quinta-feira, 11 de abril de 2013

Galo forte? Sim senhor, mas prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não faz mal a ninguém...


* por Raoni David Colpas

Gosto do Cuca. Desde quando ele vestia a camisa 10 do Santos, quando eu ainda começava a tentar entender este tal de futebol, por quem me apaixonaria nos anos seguintes. E como técnico o Cuca também manda bem, desde os tempos de Goiás e mesmo tendo sido muito, mas muito mal, quando esteve à frente do meu Santos.

Mas, sob o comando do Atlético Mineiro ele está bem demais. Com criatividade e muita competência, montou e comanda um time muito interessante. Com um craque que é o Ronaldinho Gaúcho, um garoto promissor demais, que é o Bernard, bons atacantes como Tardelli, Jô, Guilherme, Luan... Bons volantes como o ótimo Leandro Donizete, que quase ninguém cita, além de Pierre, Serginho e agora Josué. Victor no gol, diante de uma defesa segura e alta. Enfim, um ótimo time, um ótimo elenco e um técnico em ótima fase.

O resultado disso tudo é que com um jogo a menos e 100% de aproveitamento, o Galo já tem garantida a melhor campanha da primeira fase da Taça Libertadores da América. O problema, porém, está justamente aí. Quem foi que disse que ter a melhor campanha na primeira fase do torneio continental é bom negócio? Não é há 16 edições, quando todos os melhores da primeira fase, sucumbiram.

A última vez que um time conquistou o título da Libertadores após ter a melhor campanha na primeira fase foi em 1996. Desde então, dos 16 campeonatos disputados, em dez ocasiões o melhor da primeira fase foi um brasileiro. Corinthians (1999, 2003 e 2010), Tricolor Carioca (2008 e 2012), Santos (2004 e 2007), Vasco (2001), Grêmio (2009) e Cruzeiro (2011), empolgaram seus torcedores e fraquejaram.

Destes, apenas o Vasco da Gama em 2001 e o Santos em 2007 conseguiram o aproveitamento máximo nos seis primeiros jogos, algo que o time mineiro pode igualar caso vença o São Paulo na última rodada. O clube carioca tem, aliás, a melhor campanha de todos os tempos na primeira fase desde que as vitórias passaram a valer três pontos, em 1995. Para superar isso, os mineiros precisam de uma vitória por 2 a 0 contra os paulistas.

É improvável, porém, que supere o melhor ataque entre os melhores times da primeira fase, já que marcou 16, enquanto o América de Cáli em 2000 e o seu arquirrival Cruzeiro, em 2011, sob o comando de Cuca, marcaram 20 gols nos seis jogos.

Entre estes bons iniciantes na competição continental, quem esteve mais próximo do título foi o time das Laranjeiras em 2008, sendo o único a alcançar a final do torneio. Por outro lado, América de Cali em 2000, Corinthians em 2003 e 2010, além do próprio Cruzeiro em 2011, foram os mais precoces em suas quedas, eliminados já nas oitavas de final.

Quando o River Plate conseguiu tal façanha em 1996, os argentinos contavam com um timaço, que tinha, por exemplo, Marcelo Sallas, Hernan Crespo, Ortega, Sorin, Francescoli... Fez 14 dos 18 pontos possíveis na primeira fase, superando o San Lorenzo, Minerven e o Caracas. Eliminou na sequência o Sporting Cristal, o San Lorenzo e o Universidad do Chile, antes de bater o América de Cáli na decisão.

Já no ano seguinte, coube justamente ao Cruzeiro dar início a este jejum de título dos melhores na primeira fase. Com 16 pontos em 18 disputados, o Colo Colo foi o melhor, mas o time mineiro tratou de eliminá-lo na semifinal da competição e com gol salvador de Elivelton, comemorar o título diante do Sporting Cristal.

Campeão em 1996, o River Plate fez de novo a melhor campanha da primeira fase em 1998 e assim como o melhor de 1997, caiu na semifinal e para um brasileiro que seria campeão. Com um gol antológico de Juninho Pernambucano no Monumental de Nuñes, o Vasco despachou os argentinos e abriu caminho para o título diante do Barcelona equatoriano.

