sábado, 8 de junho de 2013

Tragam mais milho!

por Vinicius Carrilho*


“Ouvi dizer que este é um país de ladrões. Que Ali Babá se babava de inveja de nós. Quem é que já viu tantos ladrões, alegremente, roubando outros tantos ladrões? Ouvi dizer que aqui se rouba beijo, rouba cena, rouba grana...”.

Os versos iniciais deste texto são os mesmos cantados na música “A baba do Ali Babá, gravada por Zé Geraldo, um dos grandes cantores deste país, que, talvez por fazer música de extrema qualidade, não tem o reconhecimento que merece. A canção não é nova – bem como as falcatruas feitas por aqui -, mas serve muito bem como tema para os acontecimentos recentes envolvendo os “legados ilegais” construídos para as competições esportivas.

O mais novo caso é o do Estádio Olímpico João Havelange, o popular Engenhão. Seis anos após sua inauguração, descobriu-se que o estádio é frágil como um Galho Seco e precisará passar por reformas que durarão cerca de um ano e meio. Sim, o estádio, construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, que custou cerca de 380 milhões de reais aos cofres públicos, durou menos que seu homenageado (com todo o respeito que o distinto senhor não merece).

Rachadura na cobertura do Engenhão. Estádio custou
R$ 380 milhões
e está interditado (Marcelo Sayão/EFE)
Esse é mais um daqueles fatos que Nem Pink Floyd Explica, mas que infelizmente são corriqueiros por aqui. Engana-se quem pensa que o Engenhão é o único “legado inútil” deixado por essas bandas.

Para o mesmo Pan-Americano foi construído o Velódromo. Orçado em 134 milhões de reais e com pompas de o “melhor e mais moderno do país” - papos corriqueiros do Terceiro Mundo -, o local nunca mais foi utilizado para nenhuma competição e, para encerrar sua história com chave de ouro, acabou demolido não Muitos Janeiros Depois de sua inauguração. A justificativa é simples: as instalações não eram adequadas para a utilização nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Entre os inúmeros problemas, figuram coisas bizarras como número insuficiente de lugares, inclinação inadequada e colunas que bloqueiam a visão de árbitros e público.

BONITINHO, MAS ORDINÁRIO Velódromo foi demolido
por ser construído fora dos padrões
Outro local que vive em obras é o Estádio do Maracanã. Vira e mexe ele  é fechado para a realização das chamadas - Abre Aspas - “obras de modernização” – que, até a última reforma, não haviam resolvido o velho problema do campo de jogo em dias de chuva. A tal “modernização”, neste quesito, nunca foi Nada Além de Um Sonho -. Para a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014, o local passou por novas reformas e o custo, sempre de verbas públicas, ultrapassou – e muito – o valor de 1 bilhão de reais.

O interminável Maracanã: estádio novo em folha, mas que precisará ser 
reformado para os Jogos Olímpicos de 2016 (Cristophe Simon/AFP)
Como desgraça pouca é bobagem, no último mês de abril, em um excelente trabalho de reportagem feito por Gabriela Moreira e Eduardo Tironi, da ESPN Brasil, descobriu-se que o “Novo Maracanã” não atende as exigências do Comitê Olímpico e necessitará de novos ajustes para as Olimpíadas. O governo do Rio de Janeiro nega que uma nova reforma irá acontecer, mas, como sabemos, neste país qualquer estrangeiro endinheirado usa a boa e velha tática do Ou Dá ou Desce, e nós, como em uma cena entre O Pastor e o Rebanho, aceitamos tudo.

Maracanã, Velódromo e Engenhão são só alguns capítulos dessa novela, aparentemente eterna, que vivemos neste país. Diante dos fatos, a projeção para o que acontecerá pós Copa do Mundo e Jogos Olímpicos só pode ser a pior possível: a gastança de dinheiro público em inutilidades continuará desenfreada; os bolsos dos poderosos continuarão se enchendo; e o povo continuará aqui, neste Mundo ‘Véio’ Cansado, acreditando em toda aquelas Promessas de um Idiota às Seis da Manhã feitas por quem quer – ou precisa – tapar o sol com a peneira.

A grande verdade é a que o Cidadão, verdadeiro financiador de todas essas obras – e que provavelmente nem perto destes locais irá passar durante os eventos–, continuará passivamente assistindo todo esse Banquete de Hipócritas, enquanto se ocupa em atividades, para muitos, mais importantes, como, por exemplo, dar Milho aos pombos.


Ps: Todas as partes grifadas são nomes de canções gravadas pelo genial Zé Geraldo. Ele, ao contrário de todos os fatos citados no texto, é uma das coisas que o brasileiro deve se orgulhar. 


* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.


1 comentário:

Jorge Ramiro disse...

Este é um símbolo de uma geração, com certeza é. Eu tenho um petshop e vendo brinquedos para cachorro com a imagem de muitos ídolos da música.