Imagine você ficar jogando pelo clube que ama e ser
correspondido. Imagine ganhar quase tudo que disputou. Imagine ter a
oportunidade de defender as cores do seu selecionado nacional numa Copa do
Mundo. Uma não! Duas. Ainda neste pensamento, imagine você ser respeitado por
tudo que você defende. E ainda não ser um dos melhores da sua posição, tanto
taticamente quanto ofensivamente.
Sei, caro leitor, parece estranho. Afinal, aonde quero
chegar? Em partida válida pelo play-offs para a fase de grupos da Liga Europa,
a esquadra da Inter de Milão fez a sua obrigação e deu passo importantíssimo
rumo à meta deste semestre, porém, mais do que isso, o embate marcou a 800ª
partida do capitão Javier Zanetti com a camisa da equipe.
O lateral-direito, de 39 anos, entrou em campo com uma
braçadeira personalizada com o número 800 em destaque. No clube
desde agosto de 1995, ele soma no currículo cinco Campeonatos Italianos, quatro
Copas da Itália, quatro Supercopas da Itália, uma Liga dos Campeões, um Mundial
de Clubes e uma Copa da Uefa entre os mais importantes títulos.
Agora, caro leitor, já sonhou pelo menos um minuto na vida
jogar ao menos um segundo no Giuseppe Meazza ou em qualquer outro estádio com a
sua segunda pele? Imagine, então, jogar oitocentas vezes com a mesma paixão,
intensidade e profissionalismo. Usando a cabeça e o coração que às vezes até se
perdeu em polêmicas e outras armadilhas do destino. Mas que poucas vezes perdeu
os jogos mais importantes, os títulos mais impressionantes.
Mas paro por aqui. Porque Zanetti não vai parar aí. Ele não
vai conseguir se contentar com tão pouco, digo, com "apenas" isto.
Ele é a representação de um ícone, uma pessoa a se espelhar. Um ídolo. E aos 39
anos, ele é um cara que amanhã fará todo o ritual de preparação para mais um
jogo que seria como outro qualquer. Concentração, aquecimento, uniforme,
chuteiras, preleção, subida ao gramado, bola rolando, uma disputa de bola, um
gol, uma reclamação, o apito final.
E Javier Zanetti voltará ao vestiário. E o Giuseppe Meazza
irá aguardar o 801. O 802. Sabe lá até quando. Só sei que, depois desta
partida, até quem não quer vê-lo pela frente vai querer olhar para trás e
lembrar os bons tempos de tantos primeiros e segundos tempos. Quando havia um
lateral, um cara, que defendia, atacava e apoiava, como poucos, e que soube
representar tão bem o amor por um clube de futebol.
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