* por Humberto Pereira da Silva
Ontem vi Milan e Manchester United, pela Copa dos Campeões. A presença de Ronadinho foi aguardada, depois de boa atuação na rodada de final de semana do italiano, na vitória do Milan sobre a Udinese. Os primeiros dez minutos do jogo foram para quem guarda na lembrança as atuações de Ronaldinho nos tempos de Barcelona, quando foi eleito duas vezes melhor do mundo e, para gente como Tostão, estaria abaixo de Pelé, mas acima de Maradona. Choveram perguntas dos torcedores sobre o ausência de Ronaldinho na lista de Dunga para o próximo amistoso da seleção. O comentarista da ESPN, Paulo Vinícius Coelho, encantado, fez comentários como: "em nível de genialidade pura, não tem como não levar Ronaldinho para a Copa". Para o PVC, se arrebentar na Copa dos Campeões, Dunga não suportaria a pressão e teria de levar Ronaldinho para a Copa.
Passados os dez minutos iniciais, o Manchester foi aos poucos tomando as rédeas da partida. Começou perdendo, gol de Ronaldinho aos 3 minutos, no segundo tempo virou para 3 a 1 e colocou o Milan em situação difícil na Copa dos Campeões. Nessa altura do jogo, Ronaldinho Gaúcho tinha sua atuação posta em xeque por torcedores com seus e-mails para a ESPN e pelo próprio Paulo Vinícius Coelho. Faltando menos de dez minutos para terminar o jogo, Ronaldinho dá um passe milimétrico para Seedorf marcar o segundo gol do Milan; dois ou três minutos depois, um novo passe genial para Inzagui, mas o atacante perdeu o gol e o Milan saiu derrotado por 3 a 2.
Há uma frase do PVC que merece refleção: "Ronaldinho em estado puro de genialidade". Parece que PVC, sem querer, ou com uma frase expontânea, disse muito mais do que imagina sobre Ronaldinho Gaúcho. Como, afinal, entender o significado de "estado puro de genialidade"? Nessa mesma Copa dos Campeões, vi em Madrid a partida entre Milan e Real Madrid. Ronaldinho está no meio do campo, a bola chega na direção de seu peito e, aquilo que PVC, talvez, chame de "genialidade pura": a bola cola no peito de Ronaldinho, que está entre três marcadores madrilenhos. Os três ficam como bobos tentando em vão encontrar uma bola que apenas a Ronaldinho pertence. A humilhação é mitigada com uma entrada dura de um dos madrilenhos.
Pois é, no meio de campo, numa jogada isolada, talvez sem muitas consequências para o jogo, Ronaldinho faz aquilo que apenas os gênios fizeram. Como futebol é alimentado por paixões, na paixão não há como dizer que Tostão estaria enganado. E, de fato, é esse ingrediente de paixão que alimenta muito do que se fala sobre o futebol de Ronaldinho Gaúcho. Mas voltemos ao jogo de ontem. O Milan perdeu em Milão e corre grande risco de fazer seu último jogo na Copa dos Campeões em Manchester. Ronaldinho, portanto, teria só mais um jogo para provar que merece ser convocado para a Copa de 2010.
Estranha - no fundo misteriosa - ironia pela qual passa um jogador genial: futebol, um esporte coletivo, e um jogador, individualmente, participa de uma partida como se ele fosse a partida. Não é que ele tem que provar, é que no eventual insucesso do Milan em Manchester, e Ronaldinho será o "perdedor". A estranha ou misteriosa pergunta, é: por que quem faz o que Ronaldinho faz com a bola tem que provar alguma coisa sobre sua genialidade em estado puro? Seria culpa de Ronaldinho a desatenção da defesa do Milan, que não marcou como deveria o Rooney? Seus três ou quatro lances geniais não propiciariam uma vitória do Milan por dois ou três gols, que praticamente garantiria a ida dos milaneses para a próxima fase da Copa dos Campeões? Numa Copa do Mundo, duas ou três jogadas geniais não são suficientes? Não foi isso que Zidane fez em 98?
É, mais é isso que os aficcionados por Ronaldinho precisam ser sempre lembrados, inclusive PVC, de boa memória. A primeira competição em que se esperava os lances de pura genialidade de Ronaldinho Gaúcho foi a Copa das Confederações de 99: artilheiro e eleito melhor jogador do torneio, essa genialidade não apareceu na final, como agradeceram os mexicanos. A mais recente competição para Ronaldinho Gaúcho desfilar sua genialidade, sem que se precise de memória de PVC, foi em Pequim, na Olimpíada passada. O cume, como bem sabemos todos, foi a Copa de 2006. E é nesse ponto que o mistério Ronaldinho fica realmente engimaticamente misterioso. Por que sua genialidade em estado puro não aparece quando dele não se espera senão genialidade?
