quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Croácia 2 x 3 Portugal - o jogo inútil mais útil do mundo


O trabalho do treinador de seleções se difere do técnico de clubes. Enquanto este tem a pressão do dia-a-dia, de mais jogos a disputar do que tempo para treinar e analisar a equipa e os adversários, o outro tem, vá lá, uma semana por mês para trabalhar o elenco que puder escolher e dar sua cara aos que representarão o país nos jogos e competições.

Depois desta maluquice/irresponsabilidade de três jogos em uma semana a contar para a Liga das Nações e aquele amigável desqualificado contra os coitadinhos de Andorra, Fernando Santos terá três meses para entender o que correu mal contra a França na Luz, depois de partidas de alto nível com a Croácia (em Alvalade), as duas com a Suécia, com os próprios campeões do mundo em Saint-Denis e - por que não? - no particular com a Espanha, cujo nível de exigência nunca é baixo.

A começar, o jogo com a Croácia, último da Liga das Nações e que ganhou o aspecto de um amistoso de luxo contra um time que era o único com interesses em jogo, que poderia ser despromovido mesmo se ganhasse, sempre com os olhos no que poderia acontecer no França x Suécia, que acabou determinando a queda dos nórdicos ao Grupo B.

Mesmo levando em conta que o jogo tenha sido disputado num relvado que nunca fez jus ao nome - mais correto seria chamar de campo de batatas -, os de Fernando Santos não conseguiram se impor aos vice-campeões do mundo, sempre comandados pela classe de Modric e pelo caráter de Kovacic, um tanque que, pela disposição, fez parecer que os enxadrezados é que pareciam ter um jogador a mais, mesmo quando foram reduzidos a 10 homens quando Rog fez uma falta desqualificável e em Cristiano Ronaldo e viu o segundo amarelo.

Antes disto, com quatro alterações frente ao onze que iniciou o jogo com a França (Nelson Semedo, Rúben Semedo, João Moutinho e Diogo Jota nos lugares de João Cancelo, José Fonte, William Carvalho e Bernardo Silva, na mesma ordem), Portugal começou bem. Rápido na recuperação e na recomposição dos espaços, a movimentar-se à frente, com o trio Cristiano-Félix-Diogo Jota sob a batuta de um João Moutinho a ocupar todos os espaços em campo. 

Isto fez com que os visitantes mandasse no jogo e criasse chances de golo quando pressionaram a saída de bola com Moutinho e Bruno Fernandes, que cruzou no primeiro pau para a cabeçada de Diogo Jota, e quando os dois laterais lusos subiram juntos, com Nélson Semedo buscando Cristiano Ronaldo e Mário Rui, na sobra, mas que acabou num raspanete do capitão com a cabeça após excelente cruzamento do lateral do Napoli.

Do outro lado, os de Zlato Dalic seguiram saindo curto e atraindo os portugueses para encontrarem espaço algures que podessem aproveitar. E isto resultou ao pé de meia hora de jogo, na bola longa para Vlasic, que cruzou errado e contou com o corte defeituoso de um estranhamente acanhado Rúben Semedo; Pasalic insistiu e deu para Kovacic, que finalizou no meio de três lusos para a defesa parcial de Rui Patrício, tendo ele mesmo rematado a sobra para fazer o primeiro do jogo.

Foi o que bastou para que tudo o que usasse o estranho uniforme verde-água e listrado desabasse e aceitasse a pressão croata. Daí até o fim do primeiro tempo, parecia uma viagem ao período pré-Scolari, quando um golo bastava para vulgarizar a Selecção Portuguesa. A Croácia aumentou o ritmo, venceu todos as disputas pelas segundas bolas e ela mesma imprimiu o ritmo que quis, forçando erros na saída de bola de um apavorado Portugal, quase aumentando o placar no contragolpe em que um passivo Danilo apenas acompanhou de longe a troca de passes entre Vlasic e Perisic, que acabou no cruzamento deste para Juranovic, sozinho, cabecear no contrapé de Rui Patrício, mas ao lado.

Com Francisco Trincão no lugar de Bruno Fernandes, e com um 4-4-2 em vez do estéril 4-3-3, Portugal voltou para o segundo tempo bem mais disposto e o jogo virou, literalmente, a partir da falta que resultou na expulsão de Rog, ainda com meia dúzia de minutos. No mesmo lance, Cristiano bateu uma daquelas faltas cheias de curvas, Livakovic espalmou como deu, Rúben Semedo se redimiu do erro no golo e assistiu Rúben Dias para o ex-benfiquista marcar seu primeiro pela seleção.

