sábado, 14 de junho de 2014

Queda do império

Nunca na história das Copas do Mundo um campeão levou uma cacetada tão grande na defesa do título como a que a Espanha levou hoje, da Holanda, na chuvosa Salvador. Desde que apanhou de seis do Brasil, no jogo que ficou marcado pela marchinha "Touradas em Madri", de Braguinha, sendo entoada por mais de 150 mil vozes, a Fúria não tinha as redes balançadas tantas vezes em Mundiais.

A hecatombe que pode ter posto termo, definitivamente, à supremacia espanhola, que durava desde a Eurocopa de 2008, pode se vista por dois prismas opostos. Deu tudo certo para a Holanda e tudo errado para a Espanha? Talvez. Pode ser simplesmente o fim de um dos ciclos mais vitoriosos da história? Pode ser que sim.

Até a marcação do golaço de empate do Van Persie, a Espanha era dona absoluta da partida. Havia feito 1 a 0 no gol de pênalti (inexistente) marcado por Xabi Alonso e amassava os holandeses contra seu campo, embora não criasse tantas chances de gol, como é natural no estilo de jogo "são dois times e o que tem a bola é a Espanha". 

Pouco antes do empate, Iniesta deixou David Silva na cara do goleiro e com Diego Costa, livre, na frente da moldura vazia. O médio resolveu tentar encobrir o goleiro holandês, que, caindo, conseguiu se esticar todo e evitar a dilatação do placar e a muito provável vitória espanhola. 

O segundo tempo veio e a fúria holandesa apareceu. Tudo bem que houve falta em Casillas no terceiro gol, em lance mais claro que o também faltoso sobre o brasileiro Julio Cesar, no jogo de ontem, mas o fato é que a Espanha não existiu na segunda etapa. Com Robben endiabrado, 5 a 1 foi um placar modesto.

São raras as vezes em que uma geração acolhe tantos jogadores brilhantes no mesmo país. E ciclos chegam ao fim. Não é coincidência que times cujo jogo tenha como base a posse de bola quase doentia, tenham ruído como castelos de areia. A própria Espanha, na Copa das Confederações, o Barcelona de Guardiola diante do Bayern de Jupp Heynckes, e mesmo o Bayern, este ano, já sob a direção de Guardiola, contra o Real Madrid. Em comum, como nesta tarde soteropolitana, os vencedores sufocaram a saída de bola e, quando a roubavam, chegavam em poucos passes na frente do gol. O terceiro gol da Holanda foi assim. Apertaram, tomaram a bola e precisaram de quatro passes para a bola chegar aos pés de Robben. Verticalmente.

Ainda faltam duas partidas e é pouco provável que Chile e Austrália tenham o poder de marcação da Oranje. Seja como for, La Furia tem lugar reservado no panteão dos grandes esquadrões da história. Tomara que avance, pois um time tão vitorioso não merece um fim tão melancólico.      

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