por Leandro Marçal*
Sinto o mundo e o meu país se desmanchando e escorrendo pelo ralo. É como se entrássemos em um buraco negro sem fim ou tentássemos erguer as mãos em busca de socorro, enquanto afundamos em uma areia movediça criada por nós mesmos em nossa vaidade e ganância sem fim. Ganância essa que, na tentativa de diminuir custos, levou vidas, sonhos, destinos. Destroçou famílias e deu uma voadora na alma de quem não mora em Marte.
Inaceitável, revoltante. Nada será como antes. Não seremos as mesmas pessoas depois disso tudo. Sinto-me jogado em um liquidificador e ainda não processei isso tudo. Quem já passou pela terrível experiência da morte de pessoas próximas sabe bem a transformação sofrida na alma nesses momentos de necessária reinvenção interna. Dali em diante não seremos os mesmos, é impossível.
Sinto isso quando passo em frente à casa do meu queridíssimo amigo, sr. Ayrton, ao ver aquela minha foto de quimono ao lado do tio Manoel, quando os olhos de minha mãe se enchem feito água borbulhando ao contar histórias de meu vô Edezio ou me recordo dos últimos dias da tia Nice em cima de uma cama. Não fomos os mesmos depois dessas partidas.
Foi no fatídico 11 de setembro de 2001 que passei a entender melhor o quanto a vida é banal, frágil como meus ralos ralos de cabelo, muitas vezes nas mãos de quem não conhecemos e pouco se importam com nossa existência. Naquele dia chuvoso em que, ao passar da esquina, minha mãe resolveu que voltaríamos para casa e não haveria aula, entendi o quanto a violência e a maldade são traços inacreditáveis do ser humano (escrevi sobre isso aqui).
Mudei depois daquele trauma. Como sinto que não serei o mesmo depois desta semana pesada. Tão pesado e denso, nos fez lembrar o quanto a vida é triste, Sizenando (leia aqui).
A tão necessária e ignorada empatia não me deixa, ainda, passar batido por qualquer matéria, entrevista ou conteúdo referente aos atletas, comissão, dirigentes e jornalistas que nos deixaram, me sinto entorpecido. Já não faz sentido a última rodada ou a final pendente no calendário brasileiro. Só nos bastam as necessárias e lindas homenagens, bem como as demonstrações de mau-caratismo dos que se aproveitam de tão delicado momento para um país, para os humanos. Este 2016 precisa acabar logo, se é que deveria ter começado. Ano cruel, vilão, sádico. Em todos os campos e segmentos.
Nada mais será como antes: a cidade, o clube, o futebol, as viagens, as famílias, os torcedores, a cor verde, a Sul-americana, a Colômbia, o Brasil, o 29 de novembro, a mídia esportiva, o mundo esportivo, o riso, o choro, o Atlético (ah, o Atlético Nacional...). Eu. Nós.
Nada será como antes.
*Leandro Marçal é jornalista e tem 25 anos
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