terça-feira, 4 de outubro de 2011

A tristeza e o olhar

A tristeza é um dos estados de espírito mais nobres que existem. É sincera, verdadeira. Ninguém consegue inventá-la. Só é capaz de demostrar quem a sente de verdade. Até uma lágrima pode ser dissimulada. Um semblante fechado, sombrio, tudo isso é capaz de ser produzido. Mas não um olhar.

Um olhar triste pode parecer perdido, em busca do nada, mas na verdade está voltado para dentro de si mesmo, pois é lá que procura as respostas, embora quase nunca as encontre.

Não se deve desprezar a tristeza, da mesma forma que é perigoso superestimá-la. Como um bom vinho, deve ser apreciada na medida certa: menos é desperdício, enquanto que mais é perigoso tornar-se refém.




Como o vinho é cantado no fado, a tristeza só faz mal a quem a julga ser ninguém e dela faz pouco. Mesmo porque um sentimento tão puro não deve ser tratado de qualquer forma, pois não é a esmo que surge.

Surge, pois, numa perda de um ente querido, de um sonho, de um amor. Também, e principalmente, quando o sonho e o amor na realidade são um só. Esta é a mais dolorida. E também é a mais bela de todas, a mais digna.

Cada um reage de uma forma, conforme é sua tenacidade, sua maneira de ver e sentir. Seja como for, portanto, merece todo respeito e consideração. E mais uma vez como o vinho, deve ter seu tempo de amadurecimento, de cura, sob pena de, caso não seja conservada da maneira correta, virar vinagre e perder seu sabor e essência.

Ela mora dentro do peito, mas pode ser vista pela janela do coração, que é o olhar. Um olhar triste, verdadeiro, leal. Leal como a tristeza. Leal como o amor.

1 comentário:

Dani Lusa disse...

E ainda dizem que o triste não é belo. Você fez da tristeza um belo texto, Marcos. Adorei.

Um beijo,
Dani.