segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Benfica 2 x 0 Moreirense - um adeus à altura para o projeto de reconquistar a Europa a partir do Seixal

ÚLTIMO ATO Autor de gol, registro limpo e melhor em campo. Não podia ser melhor a despedida do único fruto do Seixal que JJ queria (Foto: Manuel de Almeida)

Quem atentou-se não só ao 11 inicial do Benfica que venceu o Moreirense por 2 a 0, como também a quem foi opção no banco de suplentes, teve a certeza, se é que havia alguma dúvida, de que Luís Filipe Vieira acordou de seu 
sonho reconquistar o futebol europeu a partir do talento que floresce no Seixal. 

Entre os 19 escolhidos para a partida, somente Rúben Dias e Nuno Tavares saíram das categorias de base do Benfica. Já não havia Florentino ou David Tavares, que já foram emprestados, ou Tomás Tavares, ou Jota, que já apontaram à porta de saída. Ou Ferro, que cada vez conta menos para Jorge Jesus. E, a partir desta segunda-feira, já não há o camisola 6, que completou três anos desde que estreou no time principal e cumpriu o curso natural de quem começa a jogar à bola em um clube que, por mais bonita que seja sua história, é um entreposto para clubes mais poderosos. Ainda mais quando o cenário é amenizar as perdas causadas pela ausência benfiquista na Liga dos Campeões.

Devaneios do presidente à parte - e considerando a fragilidade do adversário, é claro -, nota-se um Benfica cada vez mais forte em campo. Sem o faz-tudo Taarabt, o pouco combativo Weigl foi preterido por Pizzi, que deve atuar cada vez mais longe da área para ser o organizador desde trás (o que faria Gérson, caso deixasse o Flamengo para juntar-se novamente a JJ). Outro fator positivo é a afirmação de Gabriel, pé pensante na zona de destruição do jogo e com rara disposição e qualidade para romper linhas inimigas inversamente proporcional ao azar que carrega por sofrer lesões quando atinge seu melhor rendimento, além do entendimento que surge risonho entre todas as peças do setor ofensivo, com ou sem a bola.

O Benfica à Jorge Jesus é o retrato do atual estágio do futebol português, em que os principais treinadores buscam ter a bola, atacar espaços e sempre ter pelo menos três jogadores para seguir a jogada, seja qual for a zona do campo de ataque. Assim, hipóteses de gol se amontoam com a mesma naturalidade que foram perdidas, o único ponto a se lamentar. O festival de golos perdidos teve chance com goleiro, sem goleiro, de fora da área, de dentro da área, parando na barra, de cabeça, podem escolher a natureza do perdulário time que finalizou 29 vezes para conseguir acertar duas.

Claro que é mais complicado corrigir um time sem capacidade de criação do que um que constrói, mas erra os remates, mas há que ver visto com calma, qualquer que seja a medida que cada um vê no conteúdo do copo. Os que olham terrificados para os falhanços, lembrem-se de que o trabalho de Jorge Jesus ainda dá os primeiros passos. Já os mais entusiasmados com a alta velocidade do time, o poder de dínamo de Rafa e o entrosamento da dupla Everton/Grimaldo, que parece terem nascido um para o outro, percebam que o único dos de Moreira de Cónegos que teve algo a dizer foi o guarda-redes Mateus Pasinato. 

Para o futuro próximo, será preciso ver como o Benfica se arruma sem o patrão da zaga, que deverá ser substituído por Otamendi, de igual disposição, mas sem lá muita margem de progressão na carreira, e sem a capacidade de buscar passes desbravadores que destacou o último dos do Seixal, o melhor em campo no jogo em que toda a gente benfiquista acordou do sonho de Vieira.

Vlachodimos: uma pena que um raro momento sem sofrer golos coincida com a inevitável saída do miúdo que vai ganhar o mundo (se não for triturado pela máquina de moer defensores do Guardiola):
André Almeida: muito obrigado pela exibição em grande. Faça o mesmo contra o Porto, SFF;
Rúben Dias: precisamos entender que criamos os filhos para o mundo, não para guardá-los numa caixinha que ficará na cristaleira. Vá, miúdo, cumpra seu destino de ser o melhor zagueiro do mundo, mas saiba sempre que seu quarto cá estará à sua espera; 
Vertonghen: admita, Jan. Não virias se soubesses que vais ter que jogar com o Ferro, virias? Em todo caso, agarre-o pelos colarinhos no primeiro indício de medo que a cara dele invariavelmente terá;
Grimaldo: não, Alejandro, o Vertonghen não vai ter que se arranjar à direita para colmatar o Rúben. Podes dormir tranquilo (Nuno Tavares: lembras que o Jota jogava cinco minutos por jogo? Olha onde ele está, ó, pá!);
Gabriel: são sei se acreditas nisto, mas era bom que fosses à benzedeira só para garantir que não vais partir um braço ou machucar o olho. É só uma sugestão; 
Pizzi: a cada jogada certa em que tomas parte, imagino-te a fazer o gestual do Cristiano a apontar para o relvado e falar, olhando para o mister, "Eu estou aqui!" (Chiquinho: imagino esta conversa ao pé do banco:
- Consegues fazer o que deveria fazer o Weigl?
- Ó, mister, não é lá muito difícil!
- Anda lá, então, Francisco.
Não sabemos se é real, mas que o Francisco consegue, ah, consegue; 
Rafa Silva: nada como ter um treinador que percebe bem o jogo, não? Até escala os melhores, mas duvido que foi preciso vir ao Brasil para aprender isto (Pedrinho: já pensaste em usar creme de pepino para as olheiras, Pedrinho? Resolve lá isto, o resto se vê");
Everton: não me agrada a ideia de que, jogando o que está a jogar, devemos ver o Everton a vestir a camisa do Wolverhampton na próxima época (Weigl: ainda tens casa na Alemanha, Julian?";
Waldschmidt: não sei como era em Friburgo, ó, rapaz, mas por aqui ainda é permitido marcar golos em dois jogos seguidos (Seferovic: ora, viva! O velho Haris voltou à forma! Julgue-me quem quiser, mas acho o helvético útil porque não faz pouco pelo pouco que joga, literalmente);
Darwin Núnez: enquanto não entrares com um DN na camisola, não me preocuparei por não teres anotado o seu golo ainda. Mesmo que os distribuas à fartura para os companheiros. Andou por aqui há pouco um gajo que teve estes problemas.

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