quarta-feira, 4 de setembro de 2024

BENFICA - Procura-se um líder. Tratar no Estádio da Luz



Rui Costa é, inegavelmente, um dos grandes nomes da história do futebol português. Iniciado no Benfica, onde deu seus primeiros e últimos pontapés, foi um dos nomes mais sonantes da chamada "Geração de Ouro", que conquistou o bicampeonato mundial de juniores nos anos de 1989 e 1991, este com aquele que seria apelidado de "O Maestro" em campo e a converter o último pontapé de pênalti na decisão contra o Brasil, na casa que conhecia bem, embora tenha feito a prova como atleta emprestado ao Fafe. Depois, brilhou pela equipa principal, resistiu ao assédio de Sousa Cintra quando o Sporting quis se aproveitar de uma fase de dificuldades financeiras do rival da Segunda Circular para levar alguns dos principais nomes benfiquistas - ao cabo, somente Paulo Sousa e Pacheco foram aliciados, tendo João Vieira Pinto voltado atrás - e, a contragosto, rumou ao fim da época para a Itália, onde defendeu Fiorentina e Milan antes de voltar para se retirar em casa. Ficou famoso o choro do meia quando marcou ao seu clube do coração em uma partida de pré-temporada pela Viola. À mistura, uma caminhada muito respeitável a vestir a camisola das Quinas em três Europeus e uma Copa do Mundo.

Um ídolo indiscutível, pois. 


Rui Manuel César Costa tem sido, inegavelmente, um dos dirigente de pulso mais molenga da história do futebol português. Tendo se tornado presidente "sem querer" em julho de 2021, quando foi alçado ao cargo após a renúncia ao cargo de um Luiz Filipe Vieira afundado em denúncias de corrupção numa altura em que era presidente da SAD e vice do Sport Lisboa e Benfica, Rui Manuel César Costa foi eleito três meses depois, e com 80% dos cerca de 40 mil votos. Era o casamento perfeito: o líder de dentro do relvado levando para o gabinete uma lufada de ar fresco em lugar das práticas que cheiravam a mofo - e a coisa pior.

"Mar calmo não faz bom marinheiro", diz o adágio. Tampouco faz bom presidente. O ídolo de dentro do relvado tem colecionado decisões ruins, como o prolongamento de contrato do técnico Roger Schmidt sem estar nas melhores condições para tomar uma decisão desta importância. Afinal, fazê-lo quando estava deslumbrado pelo futebol apresentado nos primeiros nove meses da primeira época, como o próprio assumiu quando anunciou o desligamento tardio do treinador, não é algo que se espere de um presidente de uma instituição como o Benfica.

Demitir o treinador, a quem confiou a montagem do elenco e a preparação que antecedeu uma das épocas mais importantes da história do clube, com a nova Champions e o Mundial de Clubes no horizonte, pode até indicar que tentou-se corrigir a tempo estes erros - ou tem outro nome manter um profissional que se mostrou incapaz de alterar a forma de jogar, ou mesmo perceber quando as coisas iam mal, preferindo duvidar da percepção da bancada a assumir que era preciso mais? -, mas tomar a atitude a dois dias do fechamento do mercado não é o que se espera de quem já anda nisso há tanto tempo.

Isso sem contar a incrível insatisfação de jogadores que preferem deixar o clube a lutar por um lugar. Manter Di María, tapando David Neres; deixar sair João Mário, mesmo este não fazendo lá muito esforço para contrariar as vaias de quem, justa ou injustamente, tem direito ao recurso do apupo, são outros sinais de que falta quem tenha força e moral para impedir episódios assim. A propósito, não fazia sentido algum esticar a segunda passagem do craque argentino, por mais identificado que ele seja com o clube e com os adeptos. Esta é uma das decisões que foram tomadas com o coração.

Foi difícil para mim escrever este texto, com críticas contundentes ao meu maior ídolo no futebol. Mas é preciso separar Rui Costa, o Maestro, do Rui Manuel César Costa, o dirigente. Espero que ele possa fazer o mesmo da agora em diante.

Sem comentários: