quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pílulas amadoras - 9

por Humberto Pereira da Silva*

 QUEM SEGURA? Sem apoio de lado algum, o rolar da cabeça
de Thiago Carpini é uma questão de tempo (Foto: Getty)

A eventual queda de Thiago Carpini exibe o quanto há de esdrúxulo nas decisões de um grande time no futebol brasileiro. Não é cabível imaginar que pessoas com o mínimo de inteligência e que ocupam a direção de São Paulo não tivessem diagnóstico das dificuldades do treinador para conduzir a equipa no Brasileirão. Mas,  passada a primeira rodada, e um primeiro fiasco contra o Fortaleza, e Carpini incrivelmente não é técnico pra um time como o São Paulo. 

Nessa "não é técnico para time do tamanho do São Paulo, o esdrúxulo. Ao demitir o técnico que podia ser demitido na véspera do Brasileirão, e assim com o técnico novo PLANEJAR a temporada, a diretoria do São Paulo acena com técnico novo passada apenas a primeira rodada. Nesse aceno, HOJE, o tamanho do São Paulo. O tamanho do técnico que foi contratado. Ou seja, Hoje, sem qualquer planejamento, um time que começa o Brasileirão com todas as incertezas possíveis. Como qualquer outro time que pulou da Série B e que, após duas ou três rodadas, troca o técnico para desviar a atenção da torcida e imprensa para a inevitável volta à Segunda Divisão.

PS. Alertou-me o editor deste blog, Marcos Teixeira, que há um ano a mesma diretoria demitiu Rogério Ceni logo depois da primeira rodada do Brasileirão. Vinha de uma eliminação precoce no Paulista, para o Água Santa, e o nível de atuações não subiu mesmo com os treinos entre a queda no Paulista e o debute no nacional. Nem a vitória na Sul-americana, contra o Puerto Cabello da Venezuela, manteve o treinador. 

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo


quarta-feira, 13 de março de 2024

PORTUGUESA - a estupidez e a hipocrisia

Foto: x/Lusa_Oficial


*Texto originalmente publicado no NetLusa

Desde 2014 o Campeonato Paulista é disputado com a atual fórmula de disputa, variando somente o número de participantes – consequentemente de jogos por equipe – e de rebaixados. Em 2014 e 2015, eram 20 clubes divididos em quatro grupos e caiam quatro para a Série A2, ao passo que outros tantos faziam a travessia contrária. Em 2016, para chegar ao número de 16 clubes e enxugar a competição, seis foram degolados e somente dois subiram. Desde então, são quatro grupos com quatro times. Em comum, a estupidez de não haver confrontos diretos, pois não há jogos dentro da própria chave, mas os chamados clássicos entre os quatro filhos preferidos estão mantidos.

A fórmula possibilita que clubes com grandes campanhas sejam eliminados já na primeira fase e outros, com quantidades risíveis de pontos ganhos, se apurem. Tudo depende do grupo em que estiverem. E é assim desde que a distribuição por grupos foi definida. Nas 11 edições dessa forma, em nenhuma os oito melhores no geral se classificaram. Entre 2015 e 2020, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo avançaram juntos ao menos até as quartas de final. Já são, portanto, quatro anos seguidos sem que os quatro alcançam simultaneamente os jogos a eliminar.

No ano passado, o Ituano se classificou com 12 pontos e despachou o Corinthians na fase seguinte, e esta havia sido a menor pontuação de um classificado até a Portuguesa conquistar a vaga com incríveis dez pontos, ao passo que o São Bernardo, que fez 21, ficou de fora. Foi – e está sendo – um escândalo!

A fórmula é boa? Não, não é. E é assim porque existe uma limitação de datas e é preciso garantir os confrontos entre os quatro, mas daí a ser justa essa barulheira toda? Ora, bastava ler o regulamento para saber que poderia acontecer. Aliás, bastava ler os regulamentos há 11 anos.

É mais escandaloso que os quatro filhos mais bonitos aos olhos da FPF recebam 40 milhões de reais para participarem, cinco vezes mais que cada um dos outros 12, com exceção do Bragantino, que recebe uns caraminguás a mais. Ok, é preciso que os clubes prestigiem a competição, mas essa diferença é obscena, para dizer o mínimo.

Não há injustiça alguma na classificação com este número de pontos que, na temporada passada, quase foi insuficiente para evitar a queda. Como os dois rebaixados estavam no grupo da Portuguesa, ela perdeu uma boa chance de somar mais seis pontos. Tira-se os seis que o São Bernardo somou contra Ituano e Santo André e os repasse para Lusa, em um exercício tão simples quanto safado no qual o representante do ABC e a Lusa trocam de chave, e a pontuação rubro-verde será maior. 

É estúpido? Sim, mas mais parvoíce que isso é maldizer o regulamento somente agora, mesmo tendo dez anos para notar isso.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Cuca, Bauermann, Robinho e a ética masculina do torcedor de futebol

*texto originalmente publicado no site Ludopédio (ligar)

Protestos abreviaram a passagem do treinador, então condenado
 por estupro, pelo Corinthians (foto: Meu Timão)

Cuca foi anunciado como novo treinador do Athletico paranaense e o caso da condenação por estupro quando ainda era um jogador no início da carreira e defendia o Grêmio voltou ao centro das discussões, como era esperado. Da mesma forma, também, discutimos uma porção de coisas: se ele poderia ou não voltar a trabalhar, se pode ocupar um lugar de liderança ou idolatria, mesmo se é culpado, já que o processo foi anulado e o crime prescreveu, portanto, sem haver a possibilidade de um novo julgamento. Até sobre a legislação suíça nós palpitamos a rodo nos últimos dias, como se estivéssemos falando de trivialidades como o preço da cerveja. Falamos de quase tudo, exceto o essencial. Não falamos sobre a vítima.

Precisamos discutir a ética masculina do torcedor de futebol e o que a constrói. Atenção! Não é a ética do torcedor masculino, é a ética masculina, pois há mulheres que reproduzem o discurso machista e duvidam da palavra da vítima, suposta ou não, como se o homem não fosse o agressor, apenas uma vítima da mulher ou das circunstâncias.

É uma construção social complicada de ser desfeita, mas é necessário. As escrituras, no nono mandamento da Lei de Deus, coisificaram a mulher. O que hoje é “não cobice a mulher do próximo”, era “Não cobice a mulher. Não cobice a casa do seu próximo, nem a sua propriedade, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao seu próximo”. A mulher era reduzida a uma propriedade.

Segundo a ética masculina do torcedor de futebol, é mais grave quando um Bauermann combina um cartão amarelo ou troca um pênalti por alguns trocados do que agredir, violentar ou matar uma mulher. Robinho, condenado por estupro na Itália, está livre a ponto de frequentar churrascos no Santos e ser tietado por um jogador que até outro dia respondia por violência doméstica.

“Ah, a moça retirou a queixa”, mesmo com farto material probatório. A retirada da queixa não significa que a agressão não existiu; a prescrição do crime não faz o estupro desaparecer.  E discute-se se o jogador estragou a carreira. “Que pena, tinha tanto potencial”. “Quem poderia imaginar? O jogador com mais títulos na história do futebol jogou sua história no lixo”. Que se lixe a história, a carreira. O valor disso é ínfimo ao pé do que destruiu.

