terça-feira, 10 de setembro de 2024

PORTUGAL - Renovar ou garantir, mas e o futuro?

DUPLA INFERNAL Félix e Cristiano estiveram em grande (Profimedia)

A versão portuguesa pré-competições voltou a dar as caras em Lisboa, para os dois primeiros jogos da Liga da Nações. E nem parecia aquele time sonolento e previsível que conseguiu ficar três jogos sem ir às redes, com as poderosas Geórgia e Eslovênia a anteceder a França, quando finalmente os de Martinez deram luta e justificaram a fama. 

Se por um lado haverá quem diga que já viu este filme antes, com as 10 vitórias em outros tantos jogos na fase de classificação ao Euro, por outro, o nível dos adversários é melhor que as peras doces à catrefada que o sorteio indicara. 

Ao que tudo indica, tendo tido três oponentes relativamente acessíveis - Croácia, Escócia e Polônia -, o maior desafio ao selecionador será arrumar formas de testar soluções além das que já conhecia. Das novidades em relação aos 26 que estiveram na competição vencida há quase dois meses pela Espanha, Rui Silva, Pedro Gonçalves e Francisco Trincão retornaram ao lote de convocados, mas Tiago Santos (defesa direito do Lille), Renato Veiga (que joga a central e defesa esquerdo no Chelsea) e Geovany Quenda (extremo/avançado do Sporting) foram chamados pela primeira vez para a seleção principal.

Destes, apenas Pote teve direito a minutos - um, para ser exato - no jogo com a Croácia. A ideia, portanto, seria dar tempo de jogo aos novos internacionais, mas a dureza dos jogos impediu, segundo o mister, que experiências fossem realizadas, já que é importante garantir o apuramento aos quartos da competição para garantir, sem depender do posicionamento no ranking de seleções, uma vaga como cabeça de chave de um dos 12 grupos das eliminatórias da Copa do Mundo.

Este ponto faz levantar algumas questões? Com um lote alargado a 35 jogadores, por que Roberto Martinez confia nos mesmos? Trincão e Pote, que já mereceram um lugar na comitiva que foi ao Euro, não têm tido nível para as primeiras jornadas da Liga das Nações? Nem falo de Quenda, cuja expectativa era que pudesse derrubar a marca de mais jovem de sempre a defender as Quinas, honraria que pertence desde 1983, portanto há 40 anos, a Paulo Futre, mas seria bom ter um leque mais amplo.
 
Em campo, porém, alguns dos erros vistos na Alemanha não se repetiram, como a demora a reagir em condições adversas que fizeram com que resultados, como a vitória sobre a Chéquia, fosse arrancada a ferros. Nestes dois jogos que marcam o início do novo ciclo, Portugal fez um primeiro tempo de excelência com os croatas, que deverão ser, ao cabo, com quem discutirá a primeira colocação da chave. As dificuldades vistas nesta partida estão mais relacionadas às qualidades dos axadrezados que a alguma quebra de rendimento da turma lusitana.

O segundo jogo teve drama, reviravolta no fim e bons indicadores, embora fragilidades defensivas ainda sejam marca de Portugal, que terá que aprender a andar sem Pepe e procura seu substituto - por ora, Gonçalo Inácio parece estar à frente de António Silva, que tem demonstrado alguma insegurança "trazida", afinal, do mesmo estádio da Luz, e que será missão de Bruno Lage resolver neste retorno ao Benfica.

Sem Vitinha, em grande na estreia, dispensado por lesão, coube a João Palhinha ser o amálgama entre os setores, tendo recuado Bernardo Silva para auxiliá-lo na função. Na frente, Cristiano Ronaldo ficou no banco e Diogo Jota foi o jogador mais adiantado, ladeado por Rafael Leão e Pedro Neto, com Nelson Semedo a dar largura, ocupando a vaga que foi do mais acutilante Diogo Dalot. Como o gol escocês saiu muito cedo, o jogo acabou condicionado e os britânicos atuaram em bloco mais baixo ainda. Martinez recorreu no intervalo a um passador melhor - Ruben Neves - para render o mais garantidor de posse Palhinha e a produção ofensiva resultou no golo de empate, em chute longo do aniversariante Bruno Fernandes.

Steve Clark respondeu adiantando a marcação e, com maior imposição física, a Escócia cresceu na partida e teve uma mão cheia de jogadas perigosas e maior domínio territorial, o que só acabou quando João Neves, o pequeno gladiador do meio-de-campo português, foi lançado para o lugar de Bernardo Silva, muitos furos abaixo do habitual, e João Félix rendeu Rafael Leão para ter mais jogo pelo meio e mais espaço para Nuno Mendes fazer o que faz de melhor, que é atacar e aterrorizar defesas contrárias. A partir daí, o que se seguiu foi uma blitz que só não deu em gol antes porque o goleiro Gunn e os postes resolveram contrariar.

Já perto do fim, Cristiano iniciou a contagem regressiva para o milésimo golo. Ele, que tinha feito gosto ao pé no seu tento 900 frente aos croatas, repetiu a dose a dois minutos do fim ao completar, como no jogo anterior, um passe teleguiado de Nuno Mendes para definir, como de costume, a vitória portuguesa nesta, na prática, eliminatória para definir os oito que avançarão na disputa pelo título. Sem dramas ao ficar como suplente, Cristiano parece ter entendido, depois da malograda prestação no Euro, sua importância mesmo fora do onze inicial.

A ver se será assim nos jogos a doer mais à frente, como também fica no ar a utilização de mais jogadores que os habituais. Não que isso garanta alguma coisa, porque nada garante, mas afasta a frustração de ver bons jogos somente contra grandes seleções, invariavelmente nas partidas que marcam as eliminações. 

    

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