Nas festas de família, a tia Aurora sempre falava que era pra gente comer devagar, pois assim a festa duraria mais tempo. Mesmo nos tempos de maior dificuldade, o bom humor, assim como o amor, nunca nos faltou.
(Arquivo pessoal) |
Minha mãe, quando lutou contra um câncer no intestino, mantinha o seu intacto, imaculado. Dizia, no hospital, que estava de férias num spa. Sempre, claro, finalizando com uma sonora e deliciosa gargalhada. Apesar de todos os tombos que a vida lhe causou (e não foram poucos), o sorriso nunca lhe faltou. Não fosse por isso, por essa alegria, não sei se ela passaria pelo que passou.
A vida nos prega peças. Traz pessoas, as leva, outras nós deixamos pelo caminho, seja por necessidade ou por omissão, mas este é o andar natural deste andor que, por mais enfeitado que seja, carrega um santo de barro. Deve-se levá-lo com cuidado, sob pena de quebrar. Ainda assim, algumas flores caem. Sempre caem.
Meu pai, mesmo. É forte como um cavalo, teimoso feito uma mula e negligente como todos nós. Cuida de tudo e de todos, menos de si próprio. E em algum momento o tempo manda a fatura. Mas ele está pagando direitinho e, obviamente, terá muito andor pra carregar ainda.
É sempre assim. Temos que ter calma pra não faltar o ar. Pra não sobrecarregar o coração. Pra festa ser grande.
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