segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A fantástica fábrica de crises*

E o Palmeiras segue mostrando sua incrível capacidade de criar as próprias crises. Não importa o que aconteça, o time verde estará, pelo menos, à beira de uma.

Como se fosse um carma, o time do Parque Antártica, desde que foi rebaixado em 2002, nunca mais foi o mesmo, nunca mais teve um período duradouro de paz. Volta e meia a crise aparece e isso reflete no time, no gramado em que a luta o aguarda. Os bastidores verdes são uma guerra. O fantasma Mustafá Contursi ainda arrasta suas correntes pelos corredores do Palestra Itália, numa espécie de maldição.

Quando Mustafá saiu, conseguiu fazer seu sucessor, Afonso Della Mônica, que, tão logo assumiu, rompeu com o antecessor. Com ele, o homem forte do futebol era Salvador Hugo Palaia, que ficou mais famoso pelos pitos passados em público no então treinador Tite e pela célebre e folclórica auto-entrevista do que pelos feitos do seu departamento.

A escassez de títulos aliada à interferência do grupo do antecessor fez com que o presidente Della Mônica saísse sem deixar saudades. Como tudo é esquisito no Jardim Suspenso do Parque Antártica, Della Mônica também conseguiu eleger seu sucessor. Palaia, que não ficou, saiu atirando. Assumiu o Professor Luiz Gonzaga Belluzzo, homem de capacidade extraordinária e tido como grande conciliador. Economista respeitado em setores dos mais inóspitos, como política e economia, Belluzzo costurou o acordo que trouxe a Parmalat, lá no início da década de 1990. O sucesso da parceira todos conhecem.

Ninguém, portanto, em sã consciência, duvidaria da sua capacidade para segurar o rojão verde. No entanto o futebol, como senhor caprichoso que é, tem suas peculiaridades e é capaz de transformar gestores competentes em grandes decepções. No ano passado, após a derrota para o Tricolor carioca, no Maracanã, Belluzzo disse que se encontrasse o árbitro do jogo, Carlos Eugênio Simon, daria uma porrada nele. E dá-lhe suspensão - e crise, é claro. Em campo, jogadores trocavam sopapos e um título quase certo se transformou em perda até da vaga para a Libertadores.
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Agora o presidente teve que ser internado às pressas para uma cirurgia cardíaca. Como o destino é mais caprichoso do que o futebol, a presidência caiu no colo justamente de Palaia, que já foi dissolvendo todo o Departamento de Futebol, num claríssimo gesto de vingança, como quem usa o clube para desopilar o fígado.

De algumas semanas para cá mais se tem falado em problemas como atraso de direito de imagens do que do próprio time de futebol. Felipão, que voltou sebastianamente para o clube, não consegue emplacar uma sequência de bons resultados e ainda tem que aplacar a insatisfação de alguns jogadores, como Valdívia, que fez beicinho ao ser substituído a cinco minutos do final do clássico contra o Santos. Scolari, que não é de adular ninguém, avisou que quem manda é ele. Como em-casa-que-falta-o-pão-todo-mundo-grita-e-ninguém-tem-razão, a fantástica fábrica de crises do alviverde segue a todo vapor. E Willy Wonka para tocar é o que não falta.

*agradecimento ao jornalista Fábio Lucas Neves, da TV Bandeirantes

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