*por Vinicius Carrilho
A temporada do futebol brasileiro está apenas no começo. Por
todo o país, estaduais mal planejados e de baixíssimo nível técnico começam a
se arrastar para sua fase final. É verdade que dentro das quatro linhas
praticamente nada de importante aconteceu neste começo de ano, porém, a emoção
de José Silvério, ao vivo, no último domingo, deve ser considerada como um
ponto para reflexão.
O “Pai do gol” estava no estádio do Pacaembu, a transmissão
apenas no seu início e o grande Silvério, que muito já viu, viveu e narrou, não
segurou as lágrimas quando o Guarani, rebaixado no Campeonato Paulista, pisou
no gramado para enfrentar o Palmeiras.
Campeão brasileiro de 1978, o Bugre provavelmente foi a
maior força que o interior já produziu. Por lá, jogadores do calibre de Careca,
Djalminha, Zenon e Luizão demonstraram todo seu futebol. A equipe era uma
fábrica de craques, temida por todos e, provavelmente, achou que esse cenário
seria eterno. Atualmente, vive o amargo gosto do nono rebaixamento em 12 anos,
está na Série C do Campeonato Brasileiro e tem em seu cotidiano boatos de que
irá fechar seu departamento de futebol. A angústia de talvez nunca mais poder
narrar uma partida do bugre levou José Silvério as lágrimas.
Sem títulos igualmente expressivos, mas tão tradicional
quanto o clube campineiro, o Clube Atlético Juventus, da inigualável Mooca,
vive situação semelhante. Antes conhecido como “moleque travesso”, graças às
vitórias conquistadas diante dos grandes clubes de São Paulo, o Juventus
amargou em 2013 mais uma queda para a Série A3 do Campeonato Paulista. Aliás,
desde 2008 a
equipe não sabe o que é integrar a elite do estadual.
Diante desta situação, as especulações sobre uma possível
venda do estádio Conde Rodolfo Crespi, a Rua Javari, um santuário do futebol,
local que deveria ser considerado patrimônio histórico da bola, são constantes.
Também dizem que o lendário estádio pode dar espaço para uma moderna arena,
forma como as canchas passaram a ser chamadas no cada vez mais moderno futebol.
Aliás, é de uma faixa da torcida juventina que saiu a
inspiração para o título do texto. Na Javari, o único ódio nutrido é aquele ao
futebol moderno. Algo bonito na teoria, mas cada vez mais temeroso na prática.
A grande verdade é que o futebol moderno venceu e quem não se adequar a ele,
está fadado a buscar os louros da vitória apenas em sua memória.
Guarani e Juventus são casos clássicos disso tudo. Os dois
clubes pararam no tempo e acomodaram-se na falsa sensação de que sua força era
eterna. Enquanto isso, o futebol foi mudando. A palavra “planejamento” virou
mantra, “continuidade” um mandamento e profissionalismo algo imprescindível.
A situação das duas equipes não é única. Por todo o país, o
que não faltam são exemplos de “Guaranis e Juventus”. A transição do futebol
tradicional para o moderno não é fácil, principalmente para quem não dispõe de
grande verba. O caminho é árduo, sinuoso, mas não impossível. Um exemplo disso
é o Clube Atlético Penapolense. Seguindo o manual de bons costumes do futebol
moderno, a equipe de Penápolis soma acessos consecutivos e está muito próxima
de conseguir uma vaga na segunda fase do Campeonato Paulista, que, aliás, é o
primeiro de sua história.
Resta-nos torcer para que todas as tradicionais equipes
consigam entrar no trilho que anda guiado os caminhos do esporte mais popular
do mundo. Que o ódio ao futebol moderno seja deixado de lado por alguns
instantes, afinal, quem nunca ouviu a velha frase que dizia: “se não pode
vencer seu inimigo, junte-se a ele”?
Aqui, toda a emoção do Pai do Gol.
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
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