer em campo?

Pizzi: não percebi ainda, mas deve ter saído para que a presença de Rafa Silva não resultasse em muito talento junto em campo (Rafa Silva: não te falei que era só aparar a barba que entrarias mais cedo, Rafael Alexandre? Bom, agora é preciso ver algum jeito de mostrar que tu és aquele Rafa que, com o Pizzi, fazia o diabo com as defesas contrárias sem que isso faça com que te tirem); 

Chiquinho: a única razão para que não tenhas sido titular durante toda a temporada é seu bigode de adolescente, o que pode ser visto com desconfiança num país onde um bigode bem cultivado significa tanto. É isso ou quem decide quem joga não percebe lá muito as coisas (Zivkovic: ora viva, Andrinho! Mais seis minutos em campo para a conta. Mais um ano assim e chegas um jogo completo);

Cervi: aproveita que andas ao pé do Nuno Tavares e mostra pra ele como é que funciona esse negócio de cruzar a bola na área. Não te esqueças de enfatizar a importância da camisola igual (Jota: existe uma teoria que diz que 10 mil horas de prática de alguma atividade específica conferem excelência a quem a pratica. Vejamos aqui, cinco minutos por jogo, 12 jogos dão uma hora. Olha, João Filipe, suspeito que isso não vai funcionar); 

Carlos Vinicius: manteve a média estupenda de zero golos marcados pelo avançado que começa o jogo (Seferovic: duas finalizações e um gol? Quem és tu, Haris?).

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