Milly Lacombe, no UOL, questionou brilhantemente a formação do indivíduo. A mulher é educada a saber se portar, a se vestir sem provocar, a não se colocar em situações que favoreçam que seja violentada, como se seu comportamento justificasse o crime. Ao homem é ensinado a caçar e interpretar qualquer sinal de simpatia feminina como uma possível abertura de pernas. Seu capital social, e aqui reproduzo exatamente o termo que Milly usou porque não há forma melhor para se referir a isso: o capital social do homem aumenta conforme ele pega mais mulheres. Ela é a vagabunda; ele, o fodão.  

Da mesma forma que o menino espanhol chamou Vini Jr. de macaco porque reproduz o que observa no seu entorno, é ensinado que a mulher está em uma categoria inferior e deve servir ao homem, querendo ou não. Mais importante que discutir a punição e a recolocação profissional é rever como estamos educando nossas crianças, principalmente os futuros homens, para que eles não vejam as mulheres como mero instrumento para uma noite de farras, a tal travessura irresponsável, como qualificou na ocasião o colunista do jornal Zero Hora, Paulo Santana. Para o homem pode ser somente uma noite. Para a mulher, a vítima, é uma vida. É a vida dela, da família dela.

Não cabe mais repetir a célebre e infeliz frase atribuída a João Saldanha, "eu o quero para jogar no meu time, não para se casar com a minha filha", tão comum nos anos 1990, os tais anos de ouro dessa bobagem que chamamos de futebol raiz, o “futebol que respira”. Porque a mensagem é mais importante que o gol. Não é sobre ganhar ou perder, é sobre ser decente.  

E só seremos decentes quando interrompermos este processo, entendermos o valor e lutarmos de verdade para que as mulheres sejam respeitadas e tratadas como iguais.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Pílulas amadoras - 8 - O Palmeiras tem Mundial

*por Humberto Pereira da Silva

A Copa Rio. Foto: Divulgação

O Palmeiras tem mundial! A FIFA reconheceu em 2014 e documento recente ratifica: Palmeiras campeão da Copa Rio 51.

Futebol envolve paixões, gozações e jardim d'infância. Corinthianos, são-paulinos, santistas gritam: Palmeiras não tem mundial!

O jardim d'infância escamoteia, pois coisa de criança, o patético, o constrangimento, a HUMILHAÇÃO: o reconhecimento oficial da FIFA de que o Palmeiras tem mundial. 

A FIFA reconheceu, sim, a Copa Rio 51 como primeira competição internacional entre clubes. Mas, atropelos do que é tão só reconhecimento formal, burocrático, pois: não equiparou a Copa Rio 51 aos mundiais da FIFA a partir de 2000; mais, pois reconhecimento formal, o Fluminense, vencedor da Copa Rio 52, a última Copa Rio, pois, não tem mundial. 

Há um dado simbólico que as paixões, manobras de dirigentes e mesmo a imprensa fazem de conta não ver: um clube do tamanho do Palmeiras se HUMILHAR para ter reconhecido um título que nos áureos anos das academias Ademir da Guia simplesmente não tomava conhecimento e exibia seu gênio. 

Nos anos 60/70, o PALMEIRAS de Ademir da Guia e o Santos de Pelé desdenhavam a Libertadores. Uma competição na qual teriam de enfrentar a brutalidade de argentinos e uruguaios - e a complacência das arbitragens. 

Desdenhavam, portanto, um mundial que ao fim e ao cabo não movia os interesses econômicos de hoje. Santos preferia exibir Pelé em excursões pelo mundo a enfrentar argentinos e uruguaios em batalhas campais. 

O mundo gira, a bola gira, os interesses giram, interesses subterrâneos de dirigentes giram.

Simbolicamente, para mim, o que o Palmeiras perde com esse título postiço? A VERGONHA. Não se constrange ao se HUMILHAR para dizer TENHO MUNDIAL. 

Uma camisa com o peso da do Palmeiras não precisa se rebaixar a alguns gramas numa balança viciada. Mas se assim palmeirenses, torcedores, desejam com um quê de masoquismo, então: há 73 anos o Palmeiras não tem mundial; de lá pra cá o São Paulo tem três, Santos e Corinthians,  dois; nessa perspectiva, o Olimpia do Paraguai tem um (1979); logo, o Olimpia é do tamanho do Palmeiras. 

Humilhantes tentativas recentes de PALMEIRAS, Grêmio, Flamengo, Fluminense nos tais mundiais não preveem sorte diferente de outras aventuras nos anos vindouros... a bola gira, no giro, hoje, ser campeão mundial para sul-americanos como Olímpia e PALMEIRAS é obra divina, que faz Davi vencer Golias.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo


segunda-feira, 4 de março de 2024

BENFICA - carapaus, tubarões e a óbvia vergonha

Nem precisa de legenda. Imagem: x/fcporto 

Tubarão em águas nacionais, dentro do ecossistema do futebol, o Benfica é um carapau a nadar em águas repletas de predadores quando vai para longe da costa portuguesa. Ponto. É preciso entender isso para perceber que raio aconteceu a uma equipa que na temporada passada tanto fez e que, agora, mal se sustenta na briga pelo título nacional.

Se o Benfica, como o Porto e o Sporting, pesca os destaques dos outros clubes portugueses, quando está às vistas das grandes ligas, perde os seus. E só há um jeito de suavizar essas perdas: planejar, antever, perceber quem vai e ter à mão quem vem, de preferência já ambientado dentro do elenco.

O livro Soccernomics mostra como o Lyon se preparava para montar seu elenco. Mandava no futebol francês, antes do PSG ser adquirido pelo fundo de investimento do Catar, mas ainda assim não tinha como fazer frente a alemães, espanhóis, italianos ou ingleses, que sempre levavam seus destaques. Então identificava quem poderia sair e já tinha sob os olhos quem chegaria. E assim foi campeão sete vezes seguidas.

Grimaldo, Enzo Fernández e Gonçalo Ramos saíram. Era óbvio que sairiam. E como foi o processo para amainar isso?

Sequer houve. Para o lugar de Grimaldo, vieram Bernat (apoquentado por uma lesão crônica desde o PSG), Álvaro Carreras e Jurásek. E nenhum deles tem características semelhantes ao espanhol que hoje brilha sob as ordens de Xabi Alonso no Leverkusen, tanto que Morato e o faz-tudo Aursnes têm jogado por ali, onde poderia estar Ristic, melhor que os outros três, mas que foi dispensado para que Jurásek fosse contratado por 14 milhões. Após perder Ramos para o PSG, cerca de 40 milhões  foram gastos com os avançados Marcos Leonardo e Arthur Cabral, mas quem joga é Tengstedt, o mais tosco deles, mas que é capaz de pressionar a saída de bola mais que os outros. E ainda havia Musa. E, para ser Enzo, chegou Kökçü, melhor jogador do campeonato dos Países Baixos na temporada passada e aposta pessoal do treinador, que queria porque queria, mesmo com fartas opções no plantel para o setor. O problema é que ele não é Enzo. 

