PODE ACREDITAR O Benfica volta às vitórias, mas precisa de mais para manter o troféu na Luz (Foto: Jose Coelho/ POOL / AFP) |
"Que sorte a minha!", diz a música de José Malhoa, no estilo "pimba", que é o que há de pior na música portuguesa e que combina com o baixíssimo nível do futebol praticado em Portugal. Este blog começa a crônica do Rio Ave 1-2 Benfica desejoso que o trecho citado em sua abertura possa ter passado à cabeça de Bruno Lage após virar um jogo praticamente perdido e encerrar uma sequência de quatro empates na Liga Nós.
"Que sorte a minha!", poderá ter pensado o mister ao ver que o Porto conseguiu empatar com o último colocado na véspera, dando a oportunidade ao Benfica de igualar-se em pontos ao líder do campeonato cujo vencedor não terá merecimento algum ao fazê-lo. Se dependesse somente das ideias de Lage, porém, não estaríamos falando de sorte, mas de mais um tropeço.
Tendo sido adjunto de Carlos Carvalhal na Inglaterra, Lage conhece o seu gosto por começar as construções ofensivas desde o campo de defesa. Assim, armou o Benfica diferentemente do habitual: Taarabt mais aberto à direita, Rafa espetado à esquerda e Dyego Sousa, lançado no 11 pela primeira vez, entre os zagueiros. Funcionaria, não fosse por dois detalhes: Gabriel errava todos os passes que tentava e Rafa, do alto de seu 1,71 metro, jogava de costas para a defesa.
Ainda assim, a estratégia manteve os nortenhos longe da remendada defesa encarnada, que não contava com Jardel e Grimaldo, machucados, e o suspenso André Almeida. Mas tinha Ferro. E foi o desastrado 97 a cometer a falta desnecessária que deu origem ao gol do Rio Ave, mais um de bola parada, curiosamente marcado pelo time que menos tentos faz desta forma entre os 18 da Liga.
"Que azar o meu!", terá dito Lage se formos pensar numa uniformização de discurso dos postulantes à taça, que nunca admitem erros e preferem responsabilizar a pandemia, a arbitragem, o não retorno de Don Sebastião, do raio que o parta, pelos maus resultados, muito embora o técnico benfiquista possa reclamar da equipe comandada por Luis Godinho, que não viu o puxão de camisa que Dyego Sousa sofreu antes de passar a bola de cabeça para o iraniano Taremi abrir os trabalhos.
A partir, daí, o Benfica se perdeu de vez. Desordenado, não conseguia trocar meia dúzia de passes seguidos no campo de ataque, nem pressionar a saída de bola dos adversários, tampouco fazê-la chegar à área, onde Dyego Sousa tinha, como único mérito, segurar dois defesas com ele.
Mas foi justamente o camisola 20, que substituía o artilheiro Carlos Vinicius, barrado pela terrível fase que atravessa, a estar no centro de outro lance polêmico, ainda na primeira parte, impedindo o empate quando, em impedimento, tentou alcançar a bola passada por Taarabt, o melhor benfiquista em campo (outra vez), na melhor jogada do primeiro tempo, que acabou no gol invalidado de Rafa Silva, numa das poucas ações em que houve um rompimento de linhas e o 27 pode aparecer de frente, na área.
Mas foi justamente o camisola 20, que substituía o artilheiro Carlos Vinicius, barrado pela terrível fase que atravessa, a estar no centro de outro lance polêmico, ainda na primeira parte, impedindo o empate quando, em impedimento, tentou alcançar a bola passada por Taarabt, o melhor benfiquista em campo (outra vez), na melhor jogada do primeiro tempo, que acabou no gol invalidado de Rafa Silva, numa das poucas ações em que houve um rompimento de linhas e o 27 pode aparecer de frente, na área.
Mas que sorte ter no banco o artilheiro da temporada passada, a quem tem sido dados poucos minutos em campo. Seferovic entrou no intervalo, acertou uma bola na trave, perdeu um gol feito, mas anotou o empate quando recebeu passe precioso de Nuno Tavares, aos 19 minutos, depois de boa tabela com Gabriel. Aos 17, o Rio Ave perdeu o volante Al Musrati por acúmulo de cartões. No mesmo momento, Taarabt deixou o campo sabe-se lá porque para Carlos Vinicius ser o segundo avançado na área, quando na verdade o problema, mais uma vez, era a falta de jogo na zona de criação.
O mesmo de sempre: a bola não circula por ser trabalhada por um time engessado e, mesmo em superioridade numérica, ainda estava exposto a sustos, como quando a bola bateu no braço de Ferro dentro da área, mas a arbitragem considerou ter sido um toque involuntário de um braço que não estava tão junto assim do corpo. Poderia ter sido marcado, mas que sorte a de Lage.
A sorte pode mascarar a falta de juízo de um treinador que viu seu time ter um jogador a mais e não conseguir transformar isso em hipóteses de gol; que demorou intermináveis oito minutos para reforçar a zona criativa estando com dois a mais, depois que Nuno Santos deu com a sola da chuteira no peito de Pizzi e que o VAR, desta vez com correção, avisou Godinho, que deu o vermelho direto ao 11 da casa.
Com Chiquinho no lugar de Gabriel, o Benfica passou a ter bola, criatividade e, com espaço no relvado, passou a rondar a meta de Kieszek, mesmo sem lá muita objetividade. E foi com Chiquinho que a equipe chegou duas vezes, pela direita. Na primeira, a cabeçada de Seferovic parou no goleiro; na segunda, surgiu o canto que Pizzi, em péssima jornada (novamente), colocou na medida na cabeça de Weigl, que jogava o mesmo de sempre, o que não é muito, mas marcou o gol da vitória benfiquista, seu primeiro pelo clube, seu primeiro de cabeça na carreira.
"Que sorte a minha!", poderá dizer Bruno Lage. Só se espera que ele saiba que não é todo dia que a sorte sorri e que o futebol apresentado tem sido tão ruim quanto a música de José Malhoa.
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