por Vinicius Carrilho*
A vida é um eterno ciclo de erros e acertos. Por melhor que seja a intenção, todos nós, em algum momento, cometemos erros. Aliás, há quem acredite que durante toda a nossa existência, mais erramos do que acertamos e esta é uma regra vital que atinge a todos, dos gênios ou relés mortais.
Em 09 de julho de 2006, um domingo, sua comum e encantadora genialidade deu lugar a um desconhecido e assustador gênio forte. Ao invés de mais um inacreditável lance de habilidade com os pés, aos 05 minutos do tempo extra da final da Copa do Mundo da Alemanha, diante da Itália, Zidane desferiu uma inimaginável cabeçada em Marco Materazzi. Houve justificativa para aquilo, assim como aconteceu um posterior pedido de perdão, mas naquele momento, em seu gran finale, Zidane saia de cena, no fechar das cortinas de sua carreira, sendo expulso do espetáculo. Logo ele, um gênio, que tanto acertou e que tantas vezes deve ter sido convidado para mostrar mais um pouco de sua arte, naquele momento era convidado a se retirar do seu habitat natural e por um erro exclusivamente seu.
* Vinicius Carrilho tem 24 anos, é jornalista, morador
de Osasco e gostaria de ganhar a vida fazendo
humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
SEGUNDA Zidane entra para o seleto grupo de campeões como jogador e treinador (Getty Images) |
Zinedine Zidane foi gênio em sua arte. Com uma elegância e simplicidade que só é possível ser executada com muita complexidade, o eterno camisa 5, digno da categoria de um 10, encantou o planeta com seu futebol durante mais de uma década. Merecedor de aplausos em grande parte do tempo, Zidane também errou e guardou o mais marcante deslize para aquele que seria, ao menos naquele instante, seu último grande ato no sagrado palco de grama verde.
TRISTE EPÍLOGO A despedida que ninguém queria (Peter Schols/AFP) |
É claro que aquele ato, completamente impensado pela mente que tantas vezes criou jogadas impensáveis, de forma alguma apagaria o que fez o francês ao longo de sua vitoriosa carreira. Porém, também é verdade que tudo o que foi feito não serviria de desculpa para excluir da história aquele erro. Além disso, o fato de ser aquele seu último grande ato, a última cena, o apagar das luzes, deixava a situação ainda mais triste e obscura.
Porém, o tempo, conhecido como o senhor da razão, haveria de agir e, com a calma que lhe é peculiar, cumpriu seu papel. Três mil seiscentos e sessenta e um dias depois, em território italiano, terra daquele que o levou ao maior erro de sua carreira, Zidane triunfava. Naquele sábado, 28 de maio de 2016, o francês não aparecia como a grande estrela da constelação, mas era o astro guia que comandava toda a órbita daquele Real Madrid, time que assumirá cinco meses antes, totalmente devastado pelo meteoro Rafa Benítez.
Na hora em que o pênalti batido por Cristiano Ronaldo ultrapassou a linha do gol defendido por Oblak, a história de Zidane se alterou, bem como a da França, nação pela qual ele errou, mas que também muito sorriu a suas custas. Ali, o país mais uma vez comemorava uma conquista ao ver seu primeiro técnico campeão da UEFA Champions League e ele era Zinedine Yazid Zidane, que também comemoraria no mesmo instante seu primeiro título como treinador.
Não, seu erro não foi apagado e, obviamente, jamais será. Mas, em sua biografia foi adicionada uma nova cena final, muito mais condizente com todo o restante da trama. O novo final, desta vez feliz, não foi uma alteração inescrupulosa de todo o enredo, mas sim um reparo histórico que Zidane merecia por tudo que fez. Ele, dono de uma elegância ímpar, não poderia, de forma alguma, ter em sua última cena um ato tão rude, típico dos brutos.
Quando aquela bola passou a linha, o último ato de Zinedine Zidane deixou de ser uma agressão na final do maior campeonato do mundo e passou para uma conquista, desta vez como treinador, do maior campeonato de clubes do planeta. O futebol, meus caros, não é justo, mas seus deuses parecem ser. Ainda bem para nós, ainda bem para Zidane, ainda bem para a história.NO LUGAR CERTO Zidane recuperou um time recheado de craques, mas desacreditado e desmoralizado sob o comando de Rafa Benitez (AP) |
* Vinicius Carrilho tem 24 anos, é jornalista, morador
de Osasco e gostaria de ganhar a vida fazendo
humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
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