A chegada de Di María, um dos maiores jogadores da história, fatalmente faria o time perder um pouco do poder de pressionar após a perda da bola, que era uma das armas mais fortes no primeiro ano da gestão Schmidt, forçando o treinador a encontrar soluções para amenizar o impacto e aproveitar todos os benefícios ofensivos que Fideo poderia dar à equipa. Mas isso está longe de acontecer, pois o craque argentino, aos 36 anos, tem que correr atrás de lateral e ponta e quem mais cair por ali porque não há laterais e porque a entrada de Kökçü desequilibrou o time. Não por culpa dele, mas porque Roger Schmidt é teimoso e arrogante. E não há laterais porque Gilberto, reserva imediato de Bah, foi liberado para assinar com o Bahia antes que seu substituto fosse encontrado. A aposta em João Victor para o setor mostrou-se um equívoco fácil de prever pelas suas prestações a serviço dos franceses do Nantes.

O plantel foi mal montado, mas Schmidt, que em 2022-23 mal rodava o onze, razão que forçou Lucas Veríssimo a buscar minutos fora, agora raramente repete não só nomes, mas o sistema.

Florentino, o maior ladrão de bolas da última Champions, que dava sustentação defensiva e liberava o prodígio João Neves para ser o homem mais influente, mal sai do banco. Com ele a trinco, a linha com os três médios funcionava, qualquer que fosse a composição do trio. Quando Arthur Cabral começou a entender o jogo de pressão de Schmidt, voltou para o banco, tendo cinco ou dez minutos para jogar, dependendo do placar. Para caber Kökçü, recuou João Mario para a posição de 6 (ou segundo volante) porque não quer abrir mão da calma e do critério do jogador para o achar o melhor caminho. O problema é fazer isso na cabeça de área.

E fica tudo às costas de João Neves. Perde-se tudo assim: estraga o jogo de João Mario, obriga Di María a correr como um louco, anula Rafa Silva, que quando recebe a bola as defesas já estão postas e o espaço entre zagueiros e volantes, seu habitual parque de diversões, deixa de existir porque a bola é recuperada longe do gol adversário. Neves, coitado, é obrigado a viver como Sísifo e empurrar morro acima a pedra que fatalmente voltará ao pé da montanha, e perde seu melhor, que é a pressão no campo de defesa adversário, onde rouba a bola e avança com ela ou encontra, com passes medidos, gajos com camisolas iguais àquela que veste em espaços em meio a defesas desorganizadas. 

Vieram dois clássicos: Sporting, pela Taça; e Porto, pela Liga, com a possibilidade de abrir 12 pontos de vantagem aos azuis. Ora com avançado, ora sem, o Benfica apostou em formações com o meio-campo leve demais para enfrentar duplas como Hjulmand e Morita ou Alan Varela e Nico González, de bom trato à bola e fortes no combate. O futebol, desde sempre, é a luta por espaços, e não é somente com atletas pouco afeitos à imposição física que o Benfica terá a bola para servir seus tipos mais habilidosos. Fosse mais eficaz, a goleada teria sido aplicada pelos leões, que jogaram como quiseram e só não marcaram mais porque foram perdulários. Os sinais, porém, não foram notados e o Porto, sabedor das mazelas das gentes encarnadas, jogou para juntar sua melhor característica - a agressividade - às maiores deficiências benfiquistas.

Aí Schmidt tem a desfaçatez de falar que o time se preparou da melhor forma. Desculpas, não as deve porque perder é do jogo e é preciso entender isso para tirar a carga negativa que toda derrota traz e perder, ora, não só faz parte como é um dia três resultados possíveis, mesmo que a malta que consuma o jogo - atentem-se ao verbo consumir, não por acaso escrito aqui - só admita vencer. Obviamente, ninguém entra em campo para perder. Clara também é a dependência de uma série de fatores para que goleadas como esta aconteçam entre equipas niveladas. 

Ninguém se prepara para fazer 5 a 0 em um clássico, como respondeu o treinador Rogério Ceni, do Fortaleza, após uma pergunta imbecil feita durante uma entrevista. No entanto, dificuldades além das naturais para um jogo deste tamanho eram previsíveis quando insiste-se no que deu errado e o adversário é o Porto, que é forte nos duelos, tem atacantes móveis e é rápido a atacar pelas alas, sobretudo contra jogadores improvisados e mal protegidos pelos alas ou pelos centrais, que tinham que se preocupar com os gajos de azul.

No fundo, somente um dos lados se preparou para o jogo. Sérgio Conceição minou os pontos fortes, como o espaço para Rafa e a possibilidade de Di María fazer a diagonal para bater no gol ou servir algum tipo de vermelho.

Era de se esperar, afinal.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

BRASIL - de papelão em papelão é que se faz essa gestão

ESCADA ABAIXO Trabalho de Ramon é reflexo da desorganização
e do amadorismo da CBF (Foto: Joilson Marconne/CBF)

A eliminação do Brasil no pré-Olímpico, 20 anos depois de perder o bonde para os jogos de Atenas, o último em que a seleção brasileira de  futebol masculino não foi representada, é um vexame. Mesmo com a importância relativa do futebol nos Jogos Olímpicos, o Brasil gosta de jogar e é o atual bicampeão. Logo, tinha a responsabilidade de buscar uma das duas vagas. 

E como foi o projeto? Sequer havia um. Ramon Menezes, técnico de trabalhos questionáveis em Vasco, Joinville e Vitória, colecionou mais derrotas (17) do que vitórias (12), mas mesmo assim foi escolhido pelo ex-jogador Branco, o coordenador da base, e goza da simpatia do todo-poderoso e nada entendido Ednaldo Rodrigues, presidente por acidente da CBF. Na seleção principal, foi o tampão do tampão, e só existiu Fernando Diniz porque Ramon apresentou um trabalho ruim de resultados (derrotas para Marrocos, Senegal e vitória contra a Guiné, no jogo do uniforme preto) e, sobretudo, desempenho. De volta à base, foi eliminado na fase de quartas de final do Mundial por Israel. E a cereja do bolo foi a malograda campanha em busca por Paris.

Mais ou menos como foi em 92, com um time que tinha Cafu, Roberto Carlos, Marcio Santos, Marcelinho Carioca, Elivélton e Dener, mas tinha Ernesto Paulo no comando. O mesmo Ernesto Paulo, no ano anterior, foi tampão da seleção principal no pós-Copa 1990, na primeira derrota para País de Gales. Antes, tinha sido técnico do supertime do Flamengo que venceu a Copinha de 90. Da Lusa de 91, só levou Dener.  

O time, se é que pode ser chamado assim, piorou a cada jogo, como se cada treinamento potencializasse os defeitos. Mas Ramon, com o cartel às vistas de quem quisesse, inclusive para a cúpula da CBF, fez o que se esperava dele. Recorro a Esopo: não se deve culpar o escorpião por picar o sapo. Afinal, o escorpião fez o que sabia e podia, limitado à condição de escorpião que é.

A culpa é dele? Não só. A CBF é uma zona, e a campanha da seleção principal nas eliminatórias é um atestado dessa bagunça. O pré-olímpico é tiro curto e o resultado está aí.

"Mas não se produz jogadores como antes". Mais ou menos. Mesmo sem todos os melhores jogadores da faixa de idade, o Brasil tinha John Kennedy, Pirani, Alexsander, Gabriel PEC e Andrey. Mas tinha Ramon. E só tinha Ramon porque Ednaldo Rodrigues faz o que quer, como quer e quando quer, mesmo não tendo legitimidade e competência para ocupar o cargo que ocupa.

