domingo, 21 de junho de 2009

A lógica do saco de batatas

A criação da Brasil Foods (BRF), empresa resultante da fusão entre Perdigão e Sadia, tem tido espaço considerável na mídia, seja ela impressa, digital ou eletrônica. A partir da fusão, o que eram duas empresas concorrentes passou a ser uma das gigantes do mundo no setor de alimentos industrializados.




Mas exatamente no quê esta fusão interfere no cotidiano do consumidor? Pode não parecer, mas é simples: com a dimensão que assumiu, a BRF passou a responder por uma parcela superlativa em todos os segmentos de mercado em que atuar, seja na produção de embutidos, massas ou laticínios. Em outras palavras, podemos estar diante de mais um monopólio, dentre os vários que se formaram através de outras fusões, como a AmBev ou a VPC/Aracruz.

Quem determinará se a união será válida será o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A questão é saber como o órgão irá julgar e quais suas exigências. No caso da mega cervejaria, ela teve que abrir mão de algumas das suas marcas de cerveja, para que não fosse caracterizado o monopólio. O problema, no caso da BRF, é que a generosa fatia de mercado que ela está abocanhando não é formada por marcas, mas por produtos.



Além do mais, um dos principais interessados é o presidente da Sadia, Luís Fernando Furlan, que foi ministro do Desenvolvimento no primeiro mandato do presidente Lula. Pode parecer leviano, mas em se tratando de Brasil... As manobras que antecederam outra fusão, a compra da Brasil Telecom por parte da Oi, com direito a leis concebidas “a toque de caixa”, apenas servem de alerta.

A cobertura da TV é insuficiente para esclarecer satisfatoriamente a população, pois apresenta a notícia fragmentada, e os programas que dão profundidade à discussão não alcançam um número considerável de espectadores devido ao horário em que são transmitidos. Ouve-se pouquíssimo rádio, na mesma proporção em que se procura os jornais, nas bancas, e o número de pessoas que acessam a internet para outros meios que não o lazer é ínfimo. Isso sem contar que a questão acaba pendendo pro lado do ufanismo, como se a empresa fosse “patrimônio nacional”, quando, na verdade, o país é que é solapado pelas multinacionais.

Por causa do pauperismo da cobertura midiática que alcança as massas, se formam opiniões superficiais. É a lógica do saco de batatas, onde as mais bonitas ficam por cima, e as que ficam encobertas mal servem para dar de comer aos porcos. Na briga entre o mar e o rochedo quem leva a pior é o marisco. E o marisco, no caso, pra variar, é o consumidor.

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