Dunga parece ser bem mais racional e disciplinador que movido por paixões. Quer novamente desmentir os que nele não acreditam e, como técnico, falar o que falou em 94, campeão do mundo: "Esse título é pras vocês, seus traíras". Acho, imagino, que Dunga é suficientemente lúcido para saber que o caminho mais curto para jogar na cara de seus desafetos suas virtudes é contar numa Copa do Mundo com um jogador genial. Pragmático, Dunga quer ver em campo jogador de futebol e não ficar com historinhas sobre festinhas em Milão ou não. Mas, justamente por ser disciplinador e pragmático, Dunga que contar com um jogador genial e não com uma promessa ou quem na hora H não foi o que se esperava.
O enigma Ronaldinho parece ter sido bem expresso na frase meio espontânea de PVC: "Ronaldinho em estado puro de genialidade". Na frase de PVC se subentende que há um Ronaldinho que em certos momentos é genial; mais, embora PVC não tenha deixado explícito, não vamos pensar que a genialidade de Ronaldinho ocorra quando esperamos que ocorra; na frase de PVC há uma torcida, um apelo às paixões, para que essa genialidade em estado puro ocorra em plena Copa do Mundo. Mesmo que não tenha ocorrido em outros momentos em que a esperávamos, não vamos perder a fé. Para um gênio, os caminhos não são os dos reles mortais e Ronaldinho pode fazer da Copa de 2010 o momento para eternizar seu nome na galeria dos imortais.
Essa é a torcida embutida na frase de PVC; essa também é minha torcida. Mas Dunga é pragmático, disciplinador, racional e não quer repetir 2006, quando sob pressão Parreira levou Ronaldo sem condições físicas. Dunga não quer levar Ronaldinho sob pressão. Mais, racionalmente, ou estatisticamente, Dunga sabe do risco que é levar Ronaldinho, que jamais mostrou genialidade em estado puro na seleção (um ou outro lampejo no meio de campo, para não exagerar). PVC percebeu bem o enigma Ronaldinho, mas sua percepção só pode ser levada em conta quando se considera que ele expressa uma grande dose de paixão, uma torcida para ver na Copa um "Ronaldinho em estado puro..." PVC também organiza seus comentários com tabelas, estatísticas, dados de memória. Levasse ao pé da letra sua frase, teria a mesma posição de Dunga: é arriscado levar Ronaldinho Gaúcho para a Copa 2010.
Eu sou um torcedor, só um torcedor, e por isso torço para ver Ronaldinho Gaúcho na Copa. Assim torci para ver Ronaldo em 2006, Romário em 98...; se a genialidade aparecer, como muitos experimentarei a história e contarei aos meus netos que vi um gênio desfilar pelos campos sulafricanos; se não aparecer, esse é um problema que o Dunga terá de explicar, que os comentaristas esportivos terão de explicar: ora, que significa "genialidade em estado puro"? Lampejos? Ronaldinho é um gênio. Alguém em que todos olhem e digam que ficarão para a história por terem estado ao seu lado ou terem-no por adversário? Até hoje esse gênio não responde na seleção brasileira pelo nome de Ronaldo de Assis Moreira.
Passados os dez minutos iniciais, o Manchester foi aos poucos tomando as rédeas da partida. Começou perdendo, gol de Ronaldinho aos 3 minutos, no segundo tempo virou para 3 a 1 e colocou o Milan em situação difícil na Copa dos Campeões. Nessa altura do jogo, Ronaldinho Gaúcho tinha sua atuação posta em xeque por torcedores com seus e-mails para a ESPN e pelo próprio Paulo Vinícius Coelho. Faltando menos de dez minutos para terminar o jogo, Ronaldinho dá um passe milimétrico para Seedorf marcar o segundo gol do Milan; dois ou três minutos depois, um novo passe genial para Inzagui, mas o atacante perdeu o gol e o Milan saiu derrotado por 3 a 2.
Há uma frase do PVC que merece refleção: "Ronaldinho em estado puro de genialidade". Parece que PVC, sem querer, ou com uma frase expontânea, disse muito mais do que imagina sobre Ronaldinho Gaúcho. Como, afinal, entender o significado de "estado puro de genialidade"? Nessa mesma Copa dos Campeões, vi em Madrid a partida entre Milan e Real Madrid. Ronaldinho está no meio do campo, a bola chega na direção de seu peito e, aquilo que PVC, talvez, chame de "genialidade pura": a bola cola no peito de Ronaldinho, que está entre três marcadores madrilenhos. Os três ficam como bobos tentando em vão encontrar uma bola que apenas a Ronaldinho pertence. A humilhação é mitigada com uma entrada dura de um dos madrilenhos.
Pois é, no meio de campo, numa jogada isolada, talvez sem muitas consequências para o jogo, Ronaldinho faz aquilo que apenas os gênios fizeram. Como futebol é alimentado por paixões, na paixão não há como dizer que Tostão estaria enganado. E, de fato, é esse ingrediente de paixão que alimenta muito do que se fala sobre o futebol de Ronaldinho Gaúcho. Mas voltemos ao jogo de ontem. O Milan perdeu em Milão e corre grande risco de fazer seu último jogo na Copa dos Campeões em Manchester. Ronaldinho, portanto, teria só mais um jogo para provar que merece ser convocado para a Copa de 2010.