Quanto à Argentina, está à procura de um rival no continente.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

PORTUGUESA - Joaquim e Manuel

Joaquim apostou no que acredita e perdeu. Como acredita, manteve a fé, mas perdeu novamente. Joaquim é teimoso. Joaquim é uma besta.

Manuel, por sua vez, também apostou no que acredita e, como Joaquim, deu com os burros n'água. Da mesma forma, sustentou sua posição, mas diferentemente de Joaquim, venceu. Manuel é convicto. Palmas para Manuel.

A vida é dura, Joaquim. Dura e cruel. Em condições normais, o tempo e as condições de trabalho é que devem aproximar um projeto de seus objetivos. Para resultar, depende de fatores como filosofia, método, treinamento e tempo. E o essencial para tudo isso: quem possa desempenhar as funções dentro do estabelecido. Sem isso, o projeto, se é que há, vira passageiro da própria sorte.

Aí, Quim, acreditas que o que pensas é o certo. Então insistes, mas não logra. Aí, tens lá um tempo para ajustar algo aqui e acolá, mudança de características, como três gajos que marcam mais e, em vez de uma referência entre os zagueiros, dois tipos capazes de correr. Ok, são mudanças.

Mas olhe que azar, pá! Pediram para que tirasses um gajo e justamente o substituto dele é quem entrega o golo, tão caricato que faz pensar em algo errado, embora a resposta deva estar na falta de atenção de quem deveria tomar sentido no jogo. É uma má sorte do caraças, pá!

Mas aí, o que fazes? Toca a rodar a bola de pé em pé, pelo meio, e volta o raio do esférico. E tentam pelo meio. E tentam. E tentam. E nada. Isso não lhe diz nada? Algo assim: esses rapazes não estão prontos para este tipo de jogo.
 
Sabe o que diferencia um turrão de um convicto, Joaquim? O resultado. É o mesmo que faz do gajo um sujeito bestial ou uma besta. Se estudastes a história do distintivo que comandas, pá, já terás lido isso.

Na verdade, o problema nem é a falta de resultados. Se o tipo que entregou o golo não tivesse feito isso, talvez o desenho da partida tenha sido outro. Se a pancada que foi na barra dia desses tivesse saído dez centímetros para baixo, poderíamos até ter vencido. Mas se minha avó tivesse uma roda, seria um monociclo, daqueles em que palhaços andam no circo. O problema é a teimosia que faz com que não acreditemos que vás mudar.

És muito teimoso, Joaquim. Tem dado nas vistas. 
 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

PORTUGUESA - Entre a teimosia e a convicção

Divulgação/Portuguesa

Sou daqueles que consideram a entidade "Semana Livre de Treinos" uma das formas mais maldosas usadas para pressionar profissionais de futebol. Da mesma forma, como não poderia deixar de ser, tende a ser uma das muletas mais frágeis para os treinadores que comemoram a ausência de jogos para azeitar a máquina.

Por quê? Porque seis ou sete dias de treinos são insuficientes. 

No entanto, como não existem verdades absolutas, a tal Semana Livre de Treinos pode servir para determinar o rumo da Portuguesa na disputa do Campeonato Paulista. Dado Cavalcanti comemorou o fato de o clássico com o Palmeiras ter sido adiado, pois assim teria mais alguns dias para recuperar o elenco fisicamente, além de fazer ajustes necessários à equipe.

Estas correções são urgentes, ainda mais tendo em conta o escasso número de jogos restantes para o fim da primeira fase do Estadual, que é quando saberemos se os objetivos para a temporada de 2024 - e para o futuro - foram alcançados. E o principal deles é a manutenção na Série A1, de preferência com uma vaga na Série D. Qualquer coisa além disso é lucro.    

Quando Dado diz que a semana terá sido essencial para acertar o time, o que a Lusa apresentar na partida contra o São Bernardo deverá ser visto como ponto de definição para a sequência do trabalho da Comissão Técnica. Se o estilo de jogo de aproximação e passes rápidos e curtos funcionar, este período para treinamentos terá dado frutos e este será o caminho até o fim do certame. Por outro lado, se houver insistência em algo que não tem saído a contento e a eventual repetição de erros resultar em um novo revés, talvez seja o momento de agradecer pelo trabalho e desejar sorte na sequência da carreira, ou alguma despedida elegante para informar a interrupção do projeto.

Tendo tempo para acertar a casa e jogadores capazes de interpretar em campo as ideias do treinador, valeria a pena apostar neste tipo de jogo, que é legal de ver. O problema é que a Lusa não dispõe deste luxo e precisa de resultados. E precisa para ontem.

Ou então dependerá de um novo milagre para não jogar no lixo um dos elencos mais bem montados desde o inferno de 2013.   

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

CORINTHIANS - Os Trapalhões


"Uma turma do barulho aprontando altas confusões!" Poderia ser a chamada para algum filme daqueles exibidos pela enésima vez na Sessão da Tarde, mas é a diretoria de futebol do Corinthians.

Não bastassem as bravatas e os erros dignos de amadores que não sabiam que só é possível anunciar as contratações depois que o contrato estiver assinado - uma bobagem, detalhinho besta -, a mais nova é a forma desastrada e desastrosa com a qual conduziu a demissão do técnico Mano Menezes. Não só a demissão, mas a sucessão.

Ainda durante a campanha eleitoral, o então candidato Augusto Melo teve a brilhante ideia de afirmar que o treinador não era o seu favorito para o cargo. Não duvido que ele não soubesse que Mano tinha um contrato longo e protegido por uma cláusula de rescisão milionária.

Melo venceu e teve que manter o comandante, mesmo a contragosto.     

Veio a sequência de derrotas e a manjada entrevista assegurando a permanência do treinador, o que não significa nada, pois não é raro que este tipo de declaração preceda o fim do vínculo e o surrado "desejamos sorte na sequência da carreira", o que, de fato, aconteceu. 

Só que, neste meio tempo, os geniais dirigentes [contém ironia] resolveram negociar com outro treinador, Marcio Zanardi, com quem Melo e Rubão, este o homem "forte" do futebol já haviam trabalhado em outras ocasiões e que era de antemão o favorito da dupla para assumir o time, o que não aconteceu de cara por causa da já citada cláusula de rescisão do contrato de Mano Menezes.

Mano, porém, ficou sabendo e resolveu que não abrirá mão de um só centavo e que quer receber à vista. Convenhamos, é um ponto contornável, mas não deixa de ser o resultado de mais uma trapalhada da dupla. 

Aí vêm o que causa estupor: Zanardi é técnico do São Bernardo, que também disputa a Série A1 do Paulistão. O parágrafo 3 do Artigo 26 do Regulamento proíbe que um técnico conduza duas equipes na mesma competição. Quer mais? Tem mais! O parágrafo anterior exige que a substituição de um treinador só poderá ser feita depois que o contrato de trabalho for rescindido. Lembra da multa milionária? Pois é, o Corinthians só poderá inscrever um novo técnico quando a situação de Mano Menezes estiver resolvida. 

Não é necessário ser um ás do raciocínio lógico para saber que uma condução respeitosa do desligamento do treinador evitaria esse problema. Se não por princípio, ao menos por inteligência, mas ler o regulamento deve dar muito trabalho.

Pense no episódio mais engraçado do Chaves ou do Chapolin. Nenhum deles terá tantas trapalhadas quanto essas. E a gestão está só começando.  