A edição de 1999 foi a primeira que teve um brasileiro como o melhor na primeira fase deste período. O Corinthians superou o seu arquirrival Palmeiras dentro do Grupo 3 e não poderia esperar por castigo pior: acabou eliminado pelo alviverde na semifinal após confrontos épicos com direito a classificação do time do Palestra Itália após disputa de pênaltis. Diante do Deportivo Cali, os palmeirenses comemoraram, também após tiros diretos da marca da cal, sua primeira conquista da América.

Em 2000, o América de Cali, rival do Deportivo, surgiu com um ataque arrasador ao marcar 20 gols em seis jogos. Mas, foi a maior decepção até então, ao ser o primeiro melhor time da primeira fase a ser eliminado logo nas oitavas. O América do México, responsável por sua eliminação perdeu para o Boca Júniors de Riquelme na semifinal. Após vencer o Palmeiras, os argentinos ficaram com o título.

Com Romário, Juninho Paulista e Pernambucano, Euller, Viola e etc em 2001, o Vasco voltou a fazer uma boa campanha na primeira fase, a melhor até hoje, desde que a vitória vale três pontos. Ganhou todos os jogos, marcando 16 gols e sofrendo cinco. Mas, nas quartas de final, cruzou com o Boca Juniors, não conseguiu marcar nenhuma vez, sofreu quatro gols e viu o time argentino ser campeão numa final contestada e com mais uma assinatura de Márcio Rezende de Freitas, contra o Cruz Azul do México.

E se um mexicano chegou à final em 2001, vem de lá o dono da melhor campanha da primeira fase na edição de 2002. O América do México chegou invicto à semifinal com o surpreendente São Caetano, que após enfrentar inclusive a fúria da torcida mexicana no jogo da volta, foi decidir o título com o Olímpia do Paraguai. O título escapou por entre os dedos da equipe do ABC que precisava apenas do empate para ser campeão, vencia no Pacaembu até o começo do segundo tempo, mas sofreu a virada e perdeu o título nos pênaltis.

De volta à Libertadores depois de 18 anos, o Santos, em 2003, fez a segunda melhor campanha da primeira fase, superado apenas pelo Corinthians, que conseguia o feito pela segunda vez na história. Mas, tão decepcionante quanto a eliminação para o Palmeiras, foi a queda precoce, logo nas oitavas de final diante do River Plate. Rivais de ambas as equipes, Santos e Boca Júniors decidiram a competição, e mais uma vez os argentinos levaram a melhor.

E o time da Vila Belmiro parecia se empolgar com a volta às disputas continentais e em 2004 teve a melhor campanha da primeira fase com 16 pontos conquistados. Porém, esbarrou na grande surpresa do campeonato, o Onde Caldas, nas quartas de finais. O time colombiano ainda despachou o São Paulo nas semis e para completar a derrubada de gigantes, foi campeão em cima do Boca Juniors.

Depois de longo período de ostracismos e campanhas tímidas, 2005 significou a volta do River Plate, líder entre as campanhas da primeira fase. No entanto, o time argentino trombou com outro gigante da Libertadores que também andava sumido. O São Paulo contou com atuação exuberante do meia Danilo para eliminar os argentinos em pleno Monumental de Nuñes, eliminou os favoritos e foi campeão diante do Atlético Paranaense.

Outro argentino seria o líder da primeira fase em 2006 e outro brasileiro seria o campeão. O Velez Sarsfield somou 16 pontos com 18 gols marcados, três por jogo, mas caiu nas quartas de final diante do Chivas Guadalajara, que perdeu mais tarde para o São Paulo na semifinal, que foi derrotado pelo Internacional de Porto Alegre na decisão do título.

Comandado por Vanderlei Luxemburgo à beira do gramado e por Zé Roberto dentro de campo, o Santos teve em 2007 uma campanha de 100% de aproveitamento com 12 gols marcados e um sofrido, sendo superado como melhor campanha pelo Vasco de 2001 exatamente pelo número de gols pró. No entanto, o bem montado Grêmio de Mano Menezes se deu melhor na semifinal e acabou sendo derrotado pelo Boca Júniors na decisão.

Dono da melhor campanha entre os melhores da primeira fase, o tricolor de Conca e Thiago Neves chegou até a decisão da Libertadores e esteve muito próximo de vencer a LDU de Quito. Mas Guerron, Bolaños e etc venceram os cariocas nos pênaltis, sagrando-se campeões.

