O seu Coriolano era um português bravo. E tinha uma quinta. Na quinta, seu Coriolano tinha uma cerejeira carregadinha e, de olho nela, meu pai e seus amigos, outros putos daquela Castelo de Paiva dos anos 1950.
Certa vez, meu pai chamou os outros rapazotes, todos com 11 ou 12 anos, se muito, para pegar as cerejas do seu Coriolano.
- Mas ó, Tinito, e se ele descobre?
- Ficai tranquilo, que ele está na venda pela manhã.
- Ah, então está bem! Amanhã vamos lá comer as cerejas.
No outro dia, logo cedo, lá foi o jovem Constantino à venda do senhor Coriolano.
- Senhor Coriolano, daqui a pouco os meninos da escola vão roubar suas cerejas.
- Escuta aqui, ó Tinito! Como sabes?
- Eu os ouvi a conversar após a aula.
- Ai, Jesus! Vou dar uma trepa nestes malandritos!
E lá foram eles: seu Coriolano, o filho dele e meu pai. E varas de marmelo. Na frente, meu pai apontou os outros miúdos já na copa da árvore.
- Ai, que estão uma delícia estas cerejas, ó, Quinzinho!
- Ah, é, Arthur! Estão pintadinhas!
De repente, a voz vinda lá de baixo, como o prenúncio do apocalipse para aqueles dois:
- Descei daí, malandritos!
- Ó, seu Coriolano, não bate na gente.
- Já falei: vós desceis daí, antes que seja pior.
- Zummmmm! Zummmm! Ai, não batei, ai, Jesus! Ai, estupor!
- Quero ver andar a roubar as cerejas agora,
Ao longe, meu pai ria com o êxito da empreitada.
- Obrigado, ó, Tinito! E levai uma cerejinhas pra ti. Olha que estão pintadinhas!
Assim fez a CBF. Através do "BID da suspensão" e do desmazelo na forma de lidar com os clubes, deixou Héverton liberado para jogar contra o Grêmio, para depois ela mesma denunciar. A traquinagem do meu pai, lá em Portugal, não tinha maldade alguma, mas não dá para dizer o mesmo sobre a entidade máxima do futebol nacional. E é isso o que ela terá que explicar ao Ministério Público.
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