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

PORTUGUESA - o "contra e contra todos" e a fé no trabalho

Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

"Contra tudo e contra todos". Este tipo de frase, que coloca quem a diz como alguém antissistema, o forasteiro a ser evitado, o corpo estranho indesejado. Quem repete isso, geralmente, vê todos os méritos na sua vitória, mas é incapaz de reconhecer a capacidade do adversário, que o terá vencido só porque alguém de fora decidiu que assim seria.

Enfim, um saco.

No entanto, a torcida da Portuguesa poderá, após a vitória contra a Inter de Limeira, lançar mão do chavão: estreia fora de casa contra um adversário direto, uma arbitragem terrível e os erros técnicos e táticos comuns do início da temporada. E ainda assim a Lusa somou três pontos preciosíssimos para suas modestas pretensões no Paulistão, que são evitar a queda e garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem. 

Não há limites para o sonho, mas mais que isso é lucro e exigir algo além será um delírio.

Diferentemente do que aconteceu na temporada passada, quando um time que sequer pode ser chamado disso foi "montado" e só não caiu porque os anjos e os santos estavam de plantão - não há outra explicação - naquela memorável tarde de Mirassol, e que podemos chamar de milagre, houve critério nas contratações e o nível do elenco, somado aos garotos que subiram graças ao estupendo trabalho de dupla Alan Dotti e César, respectivamente treinador e auxiliar-técnico do Sub-20, é melhor que aquilo que nos representou no certame estadual, o primeiro depois de sete anos no purgatório da Série A2.

Vimos, trajando rubro-verde, um time que quer sair para o jogo, construindo desde os centrais e apostando na velocidade no campo de ataque, também em função das características de quem estava em campo. Com o volante Zé Ricardo voltando para uma saída a três, com o apoio também dos laterais, pôde ser natada uma versatilidade inesperada pelo pouco tempo de trabalho.

Claro que a aposta da Inter, parecida na velocidade com a qual atacava, transformou o jogo em um autêntico lá-e-cá, mas os da casa eram mais felizes ao fechar espaços e apostar em um jogo menos sofisticado e mais direto. A proposta lusitana requer um time mais compacto, coeso, com jogadores próximos e isso exige que a linha defensiva atue mais longe da própria área para negar um eventual espaço entre os setores, o que faz com que erros na intermediária adversária possam proporcionar contra-ataques.

Os dois gols sofridos foram assim, com a defesa desarrumada após perdas de bola que resultaram em finalizações depois de poucos passes trocados. É bom ligar o sinal de alerta, mas é natural que isso aconteça no início da temporada, quando todos os times que disputam a competição ainda buscam padrão e têm muito o que arrumar. 

No entanto, há muitos aspectos positivos. Mesmo em desvantagem e com poucos minutos a serem jogados, os de Dado Cavalvanti não cederam à sensação do velho expediente do chuveirinho em busca do centroavante. Em vez disso, buscaram trocar passes, encontrar espaços. Nem sempre dá certo, mas é um sinal de que há crença no que se faz, como quando renovou o fôlego tendo a vitória como necessidade, em vez de segurar um empate que, dadas as circunstâncias, não seria visto como um mau resultado. Nem mesmo a desastrosa prestação da equipe de arbitragem, que deixou de assinalar um pênalti (VAR para quê?) minutos antes de a Lusa empatar o jogo pela primeira vez, ou que não exibiu o cartão vermelho quando Victor Andrade foi atingido por trás em um lance no qual a bola não estava em disputa e o uso de força foi exagerado, foi capaz de mudar o rumo do jogo e o estado de ânimo lusitano.

Obviamente, há muito o que melhorar. Nem sempre teremos um adversário tão mansinho e que ataque pouco, mesmo jogando em casa. Nos 11 próximos jogos, nove adversários são das Séries A e B do Brasileirão, mas os indícios dados na estreia são animadores e permitem, ao menos, uma estreia que nos permite esperar por uma campanha além de esperar por um milagre. E milagres, sabemos, não acontecem todos os dias.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

THE BEST: a constrangedora vitória de Messi

A FIFA realizou sua gala anual e o principal prêmio da noite, o de melhor jogador de futebol masculino do mundo, ficou com Lionel Messi. A melhor definição desta escolha foi do jornalista colombiano Juan Sebastián Pérez: é completamente constrangedora. Neste futebol que não aceita "derrotas", a ausência do jogador na premiação é um indicativo de que nem ele acreditava que venceria.

Se você, leitor, disser que a FIFA não tem culpa pelos votos, pois não é ela quem controla isso, saiba que existe uma grande chance de você estar errado. É certo afirmar que ela não obriga ninguém a votar, mas é a entidade que define o formato da eleição e este abre margem para distorções, como foi a atribuição de melhor para quem, honestamente, sequer deveria estar entre os 10, ou até entre os 50 melhores da temporada.

Um comitê de notáveis escolhe os nomes dos postulantes, que estarão submetidos aos votos de quatro categorias distintas: jornalistas (um de cada federação filiada), técnicos das seleções filiadas, seus capitães e o público em geral, com peso igual. Aí, como a escolha é livre e subjetiva, vale tudo, inclusive não se atentar ao período que deveria ser levado em consideração. Está aqui, explicadinho pelo goal.com.

Com o título mundial fresquinho e o nome dele lá, alguém acha mesmo que o torcedor vai se importar com o período? É obvio que não. Seria simples de resolver: os próprios ex-jogadores deveria levar em consideração o que ele (não) fez no período previamente determinado e fazer seu trabalho direito. 

No formato que tem, não é raro o troféu que a popularidade pese mais que o desempenho, bem como camaradagem, idolatria e patriotada. Isso talvez explique a escolha por quem, em 2023, teve um término de chorar no PSG, no qual não foi nem sombra do que pode ser, ainda mais tendo como base de comparação o desempenho na última Copa do Mundo.

Há quem defenda a tese de que o desempenho individual deve ser mais importante; para outros, não faz sentido o vencedor não ter conquistado títulos relevantes, como a Copa do Mundo, a Eurocopa ou a Liga dos Campeões. Ter feito que fez na Copa do Mundo do Catar garantiu, com justiça, a Bola de Ouro para o argentino, embora não tenha feito mais nada de notável durante os outros meses do ano, e nem precisava. Agora, porém, nenhum critério decente explica a escolha.

Uma deturpação desta natureza já havia sido feita em 2000, quando a FIFA, na falta de algo melhor para pensar, resolveu abrir para a geral votar no melhor jogador do Século XX. A votação livre indicou Maradona, com mais de 50% dos votos. Paralelamente, a entidade promoveu a mesma eleição, mas para os leitores se sua revista e neste caso deu Pelé. Então, salomonicamente, deu o prêmio aos dois. Segundo o então presidente, Sepp Blatter, "Maradona ganhou a eleição da juventude. Pelé, a eleição da família do futebol". 

Escolhas como esta, sem base técnica que as sustentem, dão margem a este tipo de esculhambação. Ainda assim, em se tratando de um esporte coletivo, prêmios individuais valem o que valem, mas deveriam valer menos.