Estranha - no fundo misteriosa - ironia pela qual passa um jogador genial: futebol, um esporte coletivo, e um jogador, individualmente, participa de uma partida como se ele fosse a partida. Não é que ele tem que provar, é que no eventual insucesso do Milan em Manchester, e Ronaldinho será o "perdedor". A estranha ou misteriosa pergunta, é: por que quem faz o que Ronaldinho faz com a bola tem que provar alguma coisa sobre sua genialidade em estado puro? Seria culpa de Ronaldinho a desatenção da defesa do Milan, que não marcou como deveria o Rooney? Seus três ou quatro lances geniais não propiciariam uma vitória do Milan por dois ou três gols, que praticamente garantiria a ida dos milaneses para a próxima fase da Copa dos Campeões? Numa Copa do Mundo, duas ou três jogadas geniais não são suficientes? Não foi isso que Zidane fez em 98?
É, mais é isso que os aficcionados por Ronaldinho precisam ser sempre lembrados, inclusive PVC, de boa memória. A primeira competição em que se esperava os lances de pura genialidade de Ronaldinho Gaúcho foi a Copa das Confederações de 99: artilheiro e eleito melhor jogador do torneio, essa genialidade não apareceu na final, como agradeceram os mexicanos. A mais recente competição para Ronaldinho Gaúcho desfilar sua genialidade, sem que se precise de memória de PVC, foi em Pequim, na Olimpíada passada. O cume, como bem sabemos todos, foi a Copa de 2006. E é nesse ponto que o mistério Ronaldinho fica realmente engimaticamente misterioso. Por que sua genialidade em estado puro não aparece quando dele não se espera senão genialidade?
Dunga parece ser bem mais racional e disciplinador que movido por paixões. Quer novamente desmentir os que nele não acreditam e, como técnico, falar o que falou em 94, campeão do mundo: "Esse título é pras vocês, seus traíras". Acho, imagino, que Dunga é suficientemente lúcido para saber que o caminho mais curto para jogar na cara de seus desafetos suas virtudes é contar numa Copa do Mundo com um jogador genial. Pragmático, Dunga quer ver em campo jogador de futebol e não ficar com historinhas sobre festinhas em Milão ou não. Mas, justamente por ser disciplinador e pragmático, Dunga que contar com um jogador genial e não com uma promessa ou quem na hora H não foi o que se esperava.
O enigma Ronaldinho parece ter sido bem expresso na frase meio espontânea de PVC: "Ronaldinho em estado puro de genialidade". Na frase de PVC se subentende que há um Ronaldinho que em certos momentos é genial; mais, embora PVC não tenha deixado explícito, não vamos pensar que a genialidade de Ronaldinho ocorra quando esperamos que ocorra; na frase de PVC há uma torcida, um apelo às paixões, para que essa genialidade em estado puro ocorra em plena Copa do Mundo. Mesmo que não tenha ocorrido em outros momentos em que a esperávamos, não vamos perder a fé. Para um gênio, os caminhos não são os dos reles mortais e Ronaldinho pode fazer da Copa de 2010 o momento para eternizar seu nome na galeria dos imortais.
Essa é a torcida embutida na frase de PVC; essa também é minha torcida. Mas Dunga é pragmático, disciplinador, racional e não quer repetir 2006, quando sob pressão Parreira levou Ronaldo sem condições físicas. Dunga não quer levar Ronaldinho sob pressão. Mais, racionalmente, ou estatisticamente, Dunga sabe do risco que é levar Ronaldinho, que jamais mostrou genialidade em estado puro na seleção (um ou outro lampejo no meio de campo, para não exagerar). PVC percebeu bem o enigma Ronaldinho, mas sua percepção só pode ser levada em conta quando se considera que ele expressa uma grande dose de paixão, uma torcida para ver na Copa um "Ronaldinho em estado puro..." PVC também organiza seus comentários com tabelas, estatísticas, dados de memória. Levasse ao pé da letra sua frase, teria a mesma posição de Dunga: é arriscado levar Ronaldinho Gaúcho para a Copa 2010.
Eu sou um torcedor, só um torcedor, e por isso torço para ver Ronaldinho Gaúcho na Copa. Assim torci para ver Ronaldo em 2006, Romário em 98...; se a genialidade aparecer, como muitos experimentarei a história e contarei aos meus netos que vi um gênio desfilar pelos campos sulafricanos; se não aparecer, esse é um problema que o Dunga terá de explicar, que os comentaristas esportivos terão de explicar: ora, que significa "genialidade em estado puro"? Lampejos? Ronaldinho é um gênio. Alguém em que todos olhem e digam que ficarão para a história por terem estado ao seu lado ou terem-no por adversário? Até hoje esse gênio não responde na seleção brasileira pelo nome de Ronaldo de Assis Moreira.
*Humberto Pereira da Silva, 46 anos, é professor
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa
Sem comentários:
Enviar um comentário