segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Titanic preto e branco

por Vinicius Carrilho

Grandioso, aparentemente indestrutível e que acabou em tragédia. Dessa forma, as histórias do Titanic e do Corinthians de 2013 se cruzam. Talvez com uma diferença: no alvinegro, todos os presentes merecem receber uma parcela de culpa pelos acontecimentos.

É quase uma lei natural humana: um homem, quando chega ao topo, tem grandes dificuldades de encontrar uma nova meta e, sem qualquer ambição, torna-se acomodado. Acomodação é a palavra que melhor define o que aconteceu após o ano de 2012 com essa equipe que até conseguiu dois títulos em 2013 – de pouquíssima expressão, é verdade –, mas decepcionou a todos.

Talvez grande personagem – porém não único - da fase vivida pelos remanescentes, Emerson Sheik seguiu por muito tempo prestigiado, mesmo não tendo uma partida de destaque desde 04 de julho de 2012. No começo do ano afirmou estar um menino, apesar de seus 35 anos. De fato, não mentiu. Suas atitudes na temporada foram de um verdadeiro juvenil. Com míseros cinco gols em quase dez meses, o jogador envolveu-se em polêmicas desnecessárias, bateu o pé para forçar uma renovação contratual de dois anos, recebeu 17 cartões amarelos e atingiu recordes inacreditáveis para um atacante, como três suspensões em pouco mais de um mês.

Dos que chegaram, Alexandre Pato pode ser apontado como o mais fiel retrato dos acontecimentos. Contratado por 40 milhões de reais e muito badalado, o jogador tornou-se uma espécie de Túlio Maravilha da nova era. Assim como o artilheiro dos quase mil gols – contagem que também é “quase” verdadeira -, Pato passou boa parte do tempo na reserva, mesmo sendo um dos artilheiros da temporada. Se o futebol não é nada vistoso, os números mostram o atacante efetivo e a história aponta que ele acabará como Túlio, em 1997: vai embora sem deixar nenhuma saudade.

Se outrora foi merecedora de inúmeros elogios, neste momento a diretoria também merece ser criticada. Perder Paulinho para o futebol europeu era inevitável, mas repor a perda com Ibson e Maldonado beirou a insanidade. Apesar das várias lesões terem atrapalhado a equipe no segundo semestre, a montagem do elenco acabou mostrando-se equivocada. Além de atletas sem a menor capacidade de fazer parte do plantel corinthiano, as categorias de base do clube cada vez mais dão sinais de total falência, não conseguindo revelar sequer um jogador mediano para compor o grupo.

O mais pressionado dos personagens, Tite é quem menos tem culpa em todo o dramático enredo. Sem conseguir repetir escalações e comandando profissionais sem qualquer ambição, o técnico acabou tornando-se um verdadeiro passageiro da agonia. Porém, em alguns momentos – estes, aliás, assumidos pelo próprio – se equivocou em escolhas e deixou o seu característico “me-re-ci-men-to” de lado para apostar em suas convicções. Com contrato até o final deste ano, deve ser o primeiro a puxar a fila das despedidas.

Por fim, bandidos fantasiados de torcedores e até verdadeiros adeptos também atrapalharam a equipe em 2013. Perdas de mandos de jogos por mau comportamento tornaram-se uma constante no alvinegro. Sem contar que a fiel torcida não deixou de ser fiel, mas perdeu sua essência humilde, maloqueira e sofredora. Se antes os gritos eram de Corinthians e a satisfação vinha de um simples carrinho ou daquele gol nos acréscimos, hoje a prepotência e soberba fazem da torcida uma espécie de plateia de teatro, que só se manifesta gritando o nome de jogadores ou exigindo um espetáculo em campo.


É com todo esse drama digno de cinema que se encerra o ciclo daquela que talvez tenha sido a equipe mais vitoriosa dos 103 anos de Sport Club Corinthians Paulista. Ainda restam pouco mais de dois meses de temporada e, no mais otimista dos cenários, o Titanic preto e branco seguirá afundando, até esse 2013 – que de fato foi um ano “treze” para o alvinegro – acabar. Talvez como uma justa homenagem, enquanto o naufrágio acontece, assim como no filme, a banda não irá parar de tocar e, caso não seja o melancólico Hino Circunstancial, a canção provavelmente será a clássica Valsa da Despedida. 

*Vinícius Carrilho é osasquense, maloqueiro, sofredor e gostaria
de ganhar a vida contando piadas, mas o Corinthians tem feito
isso por ele e, depois de ontem, talvez nem se lembre que tem 22 anos.

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