Este prêmio não faz dele maior. Pelo contrário, diminui o valor dos outros recebidos anteriormente, pois os vulgariza, os banaliza. Como disse brilhantemente o professor de ética em jornalismo Humberto Pereira da Silva, colunista deste blog, é uma Vitória de Pirro, comandante romano que disse depois de ganhar uma batalha com grandes perdas: "Mais uma vitória dessa e estou perdido". 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

SELEÇÃO BRASILEIRA - Escolha óbvia e confortável

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Mesmo antes do anúncio oficial por parte da Confederação Brasileira de Futebol, é possível afirmar que Dorival Júnior será o novo técnico da Seleção Brasileira masculina de futebol, em substituição a Fernando Diniz, demitido na semana passada. O São Paulo, que era dirigido pelo treinador, divulgou uma nota oficial dando conta de que o liberou para assumir o comando da Seleção, e a sua oficialização no cargo até a Copa de 2026 é uma questão de horas. 

Trata-se de um processo todo atropelado graças à absoluta falta de tato do [ainda] presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Primeiro, a ideia era Diniz ficar até a chegada do italiano Carlo Ancelotti, que, sabe-se, resolveu renovar com o Real Madrid. Ainda de acordo com o projeto inicial, Diniz ficaria na Comissão Técnica de Ancelotti para assumir depois da Copa do Mundo, e aí já existiria um problema que pouca gente se atentou: como um presidente que não tem mandato para lá de 2026 poderia definir o substituto para além de sua gestão?

Com a óbvia negativa do italiano, Diniz caiu porque os resultados eram muito ruins e, principalmente, porque nunca houve convicção alguma na sua escolha. No caso de Dorival, se não existe um consenso sobre quem deve ser o técnico da Seleção [raramente há], não há rejeição em torno de seu nome, que será um espécie de apito de cachorro para distrair a opinião pública nos próximos dias.

Se há um lado bom nessa escolha, é a reaproximação com o legado deixado por Tite. O treinador da Seleção nas últimas duas Copas, se não conseguiu fazer o Brasil apresentar bom futebol, deixou uma estrutura de trabalho pronta, com rotina diária e radar global em busca de informações dos selecionáveis, e isso foi jogado fora com a salomônica escolha por Fernando Diniz, que dividia seu tempo entre a Canarinha e o seu time, o Tricolor do Rio de Janeiro. Não por culpa dele, mas do aventureiro que imaginou que esta seria uma excelente ideia.

Ao romper com a própria ruptura, cai por terra essa coisa sem sentido de ter, por um ano, um treinador completamente diferente do que viria. Mas convenhamos: coerência não é o que devemos esperar da CBF. 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

PORTUGUESA - Morri há dez anos

Temos muitas mortes durante a vida. Perdas, traumas, lutos. O futebol foi praticamente minha identidade por muitos anos, até que, há uma década, eu morri. Eu, torcedor, não resisti ao assassinato a sangue frio, com requintes de crueldade, sem chance de defesa. Há 10 anos, uma bala atingiu meu coração. 

Desde então, o torcedor que fez de mim o que eu era não vive mais; deu lugar a um cínico, alguém oco, que não se importa com as dores parecidas. "Ah, caiu? Lamento. Quando fomos derrubados, não percebi seu apoio. Foda-se!", mas não como dizem em Portugal.

Eu ficaria horas pensando em algo que jamais seria melhor que as palavras do gigante Luiz Nascimento, esse monumento do jornalismo brasileiro. Queria ser como ele, não só pelo talento, mas com a mesma fé. Mas não tenho. Não tenho nada há 10 anos. Eu morri.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Pílulas amadoras - 7

*por Humberto Pereira da Silva

A campanha do Botafogo nesse Brasileirão é um dos fatos mais insólitos que vi no futebol. Momentos em uma partida, um jogo ou mesmo uma sequência de jogos, podem apresentar situações inusitadas. A derrota do Brasil na Copa de 2014 para a Alemanha é um bom exemplo.

Mas o que acontece com o Botafogo se refere a uma temporada. Quer dizer, 36 dos 38 jogos previstos. O melhor desempenho na história dos pontos corridos no primeiro turno. No segundo, no entanto, supera apenas o América-MG e o Goiás.

Depois da virada que sofreu do Palmeiras, em especial, a sucessão de resultados é simplesmente inacreditável. O extremo do inacreditável foi o empate contra o rebaixado Coritiba.

Leio e ouço tentativas de explicação para o que acontece com o Botafogo. As explicações são as mais variadas e se multiplicam. Decisões erráticas da cúpula, leia-se Textor/SAF, inexperiência do TIME em momentos decisivos... Enfim, não faltam tentativas de explicação. 

Não tenho nem longuinquamente a pretensão de mais uma. Há uma interrogação, no entanto, que me parece um ponto cego. Como foi possível a campanha do Botafogo no primeiro turno? 

É como se no insólito houvesse abaixo uma camada mais insólita. O gol de empate do Coritiba 42 segundos depois do gol do Botafogo, já marcado para além dos acréscimos, é inacreditável, como ouvi gritar o narrador global. Mas esse evento absolutamente casual se repetiu inúmeras vezes a favor do Botafogo nas 19 rodadas do primeiro turno. 

No primeiro turno, contra o Palmeiras, houve um gol anulado pelo VAR e um pênalti perdido pelo Verdão. Numa jogada casual e até despretensiosa, gol de Tiquinho e vitória do Botafogo.

A campanha do Botafogo no primeiro turno, para mim ao menos, é o insólito do insólito. Algo que me faz pensar na fantasia Alice no país das maravilhas e sua lógica do absurdo. 

***

Palmeiras campeão? Pois é, nesse Brasileirão a palavra "favorito" perdeu o sentido. Num nível bem menor, e sem o foco do Botafogo, o Atlético mineiro é quase o espelho invertido do Fogão. Constante na irregularidade ao longo dos dois turnos, o Palmeiras pode surpreender nas duas rodadas que restam. Eu, no entanto, não me surpreenderia. 

Cravar Palmeiras campeão é tão absurdo quanto esquecer o quanto os resultados desse Brasileirão têm sido absurdos. Num campeonato tão surpreendentemente absurdo, o Fluminense sem qualquer pretensão não é um mero sparring para o Palmeiras cumprir tabela. E o boato em torno de possível saída do Abel para o Catar parece piada pronta a duas rodadas do fim...

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 6

*por Humberto Pereira da Silva

Reprodução - Youtube

Passada a data FIFA, e a seleção... volta o Brasileirão com contas e tabelas finalmente ajustadas. Jogos com atenção para a parte de cima e a de baixo na tábua de classificação. 

Na parte de baixo uma fixação, que mistura crença, superstição, matemática e certa preguiça mental: quem fizer 45 pontos não cai. Seguindo esse "número mágico", o Fortaleza na 12ª posição, com os tais 45 pontos, não mais correria risco de cair... 

Não consigo imaginar todos os cruzamentos nas rodadas finais. Mas nas próximas rodadas se o Bahia perder e, vendo a tabela, o Fortaleza só cai se levar solenes goleadas... E ainda há o Cruzeiro, que complementa a rodada medindo [o que sobrou das] forças com o desesperado Goiás.

"Matematicamente", sim, o Fortaleza pode ser alcançado pelo Bahia. O São Paulo com 46 pontos também...

Cruzando todos os resultados possíveis é o caso de dizer que o Fortaleza ainda corre risco porque não atingiu o "número mágico? Ora, tendo superado o dito cujo, o Tricolor paulista sendo superado por Bahia e/ou Cruzeiro "matematicamente" não corre risco numa combinação maluca de resultados?

