terça-feira, 16 de abril de 2013

O futebol moderno venceu


*por Vinicius Carrilho

A temporada do futebol brasileiro está apenas no começo. Por todo o país, estaduais mal planejados e de baixíssimo nível técnico começam a se arrastar para sua fase final. É verdade que dentro das quatro linhas praticamente nada de importante aconteceu neste começo de ano, porém, a emoção de José Silvério, ao vivo, no último domingo, deve ser considerada como um ponto para reflexão.

O “Pai do gol” estava no estádio do Pacaembu, a transmissão apenas no seu início e o grande Silvério, que muito já viu, viveu e narrou, não segurou as lágrimas quando o Guarani, rebaixado no Campeonato Paulista, pisou no gramado para enfrentar o Palmeiras.

Campeão brasileiro de 1978, o Bugre provavelmente foi a maior força que o interior já produziu. Por lá, jogadores do calibre de Careca, Djalminha, Zenon e Luizão demonstraram todo seu futebol. A equipe era uma fábrica de craques, temida por todos e, provavelmente, achou que esse cenário seria eterno. Atualmente, vive o amargo gosto do nono rebaixamento em 12 anos, está na Série C do Campeonato Brasileiro e tem em seu cotidiano boatos de que irá fechar seu departamento de futebol. A angústia de talvez nunca mais poder narrar uma partida do bugre levou José Silvério as lágrimas.

Sem títulos igualmente expressivos, mas tão tradicional quanto o clube campineiro, o Clube Atlético Juventus, da inigualável Mooca, vive situação semelhante. Antes conhecido como “moleque travesso”, graças às vitórias conquistadas diante dos grandes clubes de São Paulo, o Juventus amargou em 2013 mais uma queda para a Série A3 do Campeonato Paulista. Aliás, desde 2008 a equipe não sabe o que é integrar a elite do estadual.

Diante desta situação, as especulações sobre uma possível venda do estádio Conde Rodolfo Crespi, a Rua Javari, um santuário do futebol, local que deveria ser considerado patrimônio histórico da bola, são constantes. Também dizem que o lendário estádio pode dar espaço para uma moderna arena, forma como as canchas passaram a ser chamadas no cada vez mais moderno futebol.

Aliás, é de uma faixa da torcida juventina que saiu a inspiração para o título do texto. Na Javari, o único ódio nutrido é aquele ao futebol moderno. Algo bonito na teoria, mas cada vez mais temeroso na prática. A grande verdade é que o futebol moderno venceu e quem não se adequar a ele, está fadado a buscar os louros da vitória apenas em sua memória.

Guarani e Juventus são casos clássicos disso tudo. Os dois clubes pararam no tempo e acomodaram-se na falsa sensação de que sua força era eterna. Enquanto isso, o futebol foi mudando. A palavra “planejamento” virou mantra, “continuidade” um mandamento e profissionalismo algo imprescindível.

A situação das duas equipes não é única. Por todo o país, o que não faltam são exemplos de “Guaranis e Juventus”. A transição do futebol tradicional para o moderno não é fácil, principalmente para quem não dispõe de grande verba. O caminho é árduo, sinuoso, mas não impossível. Um exemplo disso é o Clube Atlético Penapolense. Seguindo o manual de bons costumes do futebol moderno, a equipe de Penápolis soma acessos consecutivos e está muito próxima de conseguir uma vaga na segunda fase do Campeonato Paulista, que, aliás, é o primeiro de sua história.

Resta-nos torcer para que todas as tradicionais equipes consigam entrar no trilho que anda guiado os caminhos do esporte mais popular do mundo. Que o ódio ao futebol moderno seja deixado de lado por alguns instantes, afinal, quem nunca ouviu a velha frase que dizia: “se não pode vencer seu inimigo, junte-se a ele”?

Aqui, toda a emoção do Pai do Gol.

* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

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