Vice-campeão de 2007, o Grêmio voltava a empolgar o seu torcedor emplacando a melhor campanha de 2009 com um time de qualidade técnica discutível. Mesmo assim, a campanha era ótima e o levou até a semifinal, quando topou com o Cruzeiro de Ramires, que voava no meio de campo celeste. A boa fase do volante, porém, não foi suficiente para superar o talento de Veron, que conduziu o Estudiantes ao título continental.

Obcecado pelo título que todos os rivais já possuíam, o Corinthians fez novamente a melhor campanha em 2010 e novamente decepcionou o seu torcedor. Tido como o grande favorito diante do Flamengo, o clube paulista acabou sendo eliminado em pleno Pacaembu nas oitavas de finais. Os cariocas também não foram longe, sendo eliminados na fase seguinte pelo Universidad de Chile, que foi eliminado pelo Chivas Guadalajara na semifinal, que perdeu o título para o Internacional de Porto Alegre.

Com Cuca no comando, o Cruzeiro pintou como o principal favorito ao título da Libertadores de 2011 quando fez a melhor campanha da primeira fase. No entanto, o velho Once Caldas ressurgiu na vida dos brasileiros, eliminando os mineiros ainda nas oitavas de finais. No entanto, os colombianos não repetiram 2004 e foram eliminados pelo Santos de Neymar, Elano e Cia. O time da Vila Belmiro avançou até a decisão e sagrou-se tri da Libertadores diante do tradicional Peñarol.

Por fim, 2012 voltou a ser um bom ano para o Tricolor carioca na primeira fase da competição, quando conseguiu cinco vitórias em seis jogos. Mas o time carioca não superou o Boca Júniors, que avançou até a decisão, onde enfrentaria o Corinthians que pela primeira vez chegava à final do torneio continental. Com um empate na Argentina onde brilhou Romarinho e uma vitória no Pacaembu com a assinatura de Danilo e Emerson, o time do Parque São Jorge conquistou o primeiro título de sua história na Libertadores.

Confira as campanhas dos melhores times das primeiras fases da Libertadores.

2012 – Grupo 4
Tricolor do Rio (quartas de final) 6J 5V 0E 1D 7GP 4GC 15PTS

2011 – Grupo 7
Cruzeiro (oitavas de final) 6J 5V 1E 0D 20GP 1GC 16PTS

2010 – Grupo 1
Corinthians (oitavas de final) 6J 5V 1E 0D 9GP 3GC 16PTS

2009 – Grupo 7
Grêmio (semifinal) 6J 5V 1E 0D 11GP 1GC 16PTS

2008 – Grupo 8
Tricolor do Rio (final) 6J 4V 1E 1D 11GP 3GC 13PTS

2007 – Grupo 8
Santos (semifinal) 6J 6V 0E 0D 12GP 1GC 18PTS

2006 – Grupo 5
Vélez Sarsfield (ARG) (quartas de final) 6J 5V 1E 0D 18GP 6GC 16PTS

2005 – Grupo 5
River Plate (ARG) (semifinal) 6J 5V 1E 0D 12GP 5GC 16PTS

2004 – Grupo 7
Santos (quartas de final) 6J 5V 1E 0D 16GP 6GC 16PTS

2003 – Grupo 8
Corinthians (oitavas de final) 6J 5V 0E 1D 15GP 6GC 15PTS

2002 – Grupo 7
América (MEX) (semifinal) 6J 5V 1E 0D 9GP 2GC 16PTS

2001 – Grupo 6
Vasco da Gama (quartas de final) 6J 6V 0E 0D 16GP 5GC 18PTS

2000 – Grupo 6
América (COL) (oitavas de final) 6J 5V 1E 0D 20GP 10GC 16PTS

1999 – Grupo 3
Corinthians (semifinal) 6J 4V 0E 2D 16GP 8GC 12PTS

1998 – Grupo 5
River Plate (ARG) (semifinal) 6J 5V 1E 0D 15GP 6GC 16PTS

1997 – Grupo 3
Colo Colo (CHI) (semifinal) 6J 5V 1E 0D 12GP 4GC 16PTS

1996 – Grupo 5
River Plate (ARG) (campeão) 6J 4V 2E 0D 14GP 3GC 14PTS

*Raoni David Colpas é jornalista, santista e editor do site da 
Federação Paulista de Futebol. E não gosta de textos curtos.

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