É preciso pôr no papel TODAS as combinações possíveis de resultados nas rodadas ainda vindouras para saber se ele, São Paulo, ainda pode cair, pois "matematicamente"... ainda pode ser alcançado por quem está, como dizem em algures e alhures d'além mar, abaixo da linha d'água. 

Quero dizer com isso que quando se fala em "número mágico" é preciso efetivamente fazer contas. Num campeonato com resultados tão surpreendentes, vejamos como foi a rodada 35. A goleada do Bahia sobre o Corinthians, além de Vasco, Santos, Inter e Fortaleza pontuando, e São Paulo x Cuiabá deixou de ser mero cumprimento de tabela. 

A campanha do Botafogo no segundo turno [n.e: 15 de 48 pontos] deve servir de lição para que uma expressão como "número mágico" não seja entendida literalmente: um número... mágico. Por óbvio, onde há mágica, não há matemática.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 5

*por Humberto Pereira da Silva

Foto: Gabriel Machado/AGIF/Folhapress

Como é óbvio, gosto muito de futebol e acho muito legal mesmo escrever, conversar sobre o assinto. mas os acontecimentos desse final de semana me desanimaram um bocado. Coritiba x Cruzeiro no final aquela briga entre torcidas; depois, Grêmio x Corinthians e o Alessandro, ex-jogador e atual ocupante de cargo de diretor do Corinthians, tenta invadir a sala do VAR [nem era onde estava o árbitro auxiliar, mas o equipamento...]

É desanimador. Ao longo do campeonato outras cenas se somam. De qualquer forma, terminada a rodada e só o Palmeiras (62) se saiu bem. Entre os que estão envolvidos diretamente com o título, foi o único que ganhou. O Atlético Mineiro (57), um pouco abaixo, ganhou e tem chance, mas acho difícil, pois tem só quatro jogos a realizar. O Flamengo (57) se complicou com o empate no Fla-Flu, mas com cinco jogos, virtualmente está a dois pontos do Palmeiras. A diferença de um jogo, uma rodada, e muita coisa muda. E ainda há a Data FIFA à mistura.

Sobre o Palmeiras? Se eu fosse palmeirense, ficaria bem apreensivo. Acho que essa é a temporada mais inconstante da era Abel. Não dá para confiar e deve perder pontos nessa reta final, mas os concorrentes também. Como diz a malta da terra de onde veio parte da família do Marcos Teixeira, editor deste blog e meu ex-aluno na faculdade, ao fim e ao cabo o campeão será... como o Flamengo em 2020, por demérito dos concorrentes. Ou então porque calhou de estar na liderança ao fim da última rodada.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

sábado, 11 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 4

 * por Humberto Pereira da Silva

Foto: Reprodução/Botafogo TV

Com os resultados da rodada, dá para cravar: o Botafogo e um caso (case, para brincar com anglicismo). Caso, bem entendido, que valeria ser SEMPRE lembrado não tanto em razão da derrocada espantosa no segundo turno do Brasileirão, mas sim como foi possível a campanha do primeiro turno. 

Como foi possível a um time que até o início do Brasileirão não revelar qualquer indício de favoritismo num campeonato tão equilibrado ter desequilíbrio como desequilibrou? O que me vem é o notável absurdo de praticamente ninguém ter questionado haver algo fora da ordem na campanha do primeiro turno. 

O caso Botafogo faz pensar duas coisas no calor da hora. Num campeonato longo uma equipe não se monta de uma hora pra outra, do nada, para manter regularidade até o fim. Outra coisa: futebol brasileiro há variáveis e variáveis que não podem ser subestimadas. O interesse no Brasileirão é fortemente condicionado por exemplo pelo envolvimento das equipes da Libertadores, na Copa do Brasil... é só olhar a tabela e vermos o de estão o Flu e o São Paulo. 

Essa é tão só UMA variável. Mas que para mim dá um tanto de sentido para explicar o case Fogão.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

BENFICA - a noite das vergonhas europeias



Prostrado. Humilhado. Vergado. Não faltam adjetivos para descrever a terrível prestação benfiquista nesta edição da Liga dos Campeões, mas poucas vezes se viu em campo uma equipa tão vulgar, indigente. Ainda mais considerando que este espantalho em forma de time de futebol - ou seria o contrário? - carrega no peito três estrelas, cada qual para uma dezena de títulos nacionais, e a reputação histórica de ser bicampeã europeia, além de outras finais disputadas antanho.

Lá se vai muito tempo, sei, desde que a maldição de Béla Guttmann caiu sobre a cabeça dos avaros dirigentes encarnados, mas nada faria supor que depois da magnífica demonstração de como jogar futebol vista na temporada passada, um rascunho formado por 11 jogadores estaria a vestir a mesma camisola.

A noite no Anoeta foi de estarrecer, de petrificar, de fazer corar de vergonha o mais pessimista dos portugueses. E olhe que falo de uma característica praticamente inata ao povo português, ainda mais quando há do outro lado 11 gajos a representar o futebol espanhol e uma bola no meio. 

A Bola, maior jornal da Terrinha dedicado ao chamado desporto rei, fez uma compilação do que os jornais da Espanha disseram. A ver:

As:
"O Benfica, um brilhante bicampeão europeu, ajoelhou-se diante de uma Real Sociedad avassaladora, o que lhe deu uma lição histórica. Um banho frente a um rival que nada disse (...) O volume do seu futebol foi tão grande que rompeu os tímpanos dos lisboetas. Do aquecimento até o último apagão, foi um turbilhão que marca a época"

"Defensivamente, a equipa vermelha nem sabia para onde se virar. O Benfica ficou mumificado, era um fóssil, a agonia levou-o para uma caverna do horror. Para isso contribuiu o seu treinador, que colocou Neves na lateral, algo para o qual não está preparado, e deu a Barrenetxea uma pista para brilhar. Um cervo a dormir a sesta era mais assustador do que essas águias comidas por traças. (…) Neves foi um espectador na primeira fila. O que fazia ali o pobre rapaz?"

Sport:
"Exibição, banho, 'masterclass' de futebol, inúmeras qualificativos que demoraríamos mais tempo a procurar do que o Real levou para vencer um campeão da Europa e de Portugal como o Benfica. Parecia um jogo de profissionais contra juniores numa meia hora mágica e histórica, daquelas raramente vistas no mundo do futebol."

De certo, o leitor há de perdoar a reprodução do que parte da imprensa espanhola viu e disse, mas peço que notem o respeito para com o distintivo humilhado: 'brilhante campeão europeu", que venceu Barcelona em 1961 e, já com Eusébio, o mítico Real Madrid em 1962. Dois distintivos já enormes. O Barça com Ramallets, Evaristo de Macedo, Luis Suárez e os magiares Czibor, Kocsis e Kubala; o Real Madrid, pentacampeão, com Puskás, Di Stéfano, Santamaria e Gento.

Aquele Benfica, de Germano, Cavém, Simões, Coluna, José Augusto, José Águas e Eusébio, que mantém a reputação encarnada imaculada, nada tem a ver com este apanhado vulgar de jogadores de vermelho que ao cabo de meia hora já perdiam por 0-3, fora os dois gols anulados e o pênalti desperdiçado. O placar foi condescendente demais para a pobreza e absoluta falta de argumentos levada pelos de Schmidt a San Sebastián.

