Cara Placar, sou de uma geração que cresceu lendo suas
páginas. Eram tempos em que o futebol não era a teta que é hoje para ver na TV
e não havia internet, o que nos forçava a ser mais imaginativos e atentos às
leituras. Você, Placar, assim, foi a principal referência para os amantes de futebol
desde 1970, ano da primeira publicação – e do Tri da Seleção. Reconheço os acidentes
de percurso, as fases menos legais, como a do revistão dos anos 1990 sob o mote
Futebol, sexo e rock’n roll, mas que relação de tanto tempo está livre de
intempéries? Quem deu o furo de reportagem que detonou a Máfia da Loteria Esportiva tem crédito para errar. Foi em 22 de outubro de 1982, amada Placar. Até das datas mais importantes da gente eu me lembro.
No entanto, querida Placar, algumas pisadas na bola e
caneladas são mais difíceis de perdoar. Perdoei o revistão a partir de abril de 1995, os mascotes
redesenhados, matérias como A Primeira Transa dos Craques e até o saudoso Alex
Alves de cueca de crochê da CK, mas nada se compara à edição comemorativa de 10
anos da carreira de Neymar, na qual você o coloca como o maior jogador
brasileiro desde Pelé.
Este disparate, Placar, tem a precisão do pênalti batido na Lua pelo craque – sim, craque – em 2012, contra a Colômbia, ainda mais no momento em
que a imagem do jogador tem os arranhões causados ao longo destes 10 anos e que
ficaram evidentes no patético desempenho de seu novo protegido durante a Copa da Rússia.
Além do mais, desde que o Rei (a quem você sempre se referiu
como Ele, com inicial maiúscula, uma espécie de Deus da bola) parou, tivemos
jogadores maiores que o rapaz que veste a camisa do PSG, essa aí que estampa a
capa (podia ser a da Seleção, né?). E isso, me permito dizer, é indiscutível:
Ronaldo, Rivaldo, Bebeto, Romário, todos campeões do mundo pelo Brasil e em
seus clubes, sendo protagonistas, coisa que o Neymar, seu novo protegido, ainda
não foi. Como você pode esquecer Romário e Ronaldo, Placar? Quando você mudou
assim?
Neymar é um craque? Repito que sim. É o melhor jogador de
sua geração no Brasil? É, e é disparadamente, mas colocá-lo acima de quem fez muito
mais pela Seleção, ainda mais quando a imagem mais forte do Neymar é o papelão nos
campos da Rússia, é quase uma traição a quem te ama há tanto tempo.
Desculpe-me, revista Placar. Não é assim que
voltarei a te amar.
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