terça-feira, 20 de setembro de 2011

Me engana que eu gosto

No fim da década de 1970 havia um ditado que rezava que "quando a Arena vai mal, mais um no Nacional; quando a Arena vai bem, mais um também" para explicar o inchaço do número de times no Campeonato Brasileiro, além de demostrar como os dirigentes, politicos ou dos clubes, usavam o futebol como instrumento de manobra.

Os políticos não usam mais a bola com tanta frequência por conta de uma mudança no comportamento do eleitor. Já os dirigentes dos clubes continuam useiros e vezeiros da prática, já que os torcedores se prestam ao papel de massa de manobra. No lugar de clubes no Nacional, contratações de impacto para o clube, mesmo que o caixa não suporte tamanha estripulia.

Pior que isso, não há critério técnico algum. O negócio é dar munição para os torcedores mais bravateiros fanfarronearem com os rivais. E ele, torcedor, aceita de bom grado, invariavelmente, mesmo que o risco de o negócio fazer água seja iminente.

Vejam o Palmeiras, em 2008: time redondinho, Jorginho, hoje na Lusa, com uma campanha irrepreensível. E o que fizeram? Além da troca pelo Muricy Ramalho, trouxeram o Vagner Love para o ataque, sem a menor necessidade. No caso do técnico, Muricy tinha história suficiente para justificar sua chegada ao Palestra. Já o Artilheiro do Amor, além de brilhar em uma Série-B, em 2003, nunca fez nada que justificasse o empenho para trazê-lo. Deu em nada, é claro.

Agora fazem a mesma coisa com o Valdívia. El Mago, como é chamado, nunca jogou o que pensam (ou ele mesmo pensa) que joga. Um ou outro lance esporádico, um ou outro chute no vazio, um ou outro gol e um ou outro dia fora do Departamento Médico do clube. E custou €7 milhões ao cofres do Palestra, que acaba de perder a chance de recuperar parte do investimento ao não negociá-lo com um Al qualquer coisa de algum país do Oriente Médio.

São Paulo e Corínthians contrataram o Imperador Adriano, mesmo com toda a fama de jogador-problema que o atacante tem. Ele alterna jogos fabulosos com confusões homéricas, o que põe em risco o alto investimento que se faz ao contratá-lo. Além do mais, se não estiver fisicamente nos cascos, Adriano não passa de um jogador comum, mas com um chute muito forte. Lesionado assim que chegou ao Parque São Jorge, ainda não entrou em campo.

Agora é a vez de Luis Fabiano, que nunca ganhou nada de relevante no clube e sempre negou fogo nos jogos grandes, ser a bola da vez. Foi recebido por mais de 40 mil ensandecidos tricolores no Morumbi, se machucou e ainda não estreou. Pela história no clube do Jardim Leonor, não espero muito dele.

Mas a cereja do bolo está no Flamengo: Ronaldinho Gaúcho foi disputado a tapa por Palmeiras, com quem estaria apalavrado, Grêmio, que o revelou, e Flamengo, que acabou levando a melhor. Ou a pior, pois o ex-melhor do mundo até agora não justificou os milhões de reais tirados sabe lá Deus de onde para trazê-lo. Alguns golos, o título carioca, mesmo sem ter brilhado no campeonato e bons jogos enquanto o Rubro-Negro esteve bem como um todo, o que lhe valeu a volta à Seleção, onde jogará o mesmo de sempre. Agora o Flamengo, que ficou invicto por quase sete meses, está em queda-livre e ele se esconde em campo.

Aí o torcedor, que ria feito uma hiena, amaldiçoará o que meses antes havia abençoado. Mas não tem nada não. É só trazer mais um jogador com muito nome e pouca bola, que o pessoal da arquibancada continuará dizendo "me engana, que eu gosto".

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