quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Portugal 3 x 0 Suécia - sem Ronaldo, há Diogo Jota


Quando Ronaldo testou positivo para a Covid-19, a pergunta que ficou no ar... - Não, melhor evitar esta metáfora. Retomando, a questão a ser respondida foi: há vida sem Ronaldo? A resposta é simples: há, como houve no 4 a 1 com a Croácia.

Uma questão puxa outra e a inevitável - e descabida - polêmica instaurou-se: Portugal é mais forte sem seu melhor jogador? A resposta é óbvia: não,  mas é diferente. E, nestas diferenças,  Fernando Santos armou a melhor versão portuguesa possível sem sua referência, para deleite dos 5 mil adeptos que lá estiveram enquanto ainda é possível haver adeptos e futebol. 

Ora  muito bem! O 11 inicial de Portugal foi anunciado e viu-se um time praticamente como era esperado (ao menos por mim), com exceção de João Moutinho, que ficou no banco para que Danilo e William formassem a dupla de trincos em campo,  com o camisola 14 um pouco mais à frente. Assim, Bernardo Silva, com a saúde e disposição que Deus lhe deu, teria que andar mais para trás para fazer a bola rodar com mais qualidade desde o nascedouro das jogadas e Bruno Fernandes poderia transitar perto da área enquanto João Félix e Diogo Jota revezariam entre o setor esquerdo e o centro da área.  

Em três minutos, duas chances claras criadas davam a noção do que seria o jogo. O primeiro aviso foi de Diogo Jota, em tiro rasante a passar rente ao poste, pouco antes de William Carvalho acertar a trave. Outras chegadas sem lá tanto perigo dos dois lados, mas com um domínio territorial e de ações dos de Fernando Santos. Até que, num momento de pressão na saída de bola em que Rúben Dias subiu até o campo de ataque e cortou a tentativa de ligação direta dos suecos, Bruno Fernandes dominou bem, no meio de três de amarelo, que se esqueceram de um Diogo Jota "enronaldado", que serviu Bernardo Silva e este meteu de esquerda, de primeira, com curva,  a pelota dentro da baliza escandinava. 

Um golo com um toque de casa centro de formação dos grandes: começou no Alcochete, passou pelo Olival e foi o miúdo do Seixal quem desfez o nulo do placar. 

Sabem o que isso significa? Exato: absolutamente nada. Apenas uma coincidência para preparar o terreno para o que veio depois: uma Suécia fisicamente em dia, mas sem os pés lúcidos de  Forsberg para desbravar a defesa onde Pepe era - e é - rei, por cima, por baixo e por onde viesse a bola. Para azar dos visitantes, quase nunca ela chegou ao capitão Marcus Berg, único homem capaz de causar algum embaraço à malta lusitana, como quando girou na área e balançou a trave de Rui Patrício. 

O lance coincidiu com o momento mais baixo de Portugal no jogo, em que espaços eram concedidos, mas a falta de ideias dos visitantes, aliada à enormidade chamada Pepe, fazia com que raramente houvesse hipóteses para finalizar. Foram quatro na primeira parte, nenhuma delas enquadrada. 

Portugal chegou ao segundo golo com o pé encostado no intervalo, quando toda a gente se preparava para fechar o primeiro tempo com a vantagem mínima e o jogo aberto. Mas a atuação em bloco recompensou o time mais organizado dos dois que lá estavam. Com os dez homens de linha agrupados num espaço de 30 e poucos metros, João Cancelo encontrou Diogo Jota infiltrado na linha de quatro da Suécia, entre o lateral (Lustig) e o central que fica mais à direita (Jansson), mas nunca o suficiente porque Bernardo Silva puxou os outros dois para si no outro lado, obrigando um dos centrais a fechar e deixar o espaço que foi aproveitado pelo avançado do Liverpool, que dominou e bateu com força, no cantinho do goleiro Olsen, passageiro da própria sorte no lance. 

Agora sim o descanso, mas com um placar um bocadinho pesado para os de Jan Andersson mereciam pelas dificuldades que impuseram, sobretudo na saída de bola, antecedendo uma segunda parte em que Portugal resolveu controlar a partida, o que muito se deve ao respeito que a Seleção das Quinas impõe a adversários, sejam de que nível eles forem.

