Somos prisioneiros do tempo. Todos nós. É estranha a nossa relação com ele. Desde cedo jogamos contra o relógio, exceto na dita primeira infância, já que, crianças que somos, não temos preocupação alguma, a não ser a de brincar. Deliciosamente despudorados, não nos interessa o que os outros pensam.
A partir daí queremos que ele, o tempo, passe logo para que sejamos tratados de forma diferente. Queremos ser adultos. Os primeiros fios de bigode, então, são um prêmio, valem ouro. Ridiculamente cultivados até que percebamos que não passam de uma tentativa de parecermos mais velhos, apesar do atestado de adolescente recém "pós-imberbe". Logo, o primeiro barbear é um momento solene: aquele monte de espuma para tirar meia dúzia de três ou quatro pêlos mal e porcamente distribuídos (uma ova! espalhados, isso sim) pelo rosto é algo inesquecível.
A tão esperada fase adulta vem acompanhada das cobranças, das responsabilidades. Ah, que saudade do colo da mãe, da proteção do pai, essas dádivas desprezadas na arrogância da adolescência. Daríamos nossas almas pela paz que passou-nos despercebida no tempo.
A segurança e a serenidade da experiência chegam com o rarear dos cabelos, do ar que nos foge de repente. Vai-se o vigor, vem o cansaço, que pode ser dosado graças à vivência. Somos obrigados a ser safos, pois disto depende nossa própria sobrevivência.
Ele, o tempo, dá com uma mão e tira com a outra. E é nesta maldosa benevolência que trilhamos o caminho que resolvemos seguir. No final do curso o sucesso dependerá da sabedoria amealhada e a forma de como fora empregada.
Ah, o tempo. Tudo gira em torno dele. O tic-tac indelével que nos faz olhar o mundo com os olhos da alma. Quando os olhos falharem, será o coração quem dirá se valeu a pena ou não. E este dia, leitores, virá. Cedo ou tarde. E só o tempo é quem dirá quando.
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