A virada poderia sair cinco minutos depois, aos 11 minutos, se o árbitro tivesse marcado o pênalti de Skoric em Cristiano Ronaldo, quando o estabanado zagueiro acertou uma cotovelada no 7 luso. Sobrou uma dor de cabeça e um cartão amarelo por reclamação. Quem reclamou depois, também com razão, foram os da casa. Trincão deu passe de classe para Diogo Jota, Lovren falhou de forma caricata e o 21 cruzou para João Félix virar chutando mascado, mais lama do que bola, só que a bola bateu na mão do avançado do Liverpool antes de ele servir o miúdo do Atlético.

Pasalic saiu, Brekalo entrou, Modric e Kovacic viraram o demônio ante a sonolência de Danilo e o empate veio quando o jogador do Chelsea abriu para Juranovic, que acionou Vlasic. Danilo tentou acelerar para alcançar o camisola 13, mas deixou o 8 livre para receber o passe e bater no canto de Rui Patrício. 

Com o empate a servir, a Croácia fechou-se e Portugal agora tinha Cancelo no lugar de Mário Rui e Bernardo Silva herdando o lugar de João Félix e podendo descer ao meio para organizar o jogo desde trás, mas ainda sem a companhia com os dois da frente, que se aproximaram demais da parte do campo onde amontoaram-se os croatas, desejosos de segurar o empate. Então,  partiu para tentar a vitória, que poderia sair dos pés do 10, que praticamente desfez o gol pegando o rebote de um belo chute de Trincão na pequena área, mas a bola quicou embaixo do goleiro e passou por cima do travessão. Praticamente no último lance do jogo, Moutinho bateu um escanteio curtinho, Bernardo cruzou para Rúben Dias, o artilheiro da noite, que não alcançou, mas contou com a falha grosseira do arqueiro, que deixou a bola escapar ao bater nas costas de um terrível e azarado Lovren, para empurrar para o golo vazio.

Ao fim e ao cabo, Portugal somou 13 dos 18 pontos possíveis e só não defenderá o título de campeão da prova porque a França teve a frieza e a inteligência que faltam a Portugal no jogo que definiu a liderança da chave. E com três meses para que Fernando Santos corrija os erros táticos e anímicos de uma seleção que aprendeu que pode ser campeã do que disputar. 

Rui Patrício: deve ter sido castigado pelo golo do Kanté que levou no outro jogo;
Nélson Semedo: nunca vou entender por que caraças não jogaste com a França;
Rúben Semedo: tomara que quem contrata no Benfica tenha visto o jogo;
Rúben Dias: é o próximo nome do futebol português a ganhar milhões a fazer propaganda de produtos para o cabelo. Penteado impecável, como a atuação do futuro melhor zagueiro do mundo;
Mário Rui: não fosse pelos cruzamentos bem medidos, perderia a vaga na esquerda para qualquer lateral direito improvisado por ali (João Cancelo: tendo sido cria do Benfica, fiquei decepcionado por não ter feito o seu golito no jogo);
Danilo: lento, sonolento, mas respeitador do distanciamento social. Um exemplo para o país nesta segunda onda da Covid-19; 
(Sérgio Oliveira: desfalcou os treinos do FC Porto. O Sérgio Conceição não deve ter ficado muito contente);
João Moutinho: daquelas partidas em que convence toda a gente que deve ser titular, até ser escalado no onze e convencer toda a gente que não pode ser titular;
Bruno Fernandes: será abraçado pelo Solskajer por ter se poupado nestes dois jogos pela Liga das Nações (Francisco Trincão: mais um miúdo a ganhar espaço a ponto de, no futuro, ter exigida sua escalação a titular, juntamente com os outro 15 ou 16 na mesma condição);
Diogo Jota: jogou sem parecer ter jogado (Paulinho: a mesma coisa, mas pelo meio da área);
Cristiano Ronaldo: pelo visto, precisava ter sido do Benfica para ter marcado golos. Agora vês como erraste o time da formação? 
João Félix: já imaginaram que timaço do caraças quando o João Félix estrear em jogos a doer? (Bernardo Silva: perdeste a titularidade do City e caíste de rendimento na Selecção. Venhas para o Benfica para voltares a ser feliz, Bernardo).

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