quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Não tenho nada com isso?

Aylan (de roupa mais clara) e seu irmão, Galip. Mortos aos três
e cinco anos, respectivamente (The Guardian)
Sabe o menino sírio cuja foto dele morto chocou o mundo? Ele é Aylan Kurdi, de três anos. Nesta foto aqui, ele estava com seu irmão mais velho, Galip, 5, que, com sua mãe, Rihan, também morreu na travessia que faziam para fugir da Síria. Não era só "o menino que morreu afogado". Tinha nome, sobrenome e uma história cheia de sonhos, como tantos de nós. 

Sua realidade, porém, mesmo parecida com a de tantos de nós, não desperta sequer curiosidade, quanto mais compaixão. Na África, todos os dias morre gente, vítima da guerra, da fome, do ódio, da ignorância, da ganância, da nossa indiferença.


Todos os dias, milhares de refugiados arriscam a vida em nome de um futuro melhor. Tentar atravessar a fronteira do seu país dentro do capô de um carro, ao lado do motor, parece ser menos penoso do que ficar. É a única chance, mesmo remota, de sobrevivência. A única certeza de quem fica é a morte.

Fomos todos Charlie Hebdo, mesmo a França estando tão longe. Mesmo não tendo nenhum laço nos unindo aos jornalistas mortos em Paris, exceto o apreço pela liberdade. Ao mesmo tempo, alguém morria na Nigéria. De fome ou vítima de algum atentado. E sequer notamos.  


Muitas das meninas sequestradas pelo Boko Haram seguem desaparecidas. Mas é a Nigéria, né? A cor da pele, a cultura, a dignidade deles. Nada disso nos diz respeito. 


Mesmo sendo tarde, peço perdão, Aylan e Galip, por todos aqueles que morreram e por quem nós não nos incomodamos. Indiferença também mata. A humanidade não deu certo. Definitivamente.

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