A nomeação do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD-SP) para a Secretaria das Micro e Pequenas Empresas, que tem status de Ministério (o 39º do Governo Federal), vai além da escolha do titular da pasta pelo seu conhecimento na matéria. O uso da chamada máquina administrativa e o loteamento de cargos dos diversos escalões são práticas comuns na política brasileira.
Afif era do PL (atual PR), que tinha ligações umbilicais com a Direita, e agora faz parte dos quadros do PSD, não o do JK, mas o de Kassab, que era do DEM, antigo PFL. O PFL, por sua vez, nasceu de uma dissidência do PDS, atual PP, insatisfeita com a indicação de Paulo Maluf para a disputa da sucessão do presidente Figueiredo. Sabe-se que o PDS herdou o espólio da Arena, o braço político do regime militar, contra quem a presidente Dilma Rousseff e seus correligionários lutaram.
O que está em discussão não é a competência de Afif para o cargo. A própria criação do ministério, que tem um orçamento anual de apenas R$ 100 milhões, o seu alcance e – por que não? – o seu propósito é que são discutíveis. A título de comparação, a fatia do bolo destinada ao Ministério da Saúde para o exercício de 2013 é de mais de R$ 5 bilhões, o que mostra que a nova pasta mais parece uma forma de atrair novos aliados, e é aí que entra o partido do ex-prefeito de São Paulo.
Criado sob o discurso de “não pertencer à Esquerda, Direita ou Centro”, o PSD é aliado do PSDB no governo do estado de São Paulo, o último dos territórios ainda impenetráveis para o PT. Então qual é a estratégia petista? Avançar sobre a base de sustentação do governo paulista, e, como já foi dito, o PSD é declaradamente simpático a alianças com quem está no comando.
O problema é que esta prática é a mesma que, em nome da “governabilidade” do país, tão defendida desde os tempos do presidente Lula, possibilita que nomes como os de José Sarney e Renan Calheiros continuem arrastando suas correntes pelos porões do Palácio do Planalto. Sarney e Renan são do PMDB, maior partido da base de sustentação do governo Dilma, como já foi com Lula, FHC e Itamar Franco.
Guilherme Afif, ao aceitar um cargo sem se desvincular do outro, passa a servir dois senhores. É lícito? Sim, é. É legítimo? Talvez seja. Agora, é moral? Não, não é, mas isso são outros quinhentos.
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