quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sobre o futebol de verdade

Eu sou saudosista. Sou do tempo em que um jogador de 17 anos não tinha cinco ou seis aspones, não usava medalhão no pescoço ou boné de aba reta, nem andava com caixas de som portáteis tocando "músicas" com todas as aspas possíveis, mas impossíveis de ouvir; as Marias-Chuteira eram balzaquianas e não menininhas estimuladas pelos pais. 

Os comentaristas eram jornalistas de verdade ou craques indiscutivelmente preparados, como o Mário Sérgio Pontes de Paiva, craque dentro e gênio fora de campo. As torcidas não eram infestadas de marginais e, quando brigavam, o faziam no braço. Discutíamos um craque na mesa do bar, não no Facebook, baseados nos dados da wikipedia ou pelos atributos reais de um Football Manager

Hoje virou business, show-biz. Mero entretenimento tipo-exportação. E é o dinheiro da TV quem determina quem será ou não campeão. É um esporte parecido com futebol, no qual Manchester City, PSG e Chelsea são grandes, e compraram tal grandeza no supermercado. Os craques eram forjados na guerra-santa dos gramados, não pela interferência de agentes e pseudo-jornalistas vendáveis e imprestáveis. 

Gosto do futebol produzido pela sola grossa do pé descalço. Do pé nu de um Zico. Ou Sócrates. Ou Careca. Ou Enéas. Ou Dener. Em vez do pé desnudo, chuteiras coloridas, florescentes; no lugar do xingamento, do desabafo, do soco no ar, corações com as mãos e dancinhas. E cabelos estranhos. E meninas histéricas. E namoradas atrizes.

Craque de verdade
Particularmente, divido o futebol em dois: o brasileiro, que é meu trabalho e apenas isso, exceto quando a Portuguesa está em campo, e o português, que tem meu Benfica, que vive do dinheiro dos próprios associados. Isso sim é grandeza. 

Grandeza que foi demonstrada hoje pelo gigante, monumental, Borussia Dortmund, que teve, como bem disse o pessoal da Trivela (um respiro de futebol nessa cobertura pasteurizada, quadrada e chata que vemos por aí), colhões para vencer o Málaga, mais um desses novos-ricos que viraram potência do nada. A grandeza de um time que se faz enorme pela sua organização e pelo arrojo de um Jürgen Klopp, que não tem mídia puxando o saco, mas tem o que o futebol de verdade tinha, tem e sempre terá: colhões. 


COLHÕES O excelente Klopp, do Borussia Dortmund (DDP)

1 comentário:

Caio Calazans disse...

Belo Texto, Marcos. Eu não tinha lido ainda. O saudosismo a gente pode discutir qualquer dia tomando uma gelada. Eu penso um pouco diferente. Porém, a qualidade do seu escrito é evidente. E o Borussia Dortmund é o Corinthians (do ano passado) da Liga dos Campeões. E o Real Madrid que retire o salto alto, senão...