Há muito trabalho pela frente e o primeiro passo é admitir o fracasso do projeto de equipa levado a campo para esta temporada, seja com três centrais e Florentino a ter que varrer tudo sozinho e João Neves como extremo e presa fácil e entregue a Barrenetxea, que fez com ele o que quis, como quis e quando quis; seja com a linha de três médios e um avançado solo que não pressionam e deixam tudo a estoirar nos de trás, ora Florentino, ora Kokçü. Gastou-se quase 60 milhões de euros em reforços até aqui desnecessários e não há um lateral direito de raiz para colmatar as ausências de Bah pelas agruras físicas, tampouco um do outro lado que minimamente mimetize o que fazia Grimaldo, perda já cantada com um ano de antecedência. Seu substituto é Jurásek, o defesa mais caro da história do clube, que perdeu a bola 28 vezes em pouco mais de 60 minutos em campo, segundo dados do Goal Point.

Roger Schmidt, brilhante na sua temporada de estreia, parece não querer ver o naufrágio à sua frente e agarra-se a frases fáceis como "não é que o planejamento foi errado, os lesionados fazem falta" ou "realmente, não merecemos a classificação", como se houvesse viv'alma a pensar o contrário. O capitão do barco se mantém fiel às suas ideias e só não está a tocar o violino enquanto a embarcação afunda porque o que tem, quando muito, é uma tocata com instrumentos desafinados.

Ao lado, mas nem por isso menos importante, registre-se a vergonha causada por imbecis que atiraram tochas nos adeptos locais, o que poderia ter causado uma tragédia como a que aconteceu em 1996, na final da Taça de Portugal, entre Sporting e... Benfica!  O fracasso do projeto desportivo quando se tem tudo à mão é de se lamentar, mas a falência cultural espelhada em indivíduos que viajam, não pelo seu clube, mas por uma realização pessoal tendo os pés fincados na violência, este sim é de se envergonhar.

Que vergonha, Benfica! 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

BOTAFOGO - Sobre meninos mimados

 Reprodução/Premiere

Se o Botafogo conseguir a proeza de perder um campeonato no qual teve 13 pontos e de vantagem para o segundo colocado, John Textor e os líderes do elenco terão muitos o que explicar: Textor, o dono, porque não segurou o técnico Bruno Lage; os líderes, por terem derrubado o treinador e bancado Lúcio Flávio, que teve boa passagem dentro de campo pelo próprio Fogão, mas nem treinador é. 

O trabalho de Lage, se comparado ao do antecessor Luís Castro, era ruim, mas em momento algum o elenco comprou as ideias dele. No Benfica, que ele pegou a duas rodadas da final do turno e sete pontos atrás do líder, terminou campeão e com mais de 100 gols num campeonato com 34 rodadas, e ainda teve que enfrentar os quatro adversários mais bem colocados na tabela fora de casa. E venceu todos eles. Lage poderia não ser o melhor, mas está longe de ser despreparado.

AVASSALADOR Bruno Lage foi campeão português pelo Benfica
(Foto: Jorge Amaral/Global Imagens / Esporte News Mundo).




Textor não quis bancar um treinador interino, Cláudio Caçapa, apesar das quatro vitórias em outros tantos jogos, mas o levou para ser treinador de seu time na Bélgica, o Molenbeek. Buscou outro português, talvez pela grife, mas com experiência para tocar o barco. E este barrou o artilheiro Tiquinho Soares e o mundo caiu.

Tiquinho, craque de última hora no Campeonato Brasileiro, teve uma boa passagem pelo FC Porto, onde era bem quisto pela torcida, mas longe de ser o jogador indiscutível no qual se tornou aqui. Lage o colocou no banco e teve o tapete puxado publicamente pelos líderes do elenco.

E depois? O Botafogo melhorou? Instável, segue derrapando e com seríssimos problemas para lidar com a pressão causada pelo estupendo trabalho de Castro, que se foi, como tantos outros por aí afora para receber o dinheiro árabe e para treinar Cristiano Ronaldo. Foi prejudicado contra o Palmeiras? É discutível e pode ser que sim, mas não há erro de arbitragem que justifique um time que abriu 3x0 ainda no primeiro tempo (e ficou barato) e tinha um pênalti a favor aos 37 do segundo tempo e com 3x1 no placar.

Se o Botafogo conseguir perder o campeonato, será não só a maior pipocada da história do futebol brasileiro, como também será a prova de que elencos mimados podem estragar um grande trabalho. E, neste sentido, Textor e os líderes do elenco terão sido os maiores responsáveis.

Pílulas amadoras - 3

por Humberto Pereira da Silva*


SOBRENATURAL DE ALMEIDA O personagem de Nelson Rodrigues
esteve em campo no Nilton Santos (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)

O jogo também é ganho fora de campo

No final do primeiro turno, um colega crítico de cinema que admiro e botafoguense escreveu no Facebook: "Não quero comemorar antes da hora, mas que loucura é esse Botafogo".

Mantivemos uma conversa virtual e destaco aqui um trecho do que escrevi para ele: "Mas, para mim, a imprevisibilidade no futebol, tão previsível, é o que me faz esperar pelas próximas 10 ou 12 rodadas pra ver o que vai acontecer com o Botafogo".

E, na sequência da conversa, fiz essa observação: "Mas, mas... sobressaltos, inconstâncias, irregularidades estão no caminho nas próximas 12 ou 13 rodadas. Isso pra mim o previsível... e, bem,... apenas especulação: jogos de seis pontos e o Bota não pode nem longinquamente pensar em perder para o Palmeiras e Grêmio. Pois teria que contar com a irregularidade deles pra não ver essa diferença diminuir pra seis pontos... ora, ora, caro... seis pontos no futebol brasileiro e toda sorte de VAR entra em campo... rs".

Nada de vã vanglória no vaticínio. Todo vaticínio, por princípio, se expõe ao erro. Senão, não seria vaticínio.  Acertar não é senão probabilidade. Mas, confesso, a expulsão de Adryelson me espantou. 

Até a expulsão, levando em conta a torcida, e não a fria probabilidade, o Fogão era campeão, pois num jogo de seis pontos punha nove na frente do segundo colocado faltando somente 7 rodadas (fora a partida a ser jogada com o Fortaleza). A entrada do VAR em campo decidiu a sorte do jogo. 

E sobre o VAR e arbitragem, só pra completar, gostaria de saber a opinião de Abel Ferreira e seu auxiliar, que no meio do campeonato sustentou: "Sistema quer evitar o bi do Palmeiras no brasileiro". 

Futebol, em todo lugar, é um jogo jogado dentro e fora de campo. "Sistema" não é folclórica teoria da conspiração. Abel, seu auxiliar e o Palmeiras sabem isso. Quem quer que acompanhe o futebol com atenção, para além do coloquial "jogo roubado", sabe isso. 

Impossível afirmar que calculadamente o "Sistema" se intimidou frente ao Palmeiras e... no momento de uma decisão controversa o VAR... Mas, a ação do VAR em momento me faz lembrar a frase de Júlio César: "A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta".

A vitória do Palmeiras, 0 a 3 contra e, depois, 1 a 3 tendo o adversário um pênalti par abater já perto do minuto 40 do segundo tempo, foi épica. Mas o Palmeiras também ganhou fora de campo.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo