* por Douglas Sato
Sei que o prólogo deste texto é meio antigo, mas creio que
será de muita valia para o que virá a seguir, caro leitor. No meio do segundo
tempo da final olímpica contra o México, quando eu ainda tinha esperanças e uma
pitada de fé de que o Brasil viraria o jogo e ganharia, finalmente, a
medalha de ouro, pensei comigo que ganhando ou perdendo o técnico Mano Menezes
devia deixar o comando da Seleção.
Meu principal argumento era de que o time, como tal, não
existia: não havia qualquer tipo de consistência, uma jogada ensaiada, o
time jogou a competição inteira com base nas jogadas individuais de seus
melhores atletas, nenhum gol ou lance derivado de trabalho de equipe. E isso,
como se viu, nem sempre resolve, mesmo contra times fracos, como era o caso do
México. Individualmente sim, mas como uma seleção, não.
Após a fatídica final, a crítica se dividiu. Há quem
concorde com a avaliação. Há quem ache que, bem ou mal, a equipe vem
evoluindo. E há ainda os que acham que não dá pra trocar simplesmente porque
não há outro para colocar no lugar.
Trocar de técnico no meio de um trabalho sempre é
complicado. Em alguns casos isso chega a ser desastroso. A Seleção Brasileira esta claramente no meio de um trabalho. Portanto, a substituição de
Mano Menezes, haja alguém melhor que ele ou não, só pode acontecer se ficar
claro que o trabalho não vai evoluir da forma que deveria, afinal, ainda não vi
aquela renovação, a não ser nos salários dos atletas. Mas, infelizmente, creio que a hora de trocar é agora, e não a um ano e meio para a Copa do Mundo.
A justificativa de esperar a Copa das Confederações para
tomar uma decisão me parece a mais erronia possível. Sei que é muito injusto
julgar Mano pela Olimpíada, na qual o time tinha limite de idade e a baixa
qualidade dos adversários não ajudou a preparar a equipe, mas o mesmo não pode ser
dito sobre a Copa América. Mano foi mal nas duas oportunidades em que teve o
time por algum tempo para treinar, relembrando que Dunga disputou três competições
e trouxe dois canecos para o então poderoso chefão Ricardo Teixeira.
Há quem cite o caso do campeão das Américas, o também gaúcho
Tite, no Corinthians. Ele ficou depois da eliminação para o Tolima, e ganhou
praticamente tudo o que veio depois. A diferença fundamental é que Tite comanda
um clube e o Mano, uma seleção. Tite tem um grupo que mudou pouco, o que Mano
até poderia ter, mas não faz questão de manter.
Um dos piores setores desta seleção é o defensivo. Sim, a
defesa. Nós até temos bons jogadores, mas a defesa de um time consiste em
treino, entrosamento. Além de proteção. É um sistema defensivo, não apenas os
quatro caras da linha de trás. Temos alguns zagueiros razoáveis, um Thiago
Silva que ainda é jovem para ser chamada de o melhor zagueiro do mundo. Ninguém
precisa de mais que isso para montar uma boa defesa. O Corinthians foi campeão
com Chicão, o Santos com Durval e o Palmeiras com Leandro Amaro.
O novo Ricardo Teixeira, José Maria Marin, garantiu que a
validade de trabalho de Mano Menezes é de quatro anos, mas a esta altura do
campeonato já era de se esperar que ele já tivesse definido um time e uma forma
de jogar. Mano teve dois anos para escolher entre três, quatro ou até cinco jogadores por posição, avaliar os que se destacaram e definir o esquema, ou os
esquemas, que melhor se enquadrem a eles. Porém, estamos na segunda
metade do ciclo de trabalho de Mano sem que isso já esteja definido.
Em tese, pode até ser que o trabalho de Mano chegue a ser
vencedor. Mas o problema é que precisa ficar claro que a primeira parte do
trabalho foi feita, concluída, o que não aconteceu até agora, caro leitor. Os
próximos amistosos da Seleção tem que servir, portanto, para Mano mostrar como
o time vai jogar, e como vai encaixar os jogadores neste time. Mesmo que perca
partidas, mesmo que aconteçam erros. Se ficar claro que há um princípio, há
tempo suficiente até a Copa de 2014 para o time ficar bom.
Se na Olimpíada isto não ficou claro, na vitória contra a
África do Sul também não. Mano mudou demais o time, inventou soluções mirabolantes
como Alex Sandro no meio e nas laterais. Diga-se de passagem, nem sei o ex-santista está fazendo na seleção. O Brasil acabou com um time perdido, sem saber o que fazer.
Mano, ao que demonstra, está com um grupo de jogadores jovens e sem espírito de
liderança – liderança, aliás, que o treinador também precisa mostrar, além de encontrar uma maneira de comandar o time que é a esperança de mais de 190 milhões de brasileiros em
2014, quando sediaremos o maior evento esportivo do mundo.
* Douglas Sato tem 23 anos, é músico e estudante de
Jornalismo
(nesta ordem) e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano.
(nesta ordem) e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano.
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