sábado, 7 de junho de 2014

A primeira Copa de Neymar Jr.

*por Humberto Pereira da Silva


Para a história, para o bem ou para o mal (Correio do Estado)

Quando Dunga anunciou a convocação para a Copa de 2010, duas ausências foram amplamente discutidas: Paulo Henrique Ganso e Neymar. Quando Felipão anunciou os convocados para a Copa de 2014, havia duas certezas: Neymar estaria na lista, mas Ganso não. Com vinte e dois anos, o jogador do Barça disputará sua primeira Copa. Mais que isso, nesses quatro anos ele se tornou o jogador de futebol mais badalado do país. Ganso, tudo indica, mais alguns anos e mal será lembrado.

Antes da Copa do Mundo de 2006, Ronaldinho Gaúcho havia sido eleito pela FIFA, pela segunda vez consecutiva, melhor jogador do mundo. Era não só o melhor jogador do Brasil, mas em torno dele havia uma desmedida idolatria: o craque Tostão, na época colunista esportivo do jornal Folha de S. Paulo, chegou a dizer que Ronaldinho era inferior a Pelé, mas superior a Maradona. Na Copa, Ronaldinho sucumbiu à pressão e fracassou. Jamais se recuperou do fiasco, e hoje vive um final de carreira melancólico, para quem se esperava ficasse abaixo apenas do Rei.

Neymar não vem para essa Copa com o peso que carregava Ronaldinho em 2006. Os holofotes do mundo hoje apontam para Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Vale dizer, em nível mundial, o craque brasileiro hoje não tem o status de estrela de primeira grandeza, e sim de promessa. Mas no Brasil a grande mídia não tem exatamente essa compreensão e o trata como se ele houvesse adquirido, sem a eleição da FIFA, a condição de estrela de primeira grandeza. Para a mídia brasileira, ele está em posição similar a de Ronaldinho em 2006.

Claro, numa Copa disputada no Brasil, e uma possível conquista, Neymar dificilmente perderia a eleição de melhor do ano pela FIFA. Não só confirmaria a expectativa em torno dele, mas daria resposta num ponto crucial na carreira de um grande jogador: a capacidade de suportar pressão e, para além de malabarismo, provar a condição de craque que merece, de fato, figurar entre os maiores da história. Bem entendido, ninguém duvida que ele não seja protagonista numa eventual conquista.

Ninguém duvida também que ele será o principal responsável por uma eventual perda de título. A esse respeito, no Brasil a história é cruel. Jairzinho, o furacão da Copa de 70, foi execrado pela derrota em 74. Isso para ficar num exemplo de memória. E para ressaltar que Neymar, em sua primeira Copa..., tem diante de si uma cobrança enorme. Sem meio termo, ou se coloca entre os maiores ou fica exposto a, em 2018, ser lembrado como um Ganso hoje.

Não se trata de discutir suas qualidades. Não creio que Ronaldinho Gaúcho depois de 2006 tenha desaprendido, ou que não passasse de produto de mídia. Da mesma maneira, não acredito que Neymar seja apenas uma construção da mídia. Trata-se de ver o que ele simbolicamente representa, na comparação com Ronaldinho em seu auge, na expectativa criada.

Neymar jogará essa Copa para ganhar e sair como herói, se inserir no rol dos maiores. Do contrário, dificilmente passará de um jogador entre tantos, um Jairzinho, um Ronaldinho Gaúcho qualquer... Mas, perguntaria alguém um tanto irritado: Cristiano Ronaldo, melhor do mundo pela FIFA ano passado, não jogaria sob pressão maior, ora pois?

Portugal não disputa Copa do Mundo com responsabilidade de conquista; no melhor cenário, chega às semifinais. E aqui eu ironizo Tostão: se Portugal chegar entre os quatro, Cristiano Ronaldo restará para a história abaixo de Pelé, mas acima de Eusébio. Ninguém duvida que se isso ocorrer ele será o protagonista.

*Humberto Pereira da Silva, 50 anos, é professor 
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.

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