quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Guia prático para detecção de fake news



Um dos fenômenos da comunicação mundial que certamente será objeto de muitas teses, estudos e dores de cabeça na comunidade acadêmica por anos a fio é a propagação das fake news. Elas espalham feito fogo em palha seca simplesmente porque existe um público ávido por ouvir o que quer o que Aristóteles chamou de pathos em seus estudos sobre Retórica. Então, em muitas das vezes, basta a mensagem conter algo que determinado público almeja e voilà! Temos uma fake news prontinha para fazer seus estragos por aí.

Na manhã deste 03 de outubro, meu celular foi bombardeado por perguntas sobre um suposto pedido de falência da Portuguesa de Desportos graças à propagação de uma imagem bem chinfrim, que continha o distintivo luso, os principais títulos de futebol conquistados pelo clube e uma mensagem do tipo "Lusa decreta falência. Sentiremos sua falta". Obviamente, como pregava o jornalista Geneton Morais Neto(1956–2016), meu desconfiômetro jornalístico soou na hora. Quem decretou? Por quê? Onde? Por que não havia saído em veículo nenhum?

A resposta é fácil: é porque era mentira, oras! Fake news, como se convencionou falar de meses para cá. Felizmente, existem macetes para descobrir se a notícia é real ou tão falsa quanto a Grávida de Taubaté. E trago aqui um "Guia Prático Para a Detecção de Fake News".

Boa leitura (e use sem moderação)!

1) É bom demais para ser verdade? É tipo o Messi dizer que quer jogar no seu time ou algo que você gostaria muito que acontecesse?

Pegue o título e jogue no Google. Ou então digite algo como "Messi diz que quer jogar no Flamengo", se a notícia der o Rubro-Negro como desejo de consumo do jogador. se for verdade, todos os veículos repercutirão.

2) Verifique o texto. Tem erros de Português ou de pontuação? Tem como fonte alguém que pode ser qualquer um?

É natural a fonte ser protegida pelo jornalista, mas nem sempre o sigilo é real, ainda mais se tratar de alguém de forma genérica ou especialistas fictícios. Uma busca no Google pode resolver.

3) O texto responde as informações do lead (quem, o quê, quando, como, onde e por quê?

Quando não há data, o rumor pode ir e voltar diversas vezes como se fosse algo recente. A falta das outras informações básicas, como local ou ocasião, traz uma gigantesca chance e ser falsa a informação. Mesmo assim, algumas dessas informações podem ser falsas. Um evento que, na verdade nunca ocorreu, pode ser citado. Uma pesquisa rápida é eficaz para isso.

4) Vídeos e fotos rodam mais que notícia ruim no Whatsapp e nas outras redes de relacionamento. O vídeo é realmente da época em que é dito que ocorreu? A foto não foi manipulada? Tem foto do Flavio Bolsonaro com camisa ofendendo nordestinos rodando por ai até hoje e é falsa, como tem da Manuela d'Ávila atacando o Cristianismo. E que também, obviamente, é falsa.

Faça buscas em imagens. Certamente, a foto original será encontrada sem muito trabalho. O mesmo acontece no caso dos vídeos.

5) É um meme com uma frase desastrosa ou "lacradora"?

Se a frase foi dita mesmo, registros sérios e confiáveis podem ser encontrados. Não achou? Nem leve a sério. Clarice Lispector e Machado de Assis não falaram muitas das frases atribuídas a eles. Eu mesmo posso fazer um desses sobre qualquer pessoa e a qualquer momento.

6) Titulos bombásticos existem para atrair likes. Cuidado para ver se é real, se o conteúdo condiz com o teor da chamada. Muita gente lê só o título (e é por isso que esse tipo de mentira funciona).

7) Tem até link que leva à matéria! Olha só (mas olha só com muito cuidado)!

Tem mesmo? Compare a URL do link que recebeu com a URL do site usado para dar veracidade. Existem casos de cópias de diagramação das páginas inteiras, para confundir o incauto internauta. Tá diferente? Cai fora!

8) Veículos tradicionais não têm a notícia.

Não se enganem. Por mais que o Trump diga que a imprensa é inimiga do país (nem só ele, né?), fatos relevantes saem SIM nos grandes veículos, sejam eles de que viés forem. O que muda é o enfoque, mas o fato não é ignorado.

9) Como são os outros conteúdos do veículo?

É preciso estar atento ao tipo de conteúdo que o veículo publica. É um mentiroso contumaz? Desconfie. É satírico? Ria e compartilhe, caso queira, deixando claro que se trata de uma gozação, ou então não compartilhe para não ficar feio.

10) O mais fácil (e por isso deixei por último): pesquisar nos sites especializados em checagem de notícias, como o E-Farsas, o Boatos.org, o Fato ou Fake e o Aos Fatos. Ou o Lupa, meu favorito. 

No fim das contas, se a notícia despertar o mínimo de desconfiança, não publique, não compartilhe, não divulgue.

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