segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Benfica - haverá vida sem o patrão da defesa? Sempre há, e é preciso entender isto

Foto: slbenfica.pt

Quando o Benfica caiu para o PAOK na eliminatória para a Liga dos Campeões, uma certeza pairou sobre as cabeças inchadas encarnadas: seria preciso fazer dinheiro. E a melhor forma, se não a única, de se fazer dinheiro no futebol para tapar um buraco inesperado é vendendo. Era bonito imaginar que a solução seria fazer caixa com os excedentários, mas como é que se valoriza quem não tem lugar no seu próprio clube? 

Não há mágica no futebol. Nestes momentos, é preciso vender o que tiver de mais valioso para fazer frente às despesas. No caso do Benfica, apenas um jogador tinha todas as características que o mercado das grandes ligas quer: idade e margem para progredir, atuar em alto nível e um preço barateado pela necessidade do vendedor ser maior que a do comprador: Rúben Dias.

Único titular indiscutível da Seleção Portuguesa a andar com a águia ao peito, já era esperado que, cedo ou tarde, Rúben seria recrutado para uma liga mais poderosa que a portuguesa, mero entreposto para campeonatos com clubes de maior poder aquisitivo. Pior para o Benfica que a falta dos esperados milhões da Liga dos Campeões praticamente tenha anulado a capacidade negocial encarnada, tanto que, incluído Otamendi por €15 milhões, na prática as Águias venderam-no por €53 milhões, valor bem abaixo do que se esperava e que, sem o inflacionado argentino, deveria causar embaraços à direção benfiquista a poucos dias das eleições. Fora essa questão, porém, não se pode tratar disso com espanto.

Quem em sã consciência acreditou por uma átimo de segundo na utópica ambição de Luís Filipe Vieira de voltar às decisões europeias tendo o que vem do Seixal como base? Além do Caixa Campus não ser La Masia, mítica fonte (nem tão) inesgotável de talento para o time principal do Barcelona, não há em Portugal um único clube capaz de fazer frente às propostas salariais de clubes de segunda linha de uma das cinco ligas mais ricas, como um Wolverhampton, que trata os clubes de Portugal como uma grande feira livre. Imaginem quando a proposta vem de um clube onde o dinheiro jorra igual petróleo, como é o Manchester City? 

Nem o mais inocente dos adeptos acreditaria, a não ser que seja um parvo irremediável.

Por mais que faça falta a imagem do zagueiro firme, anímico, que nasceu para ser um capitão que independe de andar com uma tarja ao braço para sê-lo, o outro que vem no negócio, Otamendi, preenche também estes aspectos de postura que toda equipa deve ter - e que os adeptos praticamente tratam como fetiche quando quem os reúne é de casa. Neste caso, há até um ganho, dependendo dos olhos de quem vê. Internacional argentino, Otamendi já conhece o futebol português e tem uma rodagem que, obviamente, Rúben Dias jamais teria somente a jogar no Benfica, a não ser que a fasquia de suas atuações não fosse tão alta, o que faria desnecessárias análises como esta.

Rúben apresenta problemas que somente o tempo e a prática no mais alto rendimento irão corrigir, sobretudo nos jogos maiores. Somente na Seleção Portuguesa é que ele sempre apresentou o futebol que justificasse um investimento maior do que o feito pelo City e que era esperado antes da pandemia pelo presidente Vieira, que garantia ter conversas para abrir mão dele - e de Carlos Vinícius - por valores a rondarem os €100 milhões da multa. E, sabe-se, não é com a Federação Portuguesa de Futebol que se negoceia, é com o Benfica, e todo o entorno entra na conta.

Do lado prático, ao Benfica, seja qual for o defensor a preencher a lacuna do último titular produzido na Caixa Futebol Campus, cabe confiar na capacidade de Jorge Jesus para adaptar a forma de jogar sem ter o primeiro pé que construía as jogadas, lá de trás. . No mais, que se dê valor ao terreno percorrido por Rúben Dias desde os primeiros chutes, com 12 anos de idade, há 11 anos.

Montagem: Facebook

Queira ou não o torcedor encarnado, três temporadas a titular, uma Copa do Mundo no currículo, um título nacional e a ida para um dos grandes tubarões do futebol mundial é um percurso que nem todo grande jogador feito em casa cumpre por aí. Lembrem-se dos seus novos companheiros de clube, Bernardo Silva e João Cancelo, que mal frequentaram o balneário principal da Luz e que viveram todos os seus grandes dias na carreira a defender outro distintivo.  

Convenhamos: até que durou bastante.  

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