Foi dos suecos a primeira chance da etapa final, novamente com Berg, que testou a elasticidade de Rui Patrício com um bom cabeceio antes do quinto minuto. Passado o susto, o jogo ficou equilibrado, com os visitantes chegando quando podiam - e cada vez podendo mais - e os da casa atacando quando queriam - cada vez querendo menos. 

Um chute travado de Bruno Fernandes aqui, um tiro de Claesson bem defendido pelo guarda-redes português ali, uma finalização infeliz acolá, as chances surgiam, mas sem muito potencial para mudar o marcador. Quem quase chegou lá foi a turma de camisas vermelhas e calções verdes (que equipamento lindo!), o que não aconteceu porque João Félix, em má jornada, atirou por cima quando havia somente Olsen à frente, depois de boa combinação com Bruno Fernandes. 

Um pouquinho antes de acontecerem as primeiras mudanças portuguesas, porém, Diogo Jota aprontou mais uma vez e anotou seu primeiro bis a serviço da seleção nacional. William Carvalho irrompeu e acionou o camisola 21 na ponta esquerda. Ele entrou em diagonal, como se não houvesse ninguém por perto - havia três - e executou no contrapé de Olsen, novamente sem ter o que fazer para evitar o tento. 

Daí, até o fim, o ânimo sueco não bastou para evitar a goleada (3 a 0 é goleada sim, senhor!) e, quando conseguiu chegar, havia Rui Patrício novamente em grande para garantir outra jornada sem sofrer golos, a quarta seguida da turma de Fernando Santos. 

No dia em que faltou Ronaldo, sobrou Diogo Jota e houve mais Portugal, que é forte sem seu capitão, mas é uma das três melhores seleções do mundo com ele.

Rui Patrício: imaginem o que passa pela cabeça do goleiro ao jogar no Alvalade com chances menores de ser derrotado. Por anos não foi assim;
João Cancelo: é bom ele viver essa sensação de jogar em Portugal e vencer, coisa que não pode fazer muitas vezes porque saiu cedo do Benfica; 
Pepe: mais um jogo a levar avançados no bolso pra casa. Devolva os gajos de amarelo antes de voltar para o Porto, SFF;
Rúben Dias: deve ser contagioso esse negócio de ser mandante no José Alvalade e jogar mal. Descansa, Rúben, não deve ser aí com a França;
Raphaël Guerreiro: malandrito! Ficaste sabendo que o Fábio Coentrão voltou e trataste de jogar bem em todos os jogos para não perderes o lugar. Fazes bem, francês;
Danilo Pereira: tão seguro que às vezes é irritante;
William Carvalho: é sério que ainda há quem não goste de ti? (João Moutinho: faça o seu quietinho, pá, que uma das vagas para a conquista do bicampeonato europeu será sua. Aí tu metes o golo do título e tudo terá valido a pena);
Bruno Fernandes: é natural os que vestem encarnado vencerem neste campo, pá. Agora estás do lado certo (Renato Sanches: só tem uma vaga para trinco, pá. Agarra-te a ela); 
Bernardo Silva: um golo, um jogo a correr o relvado todo e o brilho discreto de sempre. Mais um dia normal na vida de Bernardo Mota Veiga de Carvalho e Silva (André Silva: não sei se mais alguém viu, mas tenho a impressão de que vi o André Silva a dormir ao pé da trave quase no fim do jogo. Gostava de saber se alguém o acordou ou esqueceram o gajo no relvado); 
João Félix: deve ser contagioso esse negócio de ser mandante no José Alvalade e jogar mal. Descansa, Joãozinho, não deve ser aí com a França (Daniel Podence: bonita a iniciativa da FPF de colocar os miúdos do Sub-15 a jogar com os adultos);
Diogo Jota: "Ain, Portugal só tem o Cristiano Ronalzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz" (Rafa Silva: olha o que faz a reputação. Entrou só para manter o costume de vencer neste campo). 

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