quinta-feira, 16 de abril de 2009

O torpor do poder

Eu quero trabalhar na TV! Tenho um motivo fortíssimo para isso: poucos meios de comunicação são tão poderosos quanto a TV. Ela está em quase todos os lares do país. Não é raro, inclusive, haver mais de um aparelho na mesma casa. Ela é tão forte que substituiu até as conversas em família após o jantar. Ai de quem ousar "abrir a boca" durante o jornal ou a novela.

Falando em novela, é ela quem dita nossos costumes. Um bordão criado para algum personagem espalha-se mais rapidamente que fogo em folha seca. Como ela - a novela - é transmitida no horário mais acessível para a massa trabalhadora, tende a influenciar na maneira de vestir, de falar, do quê comprar e - o mais perigoso - no quê pensar.


Não que "pão-e-circo" sejam desnecessáriom, mas a mudança de foco é a força que mantém os mesmos nomes e partidos no poder. Durante o regime Salazarista, em Portugal, só pra mostrar que tal "privilégio" não é só nosso, cultivou-se a instituição dos "três Fs". Consistia em dar ao povo fado, futebol e Fátima. Nada mais seria preciso. Tudo em nome do poder.




O poder. Ah, o poder, esse entorpecente! Por causa dele mudamos até nossas convicções, nossas ideias. Veja o governo atual como exemplo: lutaram contra a ditadura militar, foram torturados, exilados, viram companheiros tombarem e hoje querem cercear a liberdade de imprensa, tentando aprovar uma lei que obriga os jornalistas a revelarem suas fontes.

Inclusive, a relação existente entre a TV e o governo beira a promiscuidade. Para ter uma ideia, no Maranhão, a concessão da emissora que retransmite a programação da TV Globo está nas mãos da Família Sarney, não por acaso no poder já na sua segunda geração. Não sou capaz de ver, em casos assim, o menor resquício de independência editorial.


É por isso que eu quero trabalhar na TV. Quero sentir o torpor que o poder proporciona a quem o sorve. Afinal, se os políticos, que têm toda uma história de lutas, podem, por que eu, que não tenho nenhum compromisso firmado com o meu passado, não?

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