quarta-feira, 5 de maio de 2010

Neymar, Paulo Henrique Ganso e a Seleção

* Por Humberto Pereira da Silva

Ronaldinho Gaúcho estava em alta não faz mais do que dois, três meses e muitos na imprensa pediam sua volta à Seleção. Ronaldinho iniciou bem o ano, com grandes atuações pelo Milan, até a eliminação pelo Manchester na Copa dos Campeões. Depois, de fato, ele e o Milan caíram de produção e seu nome voltou ao esquecimento. Nesse período de esquecimento vi entrevista do Zico no programa "Bola da vez", da ESPN. Zico vê que algo aconteceu na Olimpíada passada, quando Ronaldinho foi convocado sob pressão e fracassou. O caso Ronaldinho pode ser elucidativo para se pensar em coisas como pressão, clamor da impresa e voz da galera quando se fala em Neymar e Ganso.

Inegável que as atuações recentes dos dois foram brilhantes e qualquer um com mais de um nerônio se perguntaria como não convocá-los para Sulafricana Copa. Há razões de sobra para convocá-los. Jogadores de "confiança" de Dunga para lugares que eles ocupariam não vivem momento de esplendor. Pelo futebol que ambos têm apresentado, a Seleção teria um toque de classe que, para muitos, falta à pragmática equipe de Dunga. À Seleção cabe se ajustar aos talentos disponíveis e não reter talentos porque há um esquema e um "grupo fechado", etc, etc. Mas, creio, as coisas não são tão simples assim. Nesses momentos, esquecimento acaba bem visto e pressões, clamores envolvem paixões que embaralham supostas alnálises sérias.

Neymar e Ganso jamais foram convocados e a imprensa esquece as coisas com muita facilidade. Antes do final do Brasileiro do ano passado, não seriam lembrados com nomes como Diego Souza e Diego Tardeli. Sobre esses dois, com os dois santistas em momento esplendoroso, quem pediria a convocação para o Copa? Não se passou tanto tempo assim; não mais que um semestre. Jogar com a camisa amarela, como muitos sabem e esquecem, pesa. É possível fazer uma lista infinda de grandes jogadores que não se deram bem com a amarela. Jogar bem o atual campeonato paulista, ainda que muito bem, não é, como sentiu o grande Messi, como pegar uma defesa como a da Inter de Milão, quando de fato se tem a prova dos 9. E isso, convenhamos, está longe do que Neymar e Ganso enfrentaram.

Tudo isso para dizer que não merecem ser convocados? Não, não só acho que merecem como até acredito que Dunga os convocará, e acertadamente. Tudo isso, sim, para dizer que, se convocados, não será surpresa se não se ajustarem. Não é uma aposta que faço. Não torço para que fracassem, mas o futebol tem caprichos que não podem ser esquecidos. Em 82 Telê foi chamado de burro porque não levou ponta (direita) para a Copa. Havia até um personagem no programa do Jô Soares que clamava: "põe ponta, Telê!" Telê não levou ponta e o Brasil perdeu a Copa. Só para tocar na memória dos esquecidos: a seleção de 82 é mais lembrada que a campeã invicta, sem empates, de Felipão em 2002.

O que acho importante ver no clamor pela convocação dos dois santistas é que seria muito bom para eles não estarem na lista de Dunga no próximo dia 11 de maio. Ficaria o mito pela ausência e eles, jovens, têm longa carreira pela frente. Convocados, ninguém espera que sejam menos que mágicos. Duas vezes eleito melhor do mundo pela Fifa antes da Copa de 2006, se tivermos memória, bem saberemos o quanto isso pesou na cabeça de Ronaldinho.

Claro, alguém pode argumentar que isso só se saberá se forem convocados e que merecem convocação. Concordo plenamente com esse raciocínio. Então quem assim argumentar não diz, senão, que Neymar e Ganso são apostas. Mas, se é para ficar na aposta, creio que Dunga tem boas azões para apostar na equipe que montou. Se a Seleção de Dunga carece de talentos como Neymar e Ganso, é verdadeiro também, como sabem os argentinos, que a seleção de Dunga não é perdedora. E como pressão, clamor, voz da galera dão a tona nesses momentos, fiquemos com um bordão: time que ganha não se mexe. Num eventual fracasso não faltarão os que crucificarão a Era Dunga. Só para lembrar, foi assim em 90.

*Humberto Pereira da Silva, 46 anos, é